16 julho, 2021

PARABÉNS, DOUTOR

 PARABÉNS, DOUTOR      


            Na quinta-feira passada tive o prazer de assistir à apresentação de mais um livro do meu estimado amigo Caseiro Marques. Ainda não li o livro, apenas apreciei a capa.

            - Gostei da capa, Teresa. Está muito bem, comentei com a sua companheira, enquanto ele assinava o seu livro para me oferecer.

            - É uma gravura que ele tinha no escritório. Esteve lá sempre. Não se lembra?

            Rebobinei a memória e de facto lembro-me dessa imagem pendurada no seu escritório localizado na Travessa da Portela, a imagem da Justiça personificada pela mulher a levantar a balança. Explicando isto melhor, pensava eu que seria a imagem da deusa grega Thémis  filha do Céu e da Terra, esposa de Zeus, o deus supremo, criadora de leis que organizavam os homens e guardiã dos juramentos dos mesmos. Mas afinal confirmando detalhes, agora em casa, descubro que quando a figura feminina tem os olhos vendados, representa a deusa romana Justitia. A venda nos olhos não significa que a justiça seja cega, mas que trata todos de igual forma.

            Quero registar aqui o meu apreço pela sua postura perante a vida. A sua avontade de escrever e partilhar o que escreve, revel o seu lado erudito e simultaneamente altruísta. E ele escreve. E agora que tem tempo, ainda escreve mais. A sua vida provavelmente ainda faz mais sentido, porque nos revela o que é, o que sente e o que o afecta. Ele não espera que a vida aconteça, ela faz acontecer.

            Conheço o Dr. Caseiro Marques há muito tempo, não como advogado, porque felizmente não precisei, mas temos cultivado uma bela amizade. Somos muito diferentes, mas temos desenhado convergências que nos aproximam, e uma delas é a escrita, para além das beldroegas que me oferece todos os anos e de que ambos gostamos de juntar à sopa.

            Foi ele que me convidou para escrever neste jornal, convertendo um passatempo num exercício regular, disciplinado e em liberdade, que muito me tem ajudado a evoluir no mundo da escrita.

            Politicamente não somos próximos, evito o assunto, mas após de ponderados os assuntos mais importantes da vida, descubro que ambos somos humanistas, apesar de ele acreditar em Deus e eu ainda não acreditar. Respeito o seu lado e ele respeita o meu.

            Tem sentido de humor, não é homem cinzento, gosto do seu apego a Carapito, é inteligente e astuto, gosta de rir, tem orgulho em ser fuzileiro e aprecio o seu encantamento genuíno pelo seu neto Francisco. Organiza uns passeios culturais entre gente próxima, de uma comunidade semi-rural, tendo-me permitido participar e com quem tenho aprendido e conhecido pessoas simples e sãs, como eu gosto.

            Tenho em memória uma bela visita a Aranjuez, à Corunha, a Segóvia e já saboreamos ao final dum dia quente madrileno, na Plaza Maior uns simples huevos com jamón, deliciosos.

            - O que é isso que vai pedir?

            - Ovos com presunto e batatas fritas.

            - E isso é bom?

            - Vai-me saber pela vida, a melhor ementa do mundo...

            Na quinta-feira no final da sessão, vira-se para mim e uma amiga comum, lembrando-se de uma pequena viagem que fizemos no sábado anterior para visitar a casa de Júlio Dinis...

            - Vós sois umas andarilhas, na próxima vez também quero ir convosco. Já disse à minha mulher. Convosco, ela deixa-me ir.

            Parabéns, doutor, continue assim.

Publicado em NVR, 14/07/2021

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