30 março, 2022
29 março, 2022
A vida não se repete
Há pessoas que conseguiram transformar com um pequeno gesto a confiança, em desconfiança, destruindo tudo o que se construiu à sua volta durante anos.
Há pessoas que ignoravam que é preciso surpreender o outro sempre pela positiva e todos os dias.
Há pessoas que tiveram tudo e não valorizaram nada. Quando acordaram era tarde de mais, porque o tempo não espera e é irreversível.
Essas pessoas precisam de aprender que a vida, felizmente, não se repete, e quem age bem, sempre fica bem.
AQ
27 março, 2022
25 março, 2022
Eurico Palheiros Figueiredo - como o conheci
A propósito de Eurico José Palheiros Figueiredo, foi assim
que o conheci em noite de fuga.
(...)
"Nessa noite ou noutra noite qualquer semelhante, pois
as crianças nem sempre têm uma memória cronológica, feita de colchas coloridas,
mas sim de retalhos…. retalhos, simples e ingénuos, regressámos à casa da
aldeia, no Taunus 12 M azul dos meus pais. O automóvel era velho, a cair aos
pedaços e estava habituado a carregar cimento e tijolos para as obras. Quando
nevava, deixava entrar a neve pelo chão, junto aos pés de quem viajava atrás,
normalmente eu, quando não queria viajar entre o meu pai e a minha mãe, no
banco corrido da frente, pois essa localização fazia-me lembrar a minha
condição de criança - carro velho, mas ainda capaz de realizar pequenas
distâncias.
.… eu ia atrás, mais um casal de jovens, que nunca tinha
visto. Sabia que um deles era meu primo. Uns tempos antes tinha ouvido falar
duma peripécia qualquer com o meu pai, envolvido num pequeno sarilho,
transportando este primo para Lisboa, com uma mala de conteúdo duvidoso,
possivelmente subversivo. Uma história que poderia ter terminado mal, pois o meu primo decidiu sair do carro antes do
final da viagem e o meu pai ficou com a referida mala, esquecida durante dois
dias, no carro estacionado à frente do hotel onde se hospedara, sem saber o que
fazer com ela, nem ao seu conteúdo desconhecido, até ao momento que decidiu
abri-la. Livros, papeis, fios eléctricos, arames, alicates, chaves de fendas e
outras ferra- mentas úteis para certas “intervenções urbanas revolucionárias”,
eram o conteúdo da mala, que foi abandonada às escondidas, algures no Ribatejo.
Era noite escura, eles entraram no carro num sítio qualquer,
já fora da cidade de Vila Real, parecia que tudo estava a ser feito na
clandestinidade, mas bem combinado. Eu,
nessa noite, estava cheia de perguntas para fazer, que não chegaram a ser
proferidas. O casal parecia alegre e simpático, mas havia ali um clima de muita
reserva e contenção, o nervosismo acompanhou toda a viagem, penso que devido à
minha presença, para não ouvir o que não devia, receando que pudesse contar a
alguém, fazendo perigar a segurança e a paz de todos.
Anos depois, descobri que se tratava de uma fuga à PIDE – o
casal exilou-se na Suíça, regressando a Portugal apenas após a revolução de
Abril."
in "O fato que nunca vestimos" de Anabela Quelhas
Só voltei a vê-lo
depois de 1974. Dirigi-me a ele numa tarde de verão na sala de um familiar e
disse-lhe: "Venho aqui para te conhecer melhor, porque só tenho memória de
uma noite escura."- ele parecia uma figura saída do Woodstock, sorridente,
jeans, sandálias e cabelo comprido, e abraçou-me - não tenho fotografia dele em novo.
24 março, 2022
Condecorado pelo Presidente da República
Para memória futura
Eurico Palheiros Figueiredo condecorado pelo Presidente da
República - 24/03/2022.
Eurico Parabéns
Saber mais em
https://www.cmjornal.pt/.../o-dia-em-que-o-regime-perdeu...
23 março, 2022
Anita vai à "vistoria"
8h45 abre porta automática, entro, medem-me a temperatura,
meto uma mão numa máquina estranha que parece um parquímetro, pinga
desinfectante para eu esfregar na outra que pega no dossier dos papeis.
- O que deseja?
- Assim para não contar toda a minha estória desde dezembro,
posso dizer que venho à “vistoria” e ainda fazer umas reparações na minha mão
escangalhada...
- Pode seguir, o seguinte!
