26 fevereiro, 2023
22 fevereiro, 2023
REPENSAR A GUERRA
Repensar a guerra
Estou sempre do lado
das minorias e dos mais fracos, porém, simpatizo também com aquilo a que se
chama diálogo, negociação, diplomacia e estratégia.
Sobre a guerra entre a Rússia
e a Ucrânia, que virou indignação mundial, confesso que nunca esperei que se
voltasse a repetir os mesmos erros do passado, e que já teríamos ultrapassado o
conceito de guerra tradicional, a apreciação de quem é mais forte, de quem tem
menos armas…. quem matou mais pessoas e quem tem mais pessoas para morrer.
Pensei que as experiências ao longo do século XX e o terrorismo do século XXI, tinham
colocado os humanos noutro patamar, possuía a esperança que tivesse havido
mudança de mentalidades. Na verdade, não sou ninguém para opinar sobre quem tem
razão, para apresentar argumentos sociais, políticos, económicos e históricos,
porque até questiono o significado de razão e a sua utilidade. Considero que todos
têm razão e ninguém tem razão. Sei que é uma luta entre um David e um Golias,
sem Bíblia e sem calhaus, sendo fácil adivinhar que uma guerra nunca será um
meio de encontrar soluções.
A reflexão que quero
aqui trazer hoje, é sobre as visitas de Zelensky para angariar apoios. Ele
parece uma estrela rock a angariar fundos para fome em África, todos os países
o acolhem com simpatia e admiração e fazem promessas: armas e armas, tanques e
leopards, armamento, tecnologia de guerra… e dizem que apoiam a Ucrânia até ao
fim.
Promessa perigosa.
O que é esse fim? Como
se define esse fim? Significa o quê? recrutar “carne para canhão” nos países
europeus?
Alguém está disponível
para mandar os filhos para a guerra da Ucrânia? Ir até ao fim, nunca ceder,
nunca desistir é um orgulho idiota que passará pelo que referi, fornecer
exércitos feitos de jovens, os nossos jovens.
Nós, portugueses, não
estaremos fartos de guerra? Tivemos uma guerra colonial com 3 grandes frentes
africanas, que afectou directamente toda a população portuguesa. Isto foi há 50
anos – perguntem aos vossos pais e avós para saberem como foi.
O serviço militar era
obrigatório e os jovens quando chegavam aos 20 anos, lá iam eles, quisessem ou
não. Sabiam como iam, mas não sabiam como regressariam. Os que voltavam, poderiam
voltar dentro de uma urna, numa cadeira de rodas, sem uma perna, ou voltavam,
afectados psicologicamente para a vida toda. Nunca voltavam os mesmos, voltavam
silenciosos, demasiado silenciosos e maduros. É isto o que querem? Querem
despedir-se dos vossos filhos para sempre? Lembrem-se da descolonização,
criticada por muitos, pouco entendida por outros, e lembrem-se que os nossos
mancebos não queriam ir para a guerra, porque numa guerra há uma grande
probabilidade de morrer.
Lembro os murais no ano
de 1974 onde constava, NEM MAIS UM SOLDADO PARA A GUINÉ! que expressava o
protesto contra essa guerra, o desagrado e a recusa em “alimentá-la”. Esta
frase significa tanto… quem se lembra dela?
Para ganhar poupando
vidas é preciso saber perder, despir orgulhos, acreditar na diplomacia que nem
sempre estará alinhada pela justiça. Por vezes ser humilhado pode salvar vidas,
para viver em paz e combater a falência humana.
Quando tomarem posição sobre
esta ou outra guerra, interroguem-se sempre: “Se for o meu filho a ir para a
guerra, mantenho a minha retórica? “
Pensem que aos almoços
de Domingo serão menos à mesa. Sobrarão pratos e cadeiras. Já não existem
aerogramas, nem correio, porém, na guerra não existe rede para telemóvel.
Quando estiverem a fritar batatas, equacionarão, para quê, para quem, se ele(a)
não está cá?! e então irão ver o álbum de fotografias de quando ele(a) era
pequeno(a) com muita frequência, e mesmo sendo ateus, rezarão orações
inventadas para ele(a) voltar rápido e pelo próprio pé. Viverão muitas horas em
silêncio, de olhos fechados a recordar momentos e quando estiverem no meio de
uma multidão, sentir-se-ão incrivelmente sós.
Iniciar-se-á um ciclo de alerta, passarão a ter sono leve e de poucas
horas, sempre preocupados com o telemóvel que poderá tocar.
Nesta guerra e em todas
as guerras é preciso repensar tudo. Os heróis só servem para fazer estátuas e
os cemitérios estão cheios deles.
Publicado em NVR 22/02/2023
21 fevereiro, 2023
20 fevereiro, 2023
Pré-entrudo
Em noite de Carnaval, revendo cigarrons, folias e outras coisas mais. Fazer questão de viver, de aprender e de divertir-me. Até já.
19 fevereiro, 2023
17 fevereiro, 2023
CORAL
Acabo de ver os Gift
Todo o espectáculo foi sobre o
álbum “Coral”, quem gostou, gostou, quem não gostou, que reveja os seus padrões
musicais.
