Dia do Beijo
“Há muitos,
muitos anos, quando ainda acreditava em heróis, ignorava Munch, lia BD e via
uma faixa de mar lá ao longe, cingindo em abraço a minha cidade, dei beijos sem
dar.
Dançávamos ao
som da música “I Put a Spell on You “ e limitámo-nos a seguir a letra, construindo
um feitiço mútuo que nos encantou e uniu para sempre. Dançámos todas as outras músicas,
abraçados e com os lábios quase se tocando, num diálogo sem legendas, recitando
os mais belos poemas de amor, que cada um escutará em Cassiopeia.
Foram beijos
com aroma a estrelas, bordados a seda dourada sobre suporte de cetim. Foram
beijos, ora longos, profundos e sem pressa, ora beijos sôfregos como se não
houvesse amanhã. Foram beijos de tempo e de espaço, com fantasia e emoção,
feitos de auroras e de pores-de-sol inconfessáveis. E os lábios, esses não se
tocavam e a música continuava repetindo-se e rgirando no disco de 45 rotações
desgovernado. Foram beijos de paixão desenhados já com a nostalgia da saudade e
da perda. Foram beijos sem dar, os mais belos e
sedutores, que nos pertencerão para sempre.”
In “Ensaios de
escrita, um projecto sempre adiado” Anabela Quelhas
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