O LOBO MAU E OS 3 PORQUINHOS
(não enlouquei, mas quase)
Era uma vez um lobo, que vagueava
pelo mundo, sábio, inteligente e com diversas competências, mas por voltas da
Lua e do Sol, e ressuscitando quezílias com mais de dois mil anos, ora era bem-vindo,
ora escorraçado, torturado e até houve quem o metesse numa câmara de gás, já
escanzelado e subnutrido, gerando a compaixão de muitos.
Por influência do mundo todo,
arranjaram-lhe num bairro antigo, uma casa para viver, onde habitavam os 3
porquinhos. Desocuparam a casa, porque, na verdade, neste bairro não existiam
barracas desocupadas, muito menos casas vazias, para que o lobo e os seus
descendentes tivessem um lar condigno.
O lobo instalou-se e passou a ser
lobo gordo, de pêlo luzidio, e aos poucos, a humildade e a carência, foram-se
transformando em prepotência, arrogância, desrespeito e mau feitio. Nunca
percebeu, a revolta dos 3 porquinhos, que depois de despejados da casa para
onde foi viver o referido lobo, restou-lhes apenas os anexos da mesma. O lobo
tinha sofrido tanto, que achou natural, este acto de compaixão, porém, aos
poucos foi alimentando o seu egocentrismo, impedindo-o de ver a realidade e a
razão. Os vizinhos não querendo meter-se na vida dos outros, pouco se
manifestavam, apenas observavam posturas progressivamente cáusticas e tóxicas.
O mau-estar foi evoluindo de dia para
dia, recheado de conflitos, daqueles que sempre alguém se aleija, e quer troco,
provocados por um e por outros, sempre com o lobo cada vez mais malvado e
furioso, e pelos 3 porquinhos a fazer pela vida, tentando sobreviver às
adversidades cada vez maiores. Maus hábitos instalaram-se, com o resto do
bairro a ver, um pouco resignados ou desnorteados com a razão ou a falta dela.
Um dia o lobo, ganancioso, decidiu
que também pretendia ocupar os anexos, seria uma sábia decisão geo-estratégica,
vendo bem, poderia ali fazer uma cozinha regional com churrasqueira, um salão
de jogos, e um pequeno estúdio de cinema, que seria uma mais-valia para a sua
propriedade e para a sua qualidade de vida.
A guerra escalou de tal forma, que o sossego
dos vizinhos estava em causa, eles já discutiam uns com os outros, ora dando
razão ao lobo, ora dando razão aos porquinhos. Os personagens principais desta
história rapidamente abandonaram a fisga e a pedrada, o sopro, as armadilhas,
tão bem construídas na BD e agora nas batalhas só havia tiros, bombas e muito
sangue, o que já incomodava os vizinhos e os habitantes de outros bairros, que
até aí ainda conservavam as horríveis imagens do lobo escanzelado de antigamente
e o acto misericordioso de lhe arranjar um lar, mesmo que resultante de uma
ocupação. Não se querendo meter, mas já se metendo, os estilhaços desta guerra
sem fim, iam cair nas casas dos vizinhos, que temiam balas perdidas, foguetes
descontrolados, e que o peixeiro ou o padeiro deixassem de ir ao bairro vender,
devido ao caos instalado.
Num belo dia outonoso, surgiu o boato
que havia um lobo poderoso, lá do outro lado do mundo, que iria por fim a esta
guerra, e alguns acreditaram e até votaram nele. Afinal já ninguém aguentava
ver as cenas de guerra que todos os dias passavam na TV, à hora do jantar,
todos se comoviam com o olhar choroso dos 3 porquinhos a vaguear sobre os
destroços dos anexos. Todos pretendiam e almejavam o sossego de antes, apesar
que nunca pacífico.
Meses mais tarde, foi com pompa e
circunstância que os dois lobos, um loiro proveniente do outro lado do mundo e o
outro moreno, antigamente escanzelado, se reuniram para resolver tamanha
contenda.
Admirem-se! O lobo que mandava no
outro lado do mundo era tão bom ou tão mau como este, que vivia em casa
ocupada, decidiu que os anexos seriam esvaziados, cada porquinho teria de ser acolhido
pelos habitantes do bairro (dividir para reinar), acabando-se assim esta
bagunça desgraçada, e os anexos já completamente destroçados iriam sofrer
obras, com o objectivo de se transformarem, em alojamento local a render para?…
para o lobo mau? ou para o outro? Pois não sabemos! A ideia agradou ao lobo
mau, mas curiosamente, o que fizeram os vizinhos?
Hipótese 1 – aliviados com a expectativa do sossego futuro,
não fizeram nada.
Hipótese 2 – apesar de entenderem como decisão imoral,
apagaram a luz para dormir, com intenção de comprar um alarme para a sua
residência e não fizeram nada.
Hipótese 3 – prometeram mundos e fundos, às famílias de
acolhimento do bairro, e estas acolheram os 3 porquinhos, sabendo que iriam ser
acolhimentos problemáticos, mas fazer o quê?
Hipótese 4 – os vizinhos mais próximos, espertalhões, decidiram
investir nos seus próprios anexos, transformando-os, em lojas de recuerdos,
biroscas para vender cerveja, pizzas e hambúrgueres, e pequenos spaces de
banhos e massagens.
[Narradora a pensar: Que texto de trampa!]
Publicado em NVR 12|02|2025
3 comentários:
Fantástico
Fantástico! Como uma historieta .demonstra tão bem o mundo em que vivemos ! Como sempre muito bem escrito.! Beijinhos
5 estrelas, e aguardam-se os próximos capitulos
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