Pedro Abrunhosa e Camponeses de Pias
A montanha desceu até ao mar para
abraçar o Porto
E chovia
Voámos pelas ruas agarrando as
palavras entre nós
E chovia
Deixamos que as nuvens se
arrumassem lá no céu
E parou de chover
Entramos no Coliseu como se este
fosse só para nós.
Quase os primeiros.
Ofereceste-nos
uma noite harmoniosa e inesquecível. Valeu a pena descer a montanha. Já ouvimos
tantas vezes as mesmas músicas, em vários lugares, mas nunca as cantas da mesma
maneira, portanto é sempre diferente e uma boa surpresa, revelando a grande
capacidade que tens de decompor e voltar a compor e confirma a tua criatividade.
A mistura, a ligação entre os vários momentos, os efeitos de luz a “rasar” a
plateia, a tua bela homenagem a Cohen e aos Bee Gees são a nota do teu
despretensiosíssimo, bom gosto e também a pequena “nota” que enquadra a nossa
geração.
Os teus
Bandemónios estão cada vez melhor, e foi um golpe de génio unires a tua música
ao cante alentejano dos Camponeses de Pias[1],
Património Cultural Imaterial. Esse teu gesto revela o teu interesse profundo
por este país, pela sua cultura, dás-lhes palco e dás-nos a oportunidade de
conhecer melhor este coro, que não seria possível de outro modo, aqui no Norte.
Ser património é lindo, mas normalmente ganha mofo por ter público reduzido, e
tu abres-lhes portas para o mundo e dás-lhes espaço na identidade dos teus fãs.
Tivemos uma visão em plano picado sobre o palco e ver todos aqueles homens
alinhados no fundo do mesmo, simultaneamente tão discretos e tão presentes,
geraram momentos únicos e fortes, que ficam registados na nossa memória e
reforçam a nossa identidade. Parabéns Paulo Ribeiro.
E tu, Pedro,
continuas a sublinhar incansávelmente a mensagem de paz, amor e tolerância,
cada vez mais necessária e oportuna nos dias que correm. Foi um grande
espectáculo com várias vertentes, a música, os silêncios, os ritmos, a luz e as
palavras, em comunhão com os espectadores e o espaço fantástico do nosso
Coliseu, que contém tantas histórias desta cidade. Valeu a pena deixar o Reino
Maravilhoso e vir até aqui. Aplauso, obrigada Pedro. Que o amor nos salve! Nós
teremos sempre o desejo de te ver novamente, não pares de nos surpreender.
(14/04/2023)
[1]
O Grupo Coral e Etnográfico “Os Camponeses de Pias” foi criado em 1968 para
divulgar as modas da sua terra. Cantaram com Vitorino, Janita Salomé, Lua
Extravagente, Rio Grande, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Farró Brabo, Ala dos
Namorados e João Gil. O Cante alentejano
foi classificado como Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela UNESCO
em 27 de novembro de 2014.
Quanto às origens há duas
possibilidades: 1 - cantes árabes sefarditas, levados para Marrocos pelos
judeus expulsos da Península Ibérica no séc. XVI; 2 - canto bizantino, filiado
nas liturgias ortodoxas; 3 - ligação a
cânticos religiosos nascido eventualmente nas escolas claustrais da Sé de
Évora.
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