Anita e o ano
bissexto
Estamos em ano
bissexto. Este mês tem 29 dias, mais um para trabalhar.
O ano bissexto serve
com frequência para fazer humor, porque quem nasce neste dia, só terá o seu verdadeiro
aniversário a cada 4 anos, o que fica económico para a família e amigos, e é
decepcionante para o aniversariante, que só recebe presentes de 4 em 4 anos.
Depois de certa idade, quando o cabelo grisalha, uns já têm bigode chinês, pés
de galinha e código de barras, todos gostaríamos de ter nascido no 29 de Fevereiro,
porque nos daria a certeza legítima, comprovada pelo CC, que não envelhecemos tão
rápido.
A contagem do tempo é
uma necessidade, para cada um de nós e para a sociedade, porém, é uma
necessidade unívoca, o tempo está-se a marimbar para nós, nunca para e é-lhe
indiferente a contagem e os anos bissextos.
O GRANDE ARQUITECTO deveria
estar naqueles dias do tanto faz, cansado de criar tanta coisa, concebeu o
tempo sem fornecer manual de instruções, e depois esticou-se no sofá celestial
a apontar o dedo para o infinito, pose parecida com a retratada por Miguel
Ângelo.
Os anjinhos papudos
questionaram-no:
- G. A. o tempo está
criado, desde que foi criado o universo e agora? Como se organiza algo
invisível e tão volátil?
- Tudo eu?! Tudo eu?!
Bastou-me criá-lo, agora entendam-se, deixo ao critério dos humanos. Sou
atemporal, não me vou ralar com isso, agora vou descansar, pois já terminei o
meu acto de Criação. Quem se sentir incomodado que o organize.
-
Então como se vai desenhar a barra cronológica da vida do Homem? Como saberemos
se os relógios da vida batem certo? Onde colocaremos a Revolução Francesa, o
nascimento do Messias ou o Homem do Neolítico? Os Humanos vão baralhar tudo,
solicitamos pelo menos um desenho IKEA (Ignorância Kombatida com Esquema da
Aprendizagem).
- Problema vosso…fui!
Para Adão e Eva, foi simples,
houve apenas 2 tempos: Antes da maçâ e depois da maçã – um sistema binário do
tempo.
Depois, foi correr
atrás de soluções. Sumérios, Egípcios, Chineses, Maias, Judeus, Muçulmanos e Romanos,
todos eles tentaram resolver o problema porque muitos chegavam tarde ao
trabalho, a idade dos filhos era pouco rigorosa, gerando problemas para saber
quanto deveriam entrar para os infantários, o tempo de festejar os equinócios
batia sempre errado, e até era complicado agendar os dias certos para começar e
terminar as guerras. Uma chatice! ainda não havia net e todos desconheciam que todos
andavam à procura do mesmo: a organização do tempo. Fizeram-se milhares de
contas, teses de mestrado, doutoramentos, ajudados pelos ciclos da noite e do
dia, da luz solar e da vela e sempre referenciados pela Lua, que também parecia
brincar com eles, ora gorda, ora magra, ora invisível.
Nós, neste lado do
mundo, levámos com o calendário inventado pelos Romanos; não foi fácil, depois
de milhares de contas, sobravam sempre 6 horas em cada ano, para grande
frustração destes. Copiavam anfiteatros gregos, inventavam coliseus, pontes e
aquedutos, mas eram incapazes de resolver o calendário, devido a umas míseras 6
horas. Repetiram-se contas, e as 6 horas continuavam, e não dava jeito nenhum criar
um dia com apenas seis horas, porque isso significaria baralhar o Sol e a Lua, o
sono das crianças e os horários dos hipermercados.
O Calendário criado em
Roma no século VI foi aprovado 10 séculos depois – não nos podemos queixar da
demora da aprovação do local do novo aeroporto de Lisboa. Levaram 10 séculos
para resolver as 6 horas a mais.
No século XVI, o Papa
Gregório XIII (Ugo Boncompagni), conhecido como bom mediador de conflitos, deu
um murro na mesa e disse:
- Alto e para o baile,
vamos resolver definitivamente o problema das 6 horas, já estou farto disto!
Reuniram-se os
especialistas mais descomplicados da cabeça e nasceu finalmente o primeiro “Compendium”,
contendo a proposta dos anos bissextos, que constava na ideia simples de juntar
as 6 horas acumuladas em 4 anos, ao fim de 4 anos, adicionando mais um dia no
calendário, resultando nesta conta dificílima, 6 horas x 4 anos = 24 horas – enigma resolvido
que passou a denominar-se por Calendário Gregoriano, hoje utilizado em quase
todo o mundo.
Para os que ainda não
entenderam como saber se o ano é bissexto, façam a seguinte divisão: escrevam o
ano como dividendo, as 6 horas no divisor, os 4 anos no quociente, e depois é
fazer as contas, se der resto zero, significa que é ano bissexto, se não der,
não é:
- Não percebeste as
contas? Estudásses!
Publicado em NVR, 28|02|2024
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