Como perdoar a pedofilia?
A Comissão Independente para o Estudo
dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica validou 512 dos 564
testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de
vítimas da ordem das 4.815.
A Igreja pretende tapar
o sol com uma peneira de cinismo e hipocrisia, edificada ao longo de séculos. Onde
está a ética e os valores do catolicismo? Está tudo ao contrário do que deveria
estar. Vivi uma semana completamente estupefacta com a reacção da Igreja, aos casos
de pedofilia apontados a alguns membros desta.
A Igreja perde
credibilidade diariamente. Eu, que sou agnóstica, nunca me senti tão incomodada
com as posições de alguns elementos da Igreja, como estas conferências de
imprensa, dadas no início da semana anterior. Por vezes até brincava, afirmando
que apesar de ser agnóstica, andava a ganhar pontos para entrar no paraíso,
visitando igrejas e conventos. Depois disto, nem me apetece visitar igrejas,
nem me apetece continuar baptizada, porque não pretendo contar para o número de
católicos deste país.
Um acto de pedofilia
perdoa-se e pronto?! Rezam-se 30 ave-marias todos os dias de joelhos e já
está?! Mas que Igreja é esta?
Daniel Sampaio afirmou
publicamente: “A Igreja não se colocou do lado das vítimas”. E é verdade.
Andamos nós a pagar
palcos, jornadas da juventude, a respeitar os senhores vestidos de preto com
cabeção, Fátima e rituais, para isto! Justiça misturada com perdão, misericórdia,
contradições intoleráveis e encobrimento? Cada caso é um caso, obviamente. Mas
que provas faltam? Como se perdoam pedófilos? Nem dentro, nem fora da igreja,
mas parece que estes, dentro de igreja, serão protegidos pelo Cardeal Patriarca.
A Igreja mentiu quando referiu que nada pode fazer.
A Igreja goza de uma impunidade
escandalosa, que protege abusadores, sem empatia para quem sofreu abusos. Eu
esperava mais da Igreja, não em relação à empatia para com as vítimas, se assim
fosse, este crime estaria resolvido há muito tempo, mas pensava que fariam tudo
para não espantar o rebanho. A Igreja sempre soube dessas práticas, não foi ela
que inventou o acto da confissão que controla tudo e todos? e já teve muito
tempo para reflectir, para filtrar e eliminar os praticantes, e o que dá ideia,
é que sabem que esta é a ponta do iceberg da imoralidade, e temem, que, de
arrasto, virão outros casos que não foram denunciados. A Igreja parece um navio
sem rota, perdido no oceano, incapaz de se reorganizar porque sempre pensou que
dominaria as sociedades que são tementes a Deus. As dioceses trabalham a várias
velocidades e por quê? Poderemos pensar tudo, de bom ou de mau, ou é excesso de
rigor e de verdade ou ganham tempo para safar a pele de alguns?
E os casos que
prescreveram ou abusadores que já faleceram, merecem a mesma atenção e rigor, para
com vítimas ainda a indemnizar. Segundo percebi, esta parte também não agrada
ao Papa Francisco que divulga a TOLERÂNCIA ZERO, porém, pretende ilibar a
Igreja da responsabilidade das indemnizações. Que mau! Que decepção.
“Isto não está a ser
muito católico”, como diz o indecifrável bispo de Beja. Claro que não, as
vítimas foram secundarizadas, mais uma vez, agora na compaixão, pela mesma
identidade, a Igreja.
Espero que outras vítimas
ganhem força para a denúncia. Eu nem posso recordar a entrevista do bispo de Beja
– repugnante. A Igreja está mais preocupada
em salvar a sua imagem, do que proteger as vítimas. Somos todos pecadores? Alto
e pára o baile! eu nunca fui pedófila, nem criminosa, nem corrupta. Iguais???!!!!
NUNCA.
A Igreja tem metido os
pés pelas mãos e tem vindo a corrigir a sua verborreia, de forma reactiva à
opinião publica, mas creio que já vai tarde.
Tenho família e amigos
católicos e verifico o seu desconforto perante este tema, estão sem argumentos
perante este encobrimento escabroso, receando o colapso desta instituição,
quase um projeto de vida de cada um deles.
E aqueles que dizem, “mas
na família a pedofilia é muito pior”. Esses são miseráveis, nenhuma situação
desculpabiliza outra.
Publicado em NVR 15/03/2023
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