Mas que
aventura é esta, Madame?
(Publicado em NVR)
(Publicado em NVR)
Deveria escrever sobre as eleições
francesas, mas vou ser um pouquinho egoísta, egocêntrica, narcisista e escreverei
sobre mim. Não é todos os dias que se publica um livro…
A mala do meu carro está cheia de
livros e agora tenho que lhes dar rumo, soltá-los no mundo. Publiquei o meu
primeiro livro como escritora. Esta designação não me assenta bem, pois sou uma
humilde aprendente da arte de escrever, que me tem encantado ao longo dos anos,
sem estilo, fragmentada e em contramão. Costumo estar no lado dos desenhos, mas
agora… Ser escritora sugere algo de profissional, que não sou. Não resisto a um
desafio, tenho a mania de meter o nariz onde não sou chamada e não me intimido
o suficiente, em percorrer caminhos que não domino.
Enfim, sou mesmo assim!
Poderia estar quietinha a viver a
maturidade, sentada num sofá, olhando a televisão, fazendo tricot para olear as
artroses das mãos, chupar rebuçados para a tosse, cortando os dias no
calendário um após outro e queixando-me todos os dias, desta vida madrasta.
Levaria uma vida mansa cheirando a mofo, mas santa, sem trambolhões, respirando
todos os dias da mesma forma, conservando o batimento cardíaco na mediana,
rezando a Deus para me manter a tensão arterial estável e substituindo as
gargalhadas por um mero esgar dorido da mandíbula.
Pois, mas essa não sou eu.
Tenho uma mala cheia de livros de
cor azul-cueca, com um título polissémico e uma fotografia minha, com rosto que
oscila entre o desconfiado e o aborrecido, como se estivesse no tal sofá da
vida mansa - fotografia de adolescente incompreendida em idade do armário, sempre
a descobrir uma forma de questionar, de protestar contra tudo e contra todos-
Tenho um filho maravilhoso, nunca
plantei uma árvore, pois a botânica dá-se mal comigo e o livro não passa da
primeira parte de uma aventura, que nem sei como irá terminar. O que dirão os
verdadeiros escritores que muito respeito, deste “projecto de livro”?
Nestes dias, permaneço meia obtusa,
quando percebo que criei grandes expectativas naqueles que me estão próximos….
E agora? A responsabilidade cresce e desgasta. Sou assaltada pela insegurança. Onde
arrumei os Kompensan? E se eles não gostarem? ou forem indiferentes, o que é
muito pior? A obra deixará de ser minha e passará a ser pública. Cada um lerá e
interpretará do seu jeito, que poderá não coincidir com o meu.
Porque não criei mais um pseudónimo,
que me assegurasse o anonimato, livrando-me deste desconforto que me acelera o
ritmo cardíaco? Lá está o meu nome, a fotografia, a biografia e o conteúdo,
multiplicados por muitos exemplares – todos seguidinhos azuis; á espera de
destino. Não bastava um!!!…
Socorro quero sair em andamento!!!!!
Tirem-me deste filme!!!! Grito para mim mesma, nesta postura de conversar de
mim para mim, olhando os livros agrupados em pacotes plastificados, aguardando
decisões e apelando para o bom senso que emigrou da minha vida há muito tempo.
Mas que aventura é esta, Madame?
Meto-me em trabalhos e agora? Ando sem filtro, sem airbag, sem rede, sem cinto
de segurança e estiquei-me demais…
E agora o que fazer com a adrenalina
em excesso?
- Coloco chapéu e óculos escuros e vou
fingir que não me conheço. E os espelhos cá de casa?
- Aproveito e vou de fim-de-semana para
a Islândia durante 30 dias? Todos sabem que nunca fugirei para norte.
- Invento doença contagiosa,
daquelas de pintar a pele com bolhas gigantes? Certamente me irão esperar na
saída do hospital
- Salto da ponte? Colocar-me-ão um
elástico à cinta e gritarão: SALTA! SALTA! S-A-L-T-A!
Fazer o quê?
- Transformar os livros numa bela
escultura azul cueca?
“O fato que nunca
vestimos”
No Centro Cultural e
Regional de Vila Real, dia 11 de maio pelas 21h15m.
Vestirei coragem e lá
estarei. J
4 comentários:
Boa decisão. Eu também lá estarei para te apoiar e felicitar.Um beijinho
É isso mesmo. Risco e coragem, disso é feita a vida. Acabaste mesmo por vestir o fato.
Escolinha dos lápis: também é a tua história. Beijinho e obg.
António, não sei fugir!!!!! vontade não faltou. Não me dou bem em auditórios, mas parece que correu bem. Falta Lisboa. Ui! Beijinho.
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