05 fevereiro, 2025

O QUE PENSARÁ DEUS?


 O QUE PENSARÁ DEUS?

         A religião existiu sempre ligada ao ser humano. As dúvidas do Homem sobre aquilo que o rodeia, a necessidade de explicar a vida e a morte, a vontade de entender e dominar a natureza, dirige-o a uma sacralidade, desde o início das primeiras civilizações, onde os mistérios e o desconhecido poderão ser mais bem entendidos.

O Homem, naturalmente cruel e agressivo, encontra no seu envolvimento com Deus, uma resignificação da sua existência e da sua acção. É também através dele que temos a valorização do indivíduo, iniciando-se a construção do conceito de dignidade humana.

É na religião que nasce, de forma mais visível, o combate ao mal, a prática do bem, onde nasce o conceito de caridade e diversas concepções éticas que valorizam o respeito pelo próximo.

Jesus, Confúcio, Alcorão, Rabi Hillel, Buda ou Mahabarta, todos apregoam o mesmo: “Não faças aos outros o que não queres para ti”. Ou seja, é razoável e aconselhável considerar sempre a lei do retorno, o reflexo do espelho e o respeito.

Apesar de ter consciência e condenar que a religião foi diversas vezes aproveitada para justificar guerras e perseguições, reconheço também uma acção contrária, que é de controlo do lado malvado do ser humano, mas que teme o desconhecido, especialmente aquilo que se passa após a morte. A religião funciona como travão, um verdadeiro analgésico.

A religião tem sido uma força poderosa para moldar a ética e a moral ao longo da História, oferecendo respostas para perguntas fundamentais sobre a vida, a morte e o comportamento humano.

Por um lado, a ideia de um Deus que julga as acções humanas e recompensa ou pune, com base em comportamentos éticos, pode servir como uma forma de controle social, ajudando a promover uma convivência pacífica e respeitosa entre os indivíduos. A presença de ensinamentos morais em diversas tradições religiosas, como os princípios referidos, enfatiza a importância do respeito mútuo e da empatia.

Por outro lado, a questão do que acontece após a morte e a possibilidade de um juízo divino é um ponto que gera muito debate e adiciona medo em muitas mentes perversas. A visão de um Deus que recompensa a bondade e pune a maldade pode ser reconfortante para muitos, mas também pode levar a interpretações rígidas e até mesmo fanáticas da moralidade, mas isso já é outro tema.

Esses dois 'lugares' ou 'estados' distintos da vida após a morte, um com Deus e outro sem, atinge o objectivo máximo de controlar as sociedades. A lei de Deus define que os pecadores irão para o Inferno e os não pecadores, caridosos e sofredores irão para o Céu. Simplificando é assim, uma ideia não sei, se certa ou errada, porque nem sei se Deus existe, de uma entidade julgadora dos destinos eternos por uma lista de bons e maus comportamentos, ou seja, "vida boa" e "vida maldosa".

Por vezes, esta configuração estratégica das práticas do bem e do mal e as suas consequências, geram o medo que controla, o Homem, multidões e a humanidade. E aqui fica a questão, os ateus que praticam o bem, sem qualquer segunda intenção, sem esperar nada em troca, depois da morte agradarão muito mais a esse Deus?

Esta pergunta é pertinente e complexa. Muitas tradições religiosas enfatizam não apenas as acções, mas também a intenção por trás delas. Se a bondade é praticada de maneira desinteressada, sem a expectativa de recompensa, isso pode ser visto como um acto de verdadeira moralidade, que transcende a questão da crença. Para algumas tradições, o valor das acções está mais na sinceridade e na compaixão, do que na adesão a um conjunto específico de crenças.

 O que pensará Deus?

Publicado em NVR 05|02|2025

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