A espiral
A espiral ou linha do
caracol é das formas que mais me seduzem e acabei por adoptá-la na minha vida
profissional e no resto da vida que se vive no dia a dia e nem classificação
tem.
Uma linha que parte
de um ponto e nunca se sabe onde termina. O seu traçado é infinito, algo de
dimensão universal. Há poucos dias encontrei-a desenhada num bloco de granito,
como marca do mestre pedreiro, o que me fez recuar até à Idade Média. Utilizo-a
como assinatura em fotografias especiais e utilizo-a como sinónimo gráfico à
palavra dialéctica, ou seja, o caminho entre as ideias, que nos levarão sempre
a ideias e conceitos novos.
A espiral pode converter-se
em algo místico, mágico e filosófico, levar-me-ia por caminhos que não domino,
certamente em direcção ao Grande Arquitecto de tudo isto.
Fiz uma rápida
pesquisa na net e encontrei a obra, “A dinâmica da espiral, uma aproximação
ao mistério de tudo”, de João Formosinho e J. Oliveira Branco, com 547
páginas e um índice, que começa “Da Mente à Cultura através da Arquitectura e
da Ciência” e termina na “A Dinâmica de Tudo” que assegurará a ocupação do meu
tempo de leitura e reflexão nos próximos meses.
A espiral é linha do
questionamento sobre a condição humana e tudo o que existe ou supomos existir. Essa
linha curva, aberta, sedutora, infinita e misteriosa, pode cruzar-se com a
arte, a filosofia, a ciência e a teologia. Uma linha misteriosa que mergulha na
criação do mundo e termina no infinito se ele de facto não existir.
A espiral é o traçado
geométrico que mais nos remete para a incerteza, mas também é a maior promessa
de futuro. Compreender uma espiral é entrar na dimensão temporal irreversível,
que talvez organize o universo.
Existem vários
traçados geométricos, os mais simples com apenas dois centros, que se convertem
numa espiral regular, para os mais modestos e menos exigentes, e as mais
complexas, cuja proporção se obtêm através de cálculos matemáticos
exponenciais, resultando a espiral de ouro, porque também se inicia no denominado
rectângulo de ouro.
Entramos assim num
cenário que alterou a história da arquitectura, e que nos ajuda a compreender a
monumentalidade e a beleza clássica da arquitectura da Grécia Antiga. Entrar
neste mundo intimida, porque descobrimos a ordem da natureza e alguns dos seus
mistérios.
E para que isto
interessa?
Talvez para nada, ou
para abrir caminhos para investigações individuais.
Quando chega o fim de
semana, pretendo quebrar rotinas, fico assim, não me apetece fazer as
refeições, não tenho lugares de culto para cumprir, e fico em sintonia ociosa comigo
mesma, a pensar em espirais… neste, especialmente, com neve nos pontos altos e adivinhando
o caos da solução apresentada, para resolver o problema da habitação em
Portugal. Entre espirais e melões, opto obviamente por espirais.
Para os mais crentes,
apenas informo que tive um acidente de trabalho há 15 meses e este Estado do
melão, ainda não me pagou as despesas de saúde que suportei. O Estado do melão demorou
6 meses para criar o meu processo de acidentada, imaginem os futuros processos
dos inquilinos e dos senhorios. Eu, que
sou muito Estado, não sei explicar, sinto-me em contradição e remeto-me para as
espirais, para não começar a comer os tapetes cá de casa e a contar os azulejos
da cozinha.
Publicado em NVR, 01|03|2023
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