Anunciado há muito,
desvalorizado por mim, sempre, eu sou mais cidades, galerias de arte e museus,
até que alguém me convida, não torço o nariz, para quem convida não ficar
triste. Consulto o you tube:
[Neste espetáculo
musical vão ser apresentadas "algumas das suas peças mais icónicas de
alta-costura, entre outros modelos crados exclusivamente para o espetáculo,
num cenário repleto de elementos de multimédia e efeitos visuais"] - Portugal é o 5º pais do mundo a receber este
espectáculo. Borá comprar os bilhetes!
Os bilhetes foram comprados
com tanta antecedência que quase os perdi na desarrumação arrumada da minha
casa, até que percebi que havia uns bilhetes verdes misturados com todos os
outros já utilizados, que guardo como memória.
Experimentei a máquina
fotográfica nova, formatei cartões, fiz pequenas experiências e meti na
carteira.
Toilette de sempre, vesti
“preto que nunca me comprometo”, e para variar, um brilhozito aqui e ali, fui
buscar os meus óculos veneziamos, não fosse dar-se o caso de eu entrar na
loucura, escolhi um anel bizarro e cachuchão e fiz-me ao mar do Marão, cheia de
glamour para dar e vender, e em boa companhia.
Cheguei cedo para ter
lugar no parque de estacionamento do Palácio de Cristal, dei uma volta pela rua
de Miguel Bombarda, para ver as novidades, comi umas castanhas assadas na rua
(imaginem continua a haver no Porto!), passei pelo café Piolho e jantei mesmo por
ali.
Contava com muito
glamour e alguma futilidade. Recordo sempre aquela frase irónica: “A moda é tão
foleira que tem de mudar de 6 em 6 meses.” Encontrei um grande espectáculo de música,
som, imagem, audiovisuais e obviamente moda, as suas peças de alta costura para
o espectador ver, apreciar e aplaudir. Gaultier é um nome incontornável no
mundo gigante da moda, aprendeu com os estilistas da alta costura francesa,
porém, a sua irreverência rompeu com alguns paradigmas. Procurou, modelos que
saem do estereótipo do magro, medidas perfeitas, pele “limpa”, outros padrões
de beleza, considerando que a beleza é construída mais por quem vê, do que por
quem é alvo desse adjectivo. Fica bem este conceito, neste mundo alucinado pela
perfeição e abre a porta a uma revolução da moda, aliando e acompanhando o
progresso das artes, nas suas várias vertentes e as suas expressões contemporâneas.
O glamour continua e
associa-se a várias inspirações do autor, para a criação deste seu fashion
imaginário, a saber (creio ter identificado): Pedro Almodóvar, Catherine
Deuneuve, Pierre Cardin, Gilbert Bécaud,
Madonna, Kylie Minogue, Régine Chopinot e Angelin Prejlocaj.
A sua personalidade
fica bem identificada neste registo: excêntrico, sensual, escandaloso, provocador,
divertido, exuberante e sobretudo inteligente; este espectáculo funciona como
uma campanha publicitária gigante, que o consumidor paga para ver – mais um
paradigma derrubado. É para quem sabe e pode! Normalmente a publicidade é um
investimento na divulgação de algo, com custo financeiro, que terá retorno ou
não, consoante o consumo posterior desse produto.
Jean Paul Gaultier
aproveita todos os recursos tecnológicos do mundo do espectáculo a favor da sua
publicidade, e não precisa de esperar pelo consumidor para haver retorno,
porque o retorno antecipa-se logo na visualização da publicidade. Em vez de
pagar pela sua publicidade, nós é que pagamos para a ver – o inverso da lógica.
Publicado em NVR, 22/11/2023
Sem comentários:
Enviar um comentário