LIVRO DAS FREGUESIAS
Passo
pelo escritório do jornal para adquirir o livro das freguesias e deparo-me com
um grande calhamaço, que o distinto Dr. Ribeiro Aires concebeu.
Grande
Livro penso eu, com letras maiúsculas.
Por
coincidência, enquanto pago o livro, o autor fala ao telemóvel com uma
colaboradora do jornal, que lhe diz quem está com ela. Do telemóvel oiço a voz
do meu amigo, dizendo que colocou lá uma foto minha.
-
Ui, espero que seja com cara de sábado, porque a de segunda-feira não presta.
Respondi sorrindo.
Saio
do Pioledo e subo a avenida D. Dinis, que me presentei-a sempre com boas
recordações do nª 18. Vou com o livro pesado numa das mãos tentando equilibrar
a minha artrose da anca e sinto as sapatilhas a colarem-se ao chão.
Penso
nas brincadeiras que vivi no nº 18, penso de novo nas freguesias, as sapatilhas
continuam a colar-se ao chão... ainda me vejo em criança no Largo que vem a
seguir, ao qual eu chamava Largo do Diogo do Cão. Um largo moderno,
sobre o qual nem todos os cidadãos entendem a sua assimetria, porque rompe com
as regras tradicionais herdadas do urbanismo renascentista. Gosto desse largo e
considero que lhe falta apenas uma pequena intervenção para reforçar a sua
identidade. Tenho uma, na ideia.
....
continuam a colar-se, tento ver se pisei alguma pastilha elástica, confirmo que
as sapatilhas não são as que comprei no chinês, ... recordo quando ia para
junto da Escola Industrial ver as corridas dos cavalos na festa de Santo António.
Nhac, nhac, fazem as sapatilhas.
.... nhac, nhac, nhac, nhac, não é
pastilha elástica, mas é a exsudação das árvores (hoje estou a falar bonito!)
composta de uma goma, que se deposita no chão, tornando-o brilhante e bom para
caçar a mosquitada. Nhac, