CENSURAZINHA À PORTUGUESA
Estamos a investir
numa sociedade de “tremeliques e não me toques”, em que uma frase mal-alinhavada,
um livro mal-interpretado, uma estátua mal-amanhada, um monumento histórico que
retrate uma época mais sombria, pode despertar alergias infinitas a alguns, que
tentam de forma agressiva, limitar a liberdade dos outros e esmagá-los.
Parece-me que isto
se chama censura. Não sei, acho eu. Censurazinha à portuguesa, talvez.
Eu e outros cidadãos
sensatos e tolerantes, tentamos contornar esta questão revelando mais respeito
pelos outros, do que os outros manifestam por nós, evitando comentar ou puxar o
assunto, porém, parece que temos de sair a terreiro, porque quem cala,
consente.
Quando em sítio
publico, tenho que falar, sinto-me muito limitada, inibida e preocupada, porque
posso involuntariamente ofender alguém, e criar uma guerra involuntária, com
homofobias, nudezes, racismos, pedofilias e outras coisas mais, sem intenção. A
mim podem-me chamar idiota e criminosa, quando nas rotundas não dou prioridade
à direita, mas em qualquer outra situação pacifica, tenho sempre que considerar
a hipersensibilidade do outro lado.
Eu respeito todos,
mesmo aqueles que me desagradam, porém, a História é a História e não se pode
apagar. A biologia é a biologia, por mais que alguns elementos da sociedade,
queiram alterar com questões sociais, ela é inalterável. E a moral e os bons
costumes, variam muito com o tempo, com a sociedade, com a cultura e com as
frustrações que habitam na cabeça de cada um. Discordar não significa ser
invasivo e impedir, pela violência, a opinião do outro.
Quantas estátuas
teríamos que derrubar devido à nudez? E o que me perturba a nudez? Nada! Irrita-me
pretenderem disfarçar a falsa moral, com os direitos da mulher. Isso
enfurece-me. A mulher, símbolo de fertilidade, beleza e inspiração, está bem e
recomenda-se em todas as obras de arte, e só as mulheres se poderão queixar.
Falta-nos uma Natália Correia, para responder à maneira, a Mários Claudios e
afins, como respondeu ao deputado Morgado (leiam sobre o coito do Morgado -
este ano comemora-se o centenário desta grande mulher). Rui Moreira perdeu o
discernimento! Dentro da Câmara Municipal do Porto, que visitei há 3 meses,
existem estátuas de mulheres nuas. Então ele nunca as viu?
A mesquinhez saiu à
rua!
Agora é o livro “No
meu bairro”, que nem me apetece ler, nem comprar, nem tenho opinião. Mas tenho
opinião sobre os livros da Enid Blyton: uma insanidade alterarem o texto. “De
uma coleção de mais de 700 livros escritos pela escritora britânica, vários
clássicos estão a ser mantidos em sigilo nas bibliotecas por “medo de ofender
os leitores”“. No tempo do Salazar também não se podia ler o Primo Basílio. E
os pais americanos que entendem que David, de Miguel Ângelo, é pornográfico?
Eles são livres de não olhar para ele, mas não podem condicionar os outros.
Para além da
diminuição do QI das novas gerações agarradas ao digital, parece-me haver um retrocesso
de mentalidades e civilizacional. Em vez
de se preocuparem com a mulher nua da estátua do Camilo, que no meu entender é
a única parte interessante naquele “torpedo”, poderiam lutar pelos privilégios
que as mulheres deveriam ter em todas as sociedades. Sim! privilégios, a
igualdade é um degrau inferior e eu já estou no degrau acima. Espantai-vos,
homens deste país! As mulheres deveriam ser compensadas pela menstruação mensal
entre os 12 e os 50 anos, pela gravidez, pelo parto, pela maternidade e pela
menopausa. Assim, IRS menor para as mulheres, na chapa! Mulheres…, mulheres,
que menstruam, naturalmente.
Venham-me falar de
mulheres nuas!
E para terminar, não
sei se esta é história verdadeira, D. Emília, esposa do Eça de Queirós, foi ver
a belíssima estátua de homenagem ao marido, criada pelo escultor Teixeira
Lopes, acompanhada pela empregada de há longa data. Regressaram a casa e D.
Emília perguntou à empregada:
- Então, gostou?
- Do Sr. José
gostei, mas não gostei nada da Sra Dona Emília, nunca a imaginei naqueles
preparos!!!
Publicado em NVR 04|10| 2023
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