O QUE PENSARÁ DEUS?
O Homem, naturalmente
cruel e agressivo, encontra no seu envolvimento com Deus, uma resignificação da
sua existência e da sua acção. É também através dele que temos a valorização do
indivíduo, iniciando-se a construção do conceito de dignidade humana.
É na religião que nasce,
de forma mais visível, o combate ao mal, a prática do bem, onde nasce o
conceito de caridade e diversas concepções éticas que valorizam o respeito pelo
próximo.
Jesus, Confúcio,
Alcorão, Rabi Hillel, Buda ou Mahabarta, todos apregoam o mesmo: “Não faças aos
outros o que não queres para ti”. Ou seja, é razoável e aconselhável considerar
sempre a lei do retorno, o reflexo do espelho e o respeito.
Apesar de ter
consciência e condenar que a religião foi diversas vezes aproveitada para
justificar guerras e perseguições, reconheço também uma acção contrária, que é
de controlo do lado malvado do ser humano, mas que teme o desconhecido,
especialmente aquilo que se passa após a morte. A religião funciona como
travão, um verdadeiro analgésico.
A religião tem sido uma
força poderosa para moldar a ética e a moral ao longo da História, oferecendo
respostas para perguntas fundamentais sobre a vida, a morte e o comportamento
humano.
Por um lado, a ideia de
um Deus que julga as acções humanas e recompensa ou pune, com base em
comportamentos éticos, pode servir como uma forma de controle social, ajudando
a promover uma convivência pacífica e respeitosa entre os indivíduos. A
presença de ensinamentos morais em diversas tradições religiosas, como os
princípios referidos, enfatiza a importância do respeito mútuo e da empatia.
Por outro lado, a
questão do que acontece após a morte e a possibilidade de um juízo divino é um
ponto que gera muito debate e adiciona medo em muitas mentes perversas. A visão
de um Deus que recompensa a bondade e pune a maldade pode ser reconfortante
para muitos, mas também pode levar a interpretações rígidas e até mesmo
fanáticas da moralidade, mas isso já é outro tema.
Esses dois 'lugares' ou
'estados' distintos da vida após a morte, um com Deus e outro sem, atinge o
objectivo máximo de controlar as sociedades. A lei de Deus define que os
pecadores irão para o Inferno e os não pecadores, caridosos e sofredores irão
para o Céu. Simplificando é assim, uma ideia não sei, se certa ou errada,
porque nem sei se Deus existe, de uma entidade julgadora dos destinos eternos
por uma lista de bons e maus comportamentos, ou seja, "vida boa" e
"vida maldosa".
Por vezes, esta
configuração estratégica das práticas do bem e do mal e as suas consequências, geram
o medo que controla, o Homem, multidões e a humanidade. E aqui fica a questão,
os ateus que praticam o bem, sem qualquer segunda intenção, sem esperar nada em
troca, depois da morte agradarão muito mais a esse Deus?
Esta pergunta é pertinente e
complexa. Muitas tradições religiosas enfatizam não apenas as acções, mas
também a intenção por trás delas. Se a bondade é praticada de maneira
desinteressada, sem a expectativa de recompensa, isso pode ser visto como um acto
de verdadeira moralidade, que transcende a questão da crença. Para algumas
tradições, o valor das acções está mais na sinceridade e na compaixão, do que
na adesão a um conjunto específico de crenças.
O que pensará Deus?
Publicado em NVR 05|02|2025
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