Comecei a gostar de ver teatro muito cedo. Um pouco desse
gosto devo-o a Sra D. Eunice. Um dia no teatro Avenida em Luanda anunciava-se
FEDRA do Teatro Experimental de Cascais. O cartaz era apelativo, a palavra
“Experimental” denunciava algo diferente e revolucionário na arte de
representar, apesar de Fedra ser um clássico de Racine. O tempo já apagou o
ano, mas deixou o registo de Eunice. Depois disso, sempre que tive
oportunidade, fui vê-la no palco, e gostei de vê-la nas telenovelas.
Um dia aqui no teatro de Vila Real, num espectáculo escolar,
imaginei uma pequena encenação para alunos e professores e receava que a figura
principal falhasse e perguntei a um dos funcionários de palco se não havia um
auricular para se poder utilizar o truque da figura que se chama PONTO. O funcionário respondeu-me que havia apenas
um, que tinha sido instalado de propósito e utilizado apenas pela Senhora Dona
Eunice que já estáva com alguma idade e preferia ter a segurança do
auricular, nas falas muito longas... Senhora Dona Eunice..., aquilo bateu cá no
fundo... percebi que era assim tratada em presença ou em ausência, revelando o
imenso respeito e admiração dos que tinham o privilégio de trabalhar com ela.
Na sua última representação foram expostas as suas
fragilidades de uma senhora com 90 anos. Deviam ter-lhe poupado essa exposição.
Hoje no dia em que Eunice partiu, fui investigar a ficha de
Fedra e só agora percebi os grandes nomes que a acompanharam e que definitivamente
me conquistaram.
TEC Teatro Experimental de Cascais - 10ª produção | 1967
FEDRA de Jean Racine | encenação Carlos Avilez | cenografia
e figurinos Júlio Resende | capa do programa Júlio Resende
Interpretação Amélia Rey-Colaço, António Marques, Eunice
Muñoz, João Guedes, João Vasco, Maria do Céu Guerra, Mário Pereira, Lia Gama,
Zita Duarte.
Obrigada
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