DOURO JAZZ
Durante uma semana
kafkiana, submersa na ausência da cidadania, que espero sempre de retorno à
minha, e revivendo velhos fantasmas que julguei, ingenuamente, que já teriam
desaparecido, desmofizando certas instituições, utilizei o Jazz como relaxante
e terapia do retorno à vida saudável. Este ano tive oportunidade de assistir a
cinco espectáculos do Douro Jazz. Foi bom, carreguei “baterias” para um ano.
Destaque para Gume, Orquestra de Jazz do Douro e Tord Gustavsen Trio.
Gosto cada vez mais de
Jazz, porém, não é o meu estilo preferido de música. Eu sou mais da turma melosa
dos Blues, e do desconcertante Rock and Roll, mesmo assim, reconheço que ao
envelhecer vou dando mais espaço ao Jazz (sem abusar). O Jazz exige amadurecimento
e desprendimento. É preciso encontrar o ponto de equilíbrio em algo que parece
caótico e desordenado, é preciso sentir uma nova perspectiva do mundo,
relativizar as contradições deste e deixar-nos conduzir pela aquela onda sem
barco, nem maré, capaz de abrir todas as nossas janelas para novos horizontes
musicais e emocionais.
O Jazz é o tipo de
música mais livre que eu conheço, e não quer saber quem gosta ou não gosta –
atravessa o tempo simplesmente. O Jazz é para se aprender a gostar, apreciar o
improviso e encontrar-lhe encanto e rebeldia, mesmo assim teria preferido ouvir
o contrabaixo de William Parker, apenasmente. Sozinho é que ele brilharia!
Quando estou com uma
boa telha, os Blues confortam a minha tristeza e alimentam o meu mal-estar. O Jazz,
desvaloriza, e provoca uma boa conversa comigo mesma, e segreda-me ao ouvido, que
há muito mundo à minha espera. Semicerro o olhar e encontro por vezes o fio
condutor que me leva às minhas afro-raízes.
Aqueles estudos, sempre
duvidosos que lemos na net, dizem que a preferência musical revela a personalidade
da pessoa, e que os interesses musicais podem ir mudando consoante o passar do
tempo, coordenados com a alteração da nossa personalidade.
Greenberg, após alguma
investigação, criou uma tipificação entre música e personalidades e ao fim de
dois parágrafos de leitura, percebi que é como nos signos: dá sempre certo,
porque algumas palavras são enganadoras, especialmente quando atravessam mares
emocionais de águas profundas. Retive apenas o que me interessa e se identifica
comigo, indivídua do signo Peixes, que já não suporta a conversa do Moedas
sobre o 25 de Novembro e se indigna com a falta de rigor e discernimento de
Cravinho, que sempre considerei, neste ultimo “barraco” "sobre a “matança descontrolada”
de palestinianos em Gaza. Então, retive que os arquitectos oscilam entre a Clássica
e o Heavy Metal (intervalo mais abrangente penso que não existe), os advogados
ficam mais na World Music, os executivos e empresários no Hip Hop e o Jazz fica
para os comandantes não se sabendo do quê. Isto são estudos “rigorosos e científicos”
de 2015 e espera-se que em 8 anos, a análise dos resultados se tenha alterado,
porque não dispenso o meu Kuduro em situações de euforia e os meus Blues quando
preciso de mimo.
Publicado em NVR 18|10|2023
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