Partilhando Pessoa
Escrevi o meu texto
desta semana e perdi-o nas gravações apressadas e ensonadas, no final de uma
noite a chocar a gripe. Pastas e arquivos revirados, não o encontrei. Texto dedicado
às matrafonas do Carnaval, que encantam todos os que pretendem valorizar as
tradições do Carnaval das gentes de Portugal, tentando contrariar escolas de
samba e afins, que surgem muito ridículos no nosso território, de clima frio e quase
900 anos de História e Tradição, que se amplia para além da nacionalidade.
Não há nada que chegue
a um careto e uma boa matrafona, de mamas grandes, maquilhagem exagerada que
contrasta com barbas e bigodes, permitindo aos homens inverter a sua
personalidade durante o Carnaval, expressa através da “feminilidade” de umas
pernas musculosas a usar meias de vidro pretas, com costura perna abaixo,
rematando com uns sapatos ou sandálias maiores do que o número 42, onde lhe
caibam os pés.
Tive preguiça em
reescrever e regressei às minhas leituras.
Decidi partilhar Pessoa, num poema
que refere uma máscara, a sua, sobre a antiga e sempre atual questão «Quem sou
eu?», tão familiar a este poeta:
“Aquela
falsa e triste semelhança
Entre quem
julgo ser e quem eu sou.
Sou a
máscara que volve a ser criança,
Mas
reconheço, adulto, aonde estou,
Isto não é o
Carnaval, nem eu.
Tenho
vontade de dormir, e ando.
Ironia e
metafísica se misturam, num outro poema de Campos:
Estou morto,
de tédio também
Eu bato, a
rir, com a cabeça nos astros
Como se
desse com ela num arco de brincadeira
Estendido,
no carnaval, de um lado ao outro do corredor,
Irei vestido
de astros; com o sol por chapéu de coco
No grande
Carnaval do espaço entre Deus e a vida.”
E adiciono
mais este dedicado à vida:
“A vida é
uma tremenda bebedeira.
Eu nunca
tiro dela outra impressão.
Passo nas
ruas, tenho a sensação
De um
carnaval cheio de cor e poeira…”
3 comentários:
Também tenho saudades das matrafonas, dos carnavais com entrudos a correr atrás das meninas para lhes deitar farinha. Não me agradam os carnavais abrasileirados, nem perco tempo a vê-los.
Em constantim ainda é tudo tradicional, os entrudos correm abaixo e acima a abanar as campainhas e a assustar as pessoas. Lamento que depois arranquem sinais de trânsito, deitem cinza nos carros que passam e não respeitem os mais velhos. Concluindo o carnaval é só pra eles porque os mais velhos não se atrevem a sair de casa.
Parece-me que vai aumentando a valorização da nossa cultura. Fico feliz.
Enviar um comentário