19 fevereiro, 2025

DOIS FILMES E DOIS BONS MOTIVOS PARA IR AO CINEMA

 


DOIS FILMES E DOIS BONS MOTIVOS PARA IR AO CINEMA

”Ainda Estou Aqui”

Tenho explorado alguns dos trabalhos da actriz Fernanda Torres, que nos habituamos a ver em telenovelas, assim como a sua mãe, a brilhante Fernanda Montenegro. Por estes dias as salas de cinema deste país passam o filme ”Ainda Estou Aqui” realizado em 2024, com três indicações ao Óscar 2025: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Fernanda Torres como Melhor Atriz. Vale bem o seu visionamento.

"Ainda Estou Aqui" é um filme poderoso e impactante, abordando um capítulo doloroso da história do Brasil através da perspectiva de uma mulher, Eunice;  que enfrenta a dor do desaparecimento do marido durante a ditadura militar. A escolha de Walter Salles como diretor, conhecido pelo seu talento em contar histórias profundas e humanas, promete uma narrativa sensível e comovente.

A representação de Fernanda Torres e Fernanda Montenegro certamente traz uma profundidade emocional à história de Eunice. A luta de Eunice para manter a normalidade familiar, no meio do caos e a sua busca incessante pela verdade, destacando a resiliência e a força feminina em tempos de opressão. Além de ser uma narrativa pessoal, o filme oferece uma reflexão mais ampla sobre o impacto da ditadura militar no Brasil, especialmente nas vidas das famílias que sofreram com a repressão. A menção ao papel das mulheres na resistência é especialmente significativa, dado que muitas vezes essas histórias não recebem a atenção devida.

É um filme interessante, que educa e provoca a reflexão sobre temas importantes como os direitos humanos, a perda e a luta pela verdade. É um testemunho do poder do cinema como ferramenta de memória e resistência.

Se aprecia o trabalho de Fernanda, procure duas séries que constam do seu currículo, que poderá ver na Globo Play: “Filhos da Pátria” e “Fim” .

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“O Brutalista”

O filme "O Brutalista" apresenta uma narrativa rica e envolvente, explorando não apenas a trajetória profissional do arquiteto László Toth, um visionário, mas também as complexidades emocionais e sociais enfrentadas por ele e a sua esposa, Erzsébet. A fuga da Europa pós-guerra simboliza a busca por esperança e renovação, enquanto o encontro com Harrison Van Buren, o industrial rico, enigmático e carismático, representa a possibilidade de realização e ascensão na nova terra.

Ao longo do filme, a relação entre László e Erzsébet é central, mostrando como o stress e as pressões do sucesso podem testar os laços matrimoniais. A ambição de László em criar um monumento que não apenas represente os seus valores estéticos, mas também a identidade emergente dos Estados Unidos, lembra questões sobre o que significa realmente "pertencer" a um novo lugar e como a arte pode impactar a sociedade.

A narrativa desenrola-se entre momentos de grande triunfo – a realização do projecto e o reconhecimento do talento de László – e tragédias pessoais, por vezes inesperadas, que podem destabilizar as suas aspirações.

A estética brutalista do filme não se limita à arquitetura, mas estende-se à cinematografia, reforçando a ideia de que a beleza pode ser encontrada na imperfeição e na luta. Assim, "O Brutalista" torna-se um processo de meditação sobre a ambição, a identidade e o que realmente significa deixar um legado, oferecendo uma visão profunda não apenas da vida de um arquitecto, mas da própria América em transformação. Um filme que ficará certamente na história do cinema.

Publicado em NVR 19|02|2025







1 comentário:

Anónimo disse...

Concordo contigo em relação ao Brutalista. Belo e trágico! Extraordinariamente profundo! Um filme marcante!
Ainda não vi "Ainda estou aqui".