Nem tenho tempo de explicar mais nada, felizmente sou
alfabetizada, e percorro muitos metros de corredor, perpendiculares uns aos
outros, um pouco a custo, porque estou ensonada e o GPS ainda funciona a
bocejar... e oiço, senha 32 balcão 1.
Procuro outro objecto parecido com o tal parquímetro e clico
no écran. O parquímetro das senhas que lhe chamo senhímetro, emite barulhos
tipo desarranjo intestinal e vomita uma senha com o número 35.
Passo para a sala de espera e decido esperar de pé. As
cadeiras baralham-me. São cerca de 30 cadeiras, orientadas para um ecrã onde
não se passa nada, apenas os números das senhas, com som para aqueles que têm
cataratas. Cada cadeira está sinalizada com uma faixa escrita por esta ordem–
doente Covid – acompanhante de doente Covid – sem sinalização que entendo ser o
afastamento da etiqueta respiratória - de novo doente Covid – acompanhante de
doente covid – sem sinalização – doente covid – acompanhante de doente covid.
Todas as outras filas de cadeiras obedecem a esta ordem, excepto uma que tinha
acompanhante de doente covid, mas sem o doente. Decidi ficar em pé.
- Senha 35, cartão de cidadão, segurança social, ADSE e
aguarde que irão chamá-la.
Passados 5 minutos oiço;
- Anita ao gabinete 2.
Medem-me ângulos da mão, catetos e hipotenusas, fazem
registos e cáculos, tira bissectriz e mediatriz, numa problemática geométrica
de mão escangalhada, que frequentou várias sessões de dor, ais e uis com
fartura, no último mês... doi-me aqui, doi-me ali, ai, ui, vou fugir, orientada
por alguém delicado que parece ter força de halterofilista. E mais assim e
assado, inclina para aqui, torce para a acolá, “destroce”... sempre com amiga a
segurar-me na outra mão não escangalhada, dando-me força, sempre a dizer, Anita
estás muito melhor, vais ficar boa, não faças batota... e eu a apertar molas da
roupa, a deformar plasticina e a contar os minutos para o fim, porque dor tem
limites e eu não quero maçar a minha fisioterapeuta, quero que ela respeite a
lei do trabalho.... nem um minuto a mais!
Quem me segura na mão não escangalhada, distrai-me para eu
deixar que dor vire terror, para depois terminar com a mão escangalhada no meio
do gelo, como se faz ao champanhe antes de fazer uma calcinha de seda.
Lembro a música “Fui às sortes e safei-me” do Vitorino,
enquanto aguardo a rotação, simetria sobre os dedos que desconsigo associar, e
sentença final.
- Anita não passou na vistoria! Mais trinta sessões até essa
mão libertar a preguiça e pintar definitivamente a manta.
Voltarei ao mesmo, desinfectante, senha, deitar na marquesa,
dormir sentindo picadinhas tremeliques no pulso, e novamente fazer de conta que
submeto a minha mão escangalhada à máquina de lavar no programa centrifugação,
até conseguir desenhar linhas rectas que são curvas (onde eu já ouvi isto?),
escrever em linha estreita e conseguir fazer malabarismos sem magoar ninguém.
Um dia chego lá.
Beijinhos da Anita
19 março, 2022
18 março, 2022
17 março, 2022
12 março, 2022
WALI
Onde está o Wali?
Ucrânia
Quem é Wali?
Engenheiro informático, especialista canadiano, atirador de
elite mais famoso do mundo, conhecido por abater 40 pessoas por dia, a 3km de
distância.
Currículo - Afeganistão, Iraque
Está na Ucrânia, voluntáriamente, desde 9 de março, a
convite de Zelensky.
““Wali” é uma lenda entre os snipers, daí a imprensa
internacional destacar a sua decisão de combater contra as tropas russas. Em
média um franco-atirador mata sete homens por dia e, na linha da frente, pode
chegar aos dez. O canadiano ultrapassa estes números, já que consegue provocar
40 mortes por dia. Detém, além disso, o recorde de morte a maior alcance: 3.540
metros de distância.”
11 março, 2022
CONVENTO DE MAFRA
CONVENTO DE
MAFRA
13 anos de
construção (1717 a 1730)
Visitei-o a primeira vez em adolescente,
naquela volta com a família para conhecer os monumentos portugueses. O convento
foi mais um, na lista do Mosteiro da Batalha, Mosteiro de Alcobaça, Mosteiro
dos Jerónimos, Castelo de Guimarães, Palácio de Sintra, Igreja de Sta Cruz e
por aí fora.
Nunca fui sensível à sua escala, antes de o
olhar com olhos de ver, através dos papeis com a representação das plantas do
edifício de 3 pisos e a localização da basílica com as suas torres, os espaços
palacianos e os do convento, os grandes claustros, os torreões e a biblioteca e
por fim o espaço exterior envolvente.
Percebi que é um gigante, digno de atenção e
respeito. É tudo em grande - 40 000 m2 de área, a sua fachada nobre tem 232
metros, 29 pátios, 880 salas e quartos, 4.500 (confirmar) portas e janelas, 156
escadarias, 119 sinos que formam um carrilhão que pesa 217 toneladas.
Considerando que uma habitação T3 terá uma média de 120 m2, ali cabem 333 fogos
dessa dimensão. Talvez isto dê uma noção da escala.
Estima-se que a sua construção foi realizada
por 20.000 operários todos incógnitos, que nunca foram falados e muito menos
imortalizados pelo esforço, empenho e desgaste para erguer esta obra
gigantesca, numa época em que não existia tecnologia de apoio à construção
civil e alguns trabalhadores pagavam com a própria vida. Tudo se baseava no
engenho e no trabalho braçal destes homens que se tornam assunto na obra de
José Saramago, em Memorial do Convento. Não eram escravos, mas era uma
modalidade de trabalho forçado, não podendo abandonar a obra, sendo severamente
castigados, se assim o ousassem.
Faz parte da
lista do Património Mundial da Humanidade criada pela Unesco, é uma obr- prima
do estilo barroco português, resultado de uma promessa feita por D. João V,
para que fosse abençoado com um filho. O suporte financeiro foi o ouro vindo do
Brasil. O principal arquitecto do projeto, que seguiu execução foi Johann
Friedrich Ludwig, arquitecto alemão.
Em 1730 acolheu cerca de 328 frades, número
que foi oscilando ao longo do tempo. Há outros números que se conhecem no
período de maior apogeu da comunidade religiosa; consumiam-se por ano 120 pipas
de vinho, 70 pipas de azeite, quase 10 toneladas de arroz e 600 vacas.
Tenho uma simpatia muito especial pela
biblioteca, lindíssima, de escala harmoniosa, talvez uma das mais belas do
mundo, em que inicialmente, para contribuir para a manutenção do fundo documental,
os monges franciscanos criaram uma colónia de morcegos, que se alimentavam de
insectos nocivos, durante os voos nocturnos.
Apesar da sua grandiosidade é uma peça leve,
agradável, cor da luz, com pouco contraste entre os panos pintados a amarelo e
a cor e textura do calcário, que lhe confere uma beleza suave e nobre.
AQ março 22
09 março, 2022
Bella Ciau
Bella Ciau, a música que todos conhecem e que já animou muitos convívios - vejamos o seu verdadeiro significado e o simbolismo, já utilizados na Guerra da Ucrânia.
08 março, 2022
DIA DA MULHER em ano de guerra
DIA DA MULHER em ano de guerra
Já todos sabem que defendo a causa das
mulheres, e esta ultrapassa a questão da igualdade de direitos perante os
homens, porque considero também, que as mulheres deverão ter alguns privilégios
para equilibrar a sua condição feminina por vezes dolorosa, ou seja, a
igualdade na desigualdade.
Este ano, neste dia da mulher, dou destaque, à
fuga gigantesca de milhares de mulheres e crianças, que enche as imagens
televisivas, devido à guerra na Ucrânia.
Não sei qual será mais fácil, se permanecer
para lutar, os homens, ou fugir com os filhos, as mulheres,
A fragilidade da maternidade expõe-se aos
olhares do mundo, sem pudores e impotente para reagir. As mulheres são
obrigadas a viver esta tragédia a dois níveis que tentam equilibrar: O nível da
sua consciência e o nível da falta de consciência dos seus filhos pequenos, que
elas protegerão muito além da exaustão, sem qualquer premissa conhecida sobre o
amanhã.
Muitas não sabem para onde irão, não fazem
ideia, quanto tempo demorarão a chegar a algum sítio e quais os obstáculos que
encontrarão, se resistirão, se perderão a vida nas horas seguintes. Umas fazem
caminho a pé, outras, metidas em carros, fazem fila para as fronteiras que
avança muito devagar. Vivem um estado de alerta constante, tentando gerir esta
tragédia sem prazo. Não sei como satisfazem as suas necessidades fisiológicas
básicas, nesta sua condição em fuga.
O leite das mães que ainda amamentam os bebés,
seca!
Imaginem o drama, de uma mãe em que meteu a
sua vida e os parcos recursos numa mochila, e esta não chega para tudo.
Fraldas, quantas se gastam num dia? Quantas meias são necessárias para manterem
os pés secos? Quantas horas aguentam os braços de uma mulher a embalar o seu
filho?
O instinto de sobrevivência levou-as as
preparar uma mochila para levar, que passadas umas horas pesará mais do que a
serventia do seu conteúdo. Deixaram tudo arrumado e no seu lugar na habitação
onde viviam, que chegado o tempo do bombardeamento, se transformará em algo
desconstruído, com vidros partidos, janelas desarticuladas e paredes
rebentadas, com o limite das propriedades, do passado e dos sonhos,
transformado em entulho da geoestratégia internacional manchado de sangue.
Estas mulheres vivem um mar de dificuldades,
que nós, aqui no sofá, não imaginamos.
Como explicar, mesmo em voz doce de mãe, os
Donbass, as centrais nucleares, os bombardeamentos, as oligarquias, as
estratégias militares, os interesses da China, da NATO... a crianças que ainda
nem sequer sabem ler e o seu universo é a família? Os seus olhos engolem-nos
como responsáveis sobre este mundo louco.
Tenho visto olhares, que nunca esquecerei -
olhares ingénuos alagados em lágrimas e abraçados a um peluche, olhares
invadidos de incompreensão receando que lhes roubem também o seu último reduto,
o colo da mãe.
Falta referir as mulheres que decidiram
permanecer, ou protegendo os pais, ou pegando em armas para resistir, prontas
para lutar até morrer. Sobre estas ainda pesa a possibilidade do estupro, que
sempre inferniza os cenários de guerra potenciando a parte feroz e selvagem que
alguns homens transportam.
#Enquanto houver uma mulher a sofrer
violência, faz sentido celebrar este dia para despertar consciências#
AQ
07 março, 2022
Quem é Davide Martello?
Quem é
Davide Martello?
Davide Martello tem 41 anos, conhecido
como Klavierkunst é um pianista alemão de ascendência italiana.
Tem aparecido no ecrã das emissões televisivas a tocar piano junto a fronteiras ucranianas. Já tem um
longo currículo, deslocando o seu piano para vários pontos do mundo, onde
existem conflitos.
Tem um piano de cauda sobre rodas,
com banco integrado que ele transporta com uma bicicleta. Acredita que a música
pode amenizar atrocidades. Espera pelos refugiados ucranianos e faz chegar a sua música ao coração dos
ucranianos que nos últimos dias só ouviram sirenes e bombas.
“Talvez a música dobre Putin. Todos
gostam de música e Putin gosta também..”
Não sei como ele percorre grandes
distâncias e até oceanos, mas o seu currículo é admirável
· No Natal de 2012 tocou no
Afeganistão, para os soldados em Mazar-i-Sharif, Kunduz e Termez (Uzbequistão).
· Durante os protestos do Parque Gezi,
na noite de 12 de junho de 2013, um concerto foi realizado na Praça Taksim ,
· Ele também se apresentou na revolução
Maidan em Kiev e na guerra civil em Donetsk em abril de 2014.
· 14 de novembro de 2015, Martello andou
de bicicleta com seu piano de cauda para o teatro Bataclan (o local onde 89
pessoas foram mortas em um ataque terrorista) e começou a tocar " Imagine
" de John Lennon em homenagem às vítimas dos ataques de Paris para uma
multidão reunida do lado de fora do salão.
· Em 6 de outubro de 2018, Martello apresentou-se
na demonstração " Wald retten - Kohle stoppen " contra o corte da
floresta de Hambach.
· Em junho de 2020, ele tocou em
Minneapolis, Minnesota, durante protestos após o assassinato de George Floyd.
· Em março de 2022, toca na fronteira
ucraniana/polaca.
Nota: o outro, que não escrevo o
nome, porque não lhe faço publicidade e que “ama pelos dois”, foi tocar num
projeto de um teclado para a frente da embaixada da Rússia em Lisboa – não sei
se foi para irritar o Putin... ok irritação a mais pode dar num AVC!