29 novembro, 2023

Anotadora de mundos

 Anotadora de mundos


 Escrevo para dar resposta a um propósito, para exteriorizar reflexões, para encurtar distâncias entre mim e os outros, para pluralizar emoções, para amenizar estados ansiosos que necessitam de expressão. Corro riscos, financeiros e pessoais. Expondo-me, começo a pertencer à vida de quem me lê, num exercício desequilibrado, numa relação unívoca, que nunca sei se será boa ou má, porque me exponho, porque me partilho para desconhecidos.

Um dia uma colega questionou-me já afirmando, que eu deveria sofrer de um grande complexo de inferioridade e eu apenas sorri, porque essa apreciação é de facto desconhecer completamente o mundo da criatividade. Para essa pessoa, eu deveria estar em casa a cozinhar, a limpar o pó e a ver telenovelas, ignorando que há outros mundos, para mim, mais enriquecedores.

A criatividade é uma competência de valor e aplicabilidade universais, ou se tem, ou não se tem, que se desenvolve ou não, relacionada com a capacidade de um indivíduo imaginar, criar, produzir ou inventar conceitos e coisas inéditas. Essa capacidade que se amplia constantemente junta inteligência, conhecimento, personalidade, motivação e contexto ambiental. Desconheço se Freud rotulou esta forma de viver como complexo de inferioridade, mas também é-me indiferente, porque nada me acrescenta ou retira.

A introspecção, por vezes, confunde-se com timidez. A observação, a curiosidade e o questionamento, inquieta quem está mais próximo. A capacidade de processar ideias, articular e comunicar pensamentos pode parecer, e é, atrevimento, ousadia e rebeldia, mas nada tem a ver só por si, com complexos e traumas mal resolvidos; é algo inofensivo, saudável e por vezes hilariante. 

Obviamente, que tenho traumas, como toda a gente, e já adquiri capacidade para rir deles, tenho e assumo que sou carente afectiva, quem não é? A diferença é que eu quero ser carente e quanto mais mimo me dão, mais eu quero, porque a felicidade localiza-se no infinito. Estes meus problemas vivo bem com eles, e carrego-os carinhosamente sempre comigo, eu diria que até os alimento e estimo, mas sofrer de distância e de criatividade… é aquele “só estar bem onde não se está”, é ter urgências que se vertem em palavras, é concretizar sonhos que parecem impossíveis, é não saber esperar, é conversar comigo mesma e criar projectos e cumpri-los, sem esperar por estímulos de alguém, sem sobrevalorizar críticas, sem me intimidar com obstáculos, no fundo, é estar no fio da navalha permanentemente, é caminhar na corda suspensa sem rede, é a adrenalina como se estivesse a saltar sem paraquedas, apenas porque desconsigo viver de outra forma. Tento passar entre os pingos da chuva, não machucar ninguém com este meu pensar fora da caixa, não afectar muito o meu trabalho e as responsabilidades que vou assumindo ao longo da vida, mas isto não é um caminho que se escolhe, é um viver alternativo que me escolheu assim como sou.

Conclui mais um projecto de escrita, escrevi 3 livros, sem me considerar escritora e sinto-me grata a todos os “personagens” que fluíram no meu processo criativo e que eu sem cerimónia tomei emprestados e os converti em conteúdo. Agradeço também a quem me acompanha, e se deixa levar na minha onda louca e criativa, em situações inesperadas. Por último, agradeço aos leitores que leem alguém, que não passa de uma mera anotadora de mundos, eu.   

Publicado em NVR 290/11/2023

28 novembro, 2023

ANTECIPANDO




ANTECIPANDO

Grande hotel de Lugo


25 novembro, 2023

ORANGE THE WORLD


Os valentões que gostam de andar ao pontapé e ao chapadão, devem escolher parceiro que possa devolver no dobro a dose de violência. Caso contrário, qual é a piada?  Quando um homem bate numa mulher desceu ao degrau mais baixo da cidadania e da boçalidade. Pode ter toda a razão do mundo, mas perde-a no acto animalesco que é bater em alguém fisicamente mais frágil.

Na nossa sociedade, infelizmente, anda muito instinto violento disfarçado de homens aparentemente decentes, com quem cruzamos na rua, que encontramos no local de trabalho, que se sentam ao nosso lado no metro, porém, em algum momento das suas vidas deixam de ter controle do seu instinto e assumem a sua inteligência fraquinha e a sua personalidade nojenta. 

Os especialistas constatam que não existe um perfil típico do agressor e que há vários tipos de violência, mesmo assim, a existência de diferentes tipos de agressores não significa que algumas formas de maus-tratos não sejam graves e condenáveis. O facto da violência de um homem ser menos frequente ou menos intensa do que a de outro, não torna o seu comportamento justificável. Não existe violência “aceitável”. E quem bate uma vez, bate duas ou três.

Aquela justificação primária “perdi a cabeça” é a justificação mais imbecil que conheço. Quando perdem a cabeça, fustiguem-se, bebam azeite a ferver, pendurem-se do lado exterior da varanda, será o melhor exemplo que podem dar aos seus filhos ou à sua família.

Mas porque é que os homens agridem as mulheres que lhe são próximas? Porque querem afirmar a sua suposta superioridade, porque não suportam ser contrariados, porque lhes falta poder de argumentação, inteligência emocional, porque fazem renascer o seu machismo vil e bafiento (fico-me pelas palavras mais bonitas e aquelas que a minha educação permite).

Orange the world – movimento internacional que combate a violência contra as meninas e as mulheres  - 25 de novembro de 2023.

“A violência contra as mulheres e doméstica é uma grave violação dos direitos humanos e uma forma de discriminação com impacto não apenas nas vítimas, mas na sociedade no seu conjunto.(…)

A Convenção de Istambul reconhece que a violência contra as mulheres e a violência doméstica é um problema de saúde pública, assim como educacional, social, de segurança e criminal – assumindo diversas formas, como a violência doméstica – onde se inclui a violência no namorou a mutilação genital feminina.” (…)

https://www.cig.gov.pt/area-portal-da-violencia/enquadramento/

“Se precisar de ajuda ou tiver conhecimento de alguma situação de violência doméstica, envie uma mensagem para a Linha SMS 3060 ou ligue 800 202 148. Esta linha é gratuita, funciona 7 dias por semana, 24 horas por dia.”


 

22 novembro, 2023

JEAN PAUL GAULTIER - FASHION FREAK SHOW MUSICAL

Anunciado há muito, desvalorizado por mim, sempre, eu sou mais cidades, galerias de arte e museus, até que alguém me convida, não torço o nariz, para quem convida não ficar triste. Consulto o you tube:

[Neste espetáculo musical vão ser apresentadas "algumas das suas peças mais icónicas de alta-costura, entre outros modelos crados exclusivamente para o espetáculo, num cenário repleto de elementos de multimédia e efeitos visuais"] -  Portugal é o 5º pais do mundo a receber este espectáculo. Borá comprar os bilhetes!

Os bilhetes foram comprados com tanta antecedência que quase os perdi na desarrumação arrumada da minha casa, até que percebi que havia uns bilhetes verdes misturados com todos os outros já utilizados, que guardo como memória.

Experimentei a máquina fotográfica nova, formatei cartões, fiz pequenas experiências e meti na carteira.

Toilette de sempre, vesti “preto que nunca me comprometo”, e para variar, um brilhozito aqui e ali, fui buscar os meus óculos veneziamos, não fosse dar-se o caso de eu entrar na loucura, escolhi um anel bizarro e cachuchão e fiz-me ao mar do Marão, cheia de glamour para dar e vender, e em boa companhia. 

Cheguei cedo para ter lugar no parque de estacionamento do Palácio de Cristal, dei uma volta pela rua de Miguel Bombarda, para ver as novidades, comi umas castanhas assadas na rua (imaginem continua a haver no Porto!), passei pelo café Piolho e jantei mesmo por ali.

Contava com muito glamour e alguma futilidade. Recordo sempre aquela frase irónica: “A moda é tão foleira que tem de mudar de 6 em 6 meses.” Encontrei um grande espectáculo de música, som, imagem, audiovisuais e obviamente moda, as suas peças de alta costura para o espectador ver, apreciar e aplaudir. Gaultier é um nome incontornável no mundo gigante da moda, aprendeu com os estilistas da alta costura francesa, porém, a sua irreverência rompeu com alguns paradigmas. Procurou, modelos que saem do estereótipo do magro, medidas perfeitas, pele “limpa”, outros padrões de beleza, considerando que a beleza é construída mais por quem vê, do que por quem é alvo desse adjectivo. Fica bem este conceito, neste mundo alucinado pela perfeição e abre a porta a uma revolução da moda, aliando e acompanhando o progresso das artes, nas suas várias vertentes e as suas expressões contemporâneas.  

O glamour continua e associa-se a várias inspirações do autor, para a criação deste seu fashion imaginário, a saber (creio ter identificado): Pedro Almodóvar, Catherine Deuneuve, Pierre Cardin,  Gilbert Bécaud, Madonna, Kylie Minogue, Régine Chopinot e Angelin Prejlocaj.

A sua personalidade fica bem identificada neste registo: excêntrico, sensual, escandaloso, provocador, divertido, exuberante e sobretudo inteligente; este espectáculo funciona como uma campanha publicitária gigante, que o consumidor paga para ver – mais um paradigma derrubado. É para quem sabe e pode! Normalmente a publicidade é um investimento na divulgação de algo, com custo financeiro, que terá retorno ou não, consoante o consumo posterior desse produto.

Jean Paul Gaultier aproveita todos os recursos tecnológicos do mundo do espectáculo a favor da sua publicidade, e não precisa de esperar pelo consumidor para haver retorno, porque o retorno antecipa-se logo na visualização da publicidade. Em vez de pagar pela sua publicidade, nós é que pagamos para a ver – o inverso da lógica.

Publicado em NVR, 22/11/2023



19 novembro, 2023

Apresentação em Justes - "De cereja em cereja beijo o verão"

 "De cereja em cereja beijo o verão" obra de Anabela Quelhas, com prefácio de Pedro Ferreira.

Pré - apresentação no auditório dos Bombeiros de Justes - 19/11/2024




























FINAL E INTERIOR DA CONTRACAPA