Hoje vivi um espetáculo especial
que me transportou a muitas realidades, a muitas introspecções e muitas zonas
sombrias de mim e de outros. Os Gift apresentaram uma união feliz entre o rock
e um coro, que me transportou, para catedrais, para referências medievais, para
Portugal e as suas raízes, para o passado e o futuro. É um projeto musical de
alto risco, com experiênciais musicais fabulosas e como sempre uma
interpretação forte e poderosa de Sónia Tavares. Ou se ama ou se odeia. Eu
AMEI. Talvez seja um dos melhores espectáculos de sempre – 90 minutos da minha
vida que me enriqueceram e que tiveram a equivalência a muitos dias, meses e
anos de expectativas por algo diferente e inovador.
Não deveriam dar continuidade a este álbum, para que este seja um álbum de referência permanente. Não tentem fazer melhor, porque irão estragar algo insuperável, façam diferente. PARABÉNS GIFT. Grande aplauso. AQ
16 fevereiro, 2023
ZULMARINHO delírios ao sabor das ondas
Um amigo, um cúmplice que ontem esteve no Mar de letras.
Tenho uma profunda admiração pelo projeto de escrita de João Carlos Carranca , capaz de despertar afectos e saudade que só alguns entenderão. Médico, humanista, angolano, autor de escrita criativa num estilo ainda não inventado, que se instalou no meu coração. Muito sucesso Jota.
15 fevereiro, 2023
Painel do Cinema Batalha - Júlio Pomar
O painel de Júlio Pomar no Cinema
Batalha
Júlio Pomar (1926–2018)
foi pintor reconhecido, com obra de destaque, de acção polivalente, na pintura,
cerâmica, desenho, escultura, gravura e escrita. A sua formação artística
passou pela Escola António Arroio, Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e
do Porto afirmando-se na pintura neorrealista.
Foi um dos fundadores
do MUD, Movimento de Unidade Democrática e preso pela PIDE antes de completar o
mural do Cinema Batalha, com o tema da festa popular de S. João. Em 1963 mudou-se
para Paris, contactando com novos movimentos das artes plásticas e ficou por lá
resguardado do fascismo, até 1974.
Segundo a informação
que recolhi, Júlio Pomar com 20 anos iniciou a obra deste mural, em 1946, no
ano seguinte foi preso, por ordem da polícia política, entretanto, o cinema foi
inaugurado com as pinturas inacabadas. Só no final de 1947, quando foi
libertado, é que teve oportunidade de as terminar. Um ano depois, a PIDE mandou
cobrir os painéis com tinta.
Visitei esta semana o Cinema
Batalha, recordando o tempo em que frequentava a sala de cinema, nos finais dos
anos 70, agora interessada em ver a renovação do interior do cinema e muito especialmente,
o mural concebido e pintado por Júlio Pomar em 1946, coberto com tinta, a mando
de Salazar / PIDE.
Lembro-me, quando
entrei pela primeira vez naquele cinema, alguém referiu este episódio,
informação transmita pela família portuense de um amigo, que frequentava a sala
de cinema nos anos 40, e que se ia perdendo um pouco na memória dos portuenses.
Visitei apenas o painel
maior, achei-o muito bonito, delicado, suave, localizado no foyer principal do
edifício, sendo possível observá-lo em vários níveis. Na minha primeira
abordagem tentei identificar a foice e o martelo, tal como existem no painel em
alto-relevo da autoria de Américo Braga, localizado no exterior do edifício,
que justificasse a decisão da PIDE. Sem sucesso. Percebi um desenho figurativo semelhante
às figuras robustas que constam na obra de Picasso (Mulheres na praia) e também
algumas semelhanças a desenhos de Álvaro Cunhal, evocadas por quem me
acompanhou. À partida reconhecem-se pormenores inofensivos da festa popular de
S. João, deduzindo-se que o problema não foi o tema, mas sim o autor
anti-fascista, portanto, foi claramente um problema político e uma reacção de
vingança sobre a obra plástica.
Depois de várias obras
de conservação deste cinema, sempre permaneceu a ideia da impossibilidade de
recuperação do belo painel, até que uma nova equipa especializada conseguiu
localizá-lo, após destruir 7 camadas sobrepostas de tinta, possibilitando assim,
o início do restauro, já após o falecimento do pintor.
A minha visita
converteu-se num momento especial. Tentei disfarçar a minha emoção, perante
este testemunho patrimonial, artístico, simbólico e político, diluído nas
minhas memórias de permanência naquele foyer, a olhar uma parede vazia, nos
intervalos do cinema, a fumar um SG filtro e a dialogar sobre o tema cinéfilo,
não imaginando sequer a presença destas figuras modernistas sufocadas por
camadas de tinta, de um regime que conseguiu prolongar as suas amarras por mais
50 anos, aproximadamente.
Muitos portuenses consideram
este edifício o monumento à estupidez do regime fascista, que considerou esta
obra perigosamente revolucionária e comunista. Para além dos frescos e do
alto-relevo já mencionados, ainda há que referir os puxadores das portas, cujo
design baseava-se nas letras CB (cinema batalha) e que as identificavam com
Comité Bolchevista.
Aconselho a visita, por
enquanto gratuita, e quem estiver mais a Sul, não esqueça, Atelier Museu Júlio
Pomar, Rua do Vale, nº 7 em Lisboa.
(Diário de viagem –
09/02/2023)
Publicado em NVR 15/02/2023