DIA DA MULHER em ano de guerra
Já todos sabem que defendo a causa das
mulheres, e esta ultrapassa a questão da igualdade de direitos perante os
homens, porque considero também, que as mulheres deverão ter alguns privilégios
para equilibrar a sua condição feminina por vezes dolorosa, ou seja, a
igualdade na desigualdade.
Este ano, neste dia da mulher, dou destaque, à
fuga gigantesca de milhares de mulheres e crianças, que enche as imagens
televisivas, devido à guerra na Ucrânia.
Não sei qual será mais fácil, se permanecer
para lutar, os homens, ou fugir com os filhos, as mulheres,
A fragilidade da maternidade expõe-se aos
olhares do mundo, sem pudores e impotente para reagir. As mulheres são
obrigadas a viver esta tragédia a dois níveis que tentam equilibrar: O nível da
sua consciência e o nível da falta de consciência dos seus filhos pequenos, que
elas protegerão muito além da exaustão, sem qualquer premissa conhecida sobre o
amanhã.
Muitas não sabem para onde irão, não fazem
ideia, quanto tempo demorarão a chegar a algum sítio e quais os obstáculos que
encontrarão, se resistirão, se perderão a vida nas horas seguintes. Umas fazem
caminho a pé, outras, metidas em carros, fazem fila para as fronteiras que
avança muito devagar. Vivem um estado de alerta constante, tentando gerir esta
tragédia sem prazo. Não sei como satisfazem as suas necessidades fisiológicas
básicas, nesta sua condição em fuga.
O leite das mães que ainda amamentam os bebés,
seca!
Imaginem o drama, de uma mãe em que meteu a
sua vida e os parcos recursos numa mochila, e esta não chega para tudo.
Fraldas, quantas se gastam num dia? Quantas meias são necessárias para manterem
os pés secos? Quantas horas aguentam os braços de uma mulher a embalar o seu
filho?
O instinto de sobrevivência levou-as as
preparar uma mochila para levar, que passadas umas horas pesará mais do que a
serventia do seu conteúdo. Deixaram tudo arrumado e no seu lugar na habitação
onde viviam, que chegado o tempo do bombardeamento, se transformará em algo
desconstruído, com vidros partidos, janelas desarticuladas e paredes
rebentadas, com o limite das propriedades, do passado e dos sonhos,
transformado em entulho da geoestratégia internacional manchado de sangue.
Estas mulheres vivem um mar de dificuldades,
que nós, aqui no sofá, não imaginamos.
Como explicar, mesmo em voz doce de mãe, os
Donbass, as centrais nucleares, os bombardeamentos, as oligarquias, as
estratégias militares, os interesses da China, da NATO... a crianças que ainda
nem sequer sabem ler e o seu universo é a família? Os seus olhos engolem-nos
como responsáveis sobre este mundo louco.
Tenho visto olhares, que nunca esquecerei -
olhares ingénuos alagados em lágrimas e abraçados a um peluche, olhares
invadidos de incompreensão receando que lhes roubem também o seu último reduto,
o colo da mãe.
Falta referir as mulheres que decidiram
permanecer, ou protegendo os pais, ou pegando em armas para resistir, prontas
para lutar até morrer. Sobre estas ainda pesa a possibilidade do estupro, que
sempre inferniza os cenários de guerra potenciando a parte feroz e selvagem que
alguns homens transportam.
#Enquanto houver uma mulher a sofrer
violência, faz sentido celebrar este dia para despertar consciências#
AQ
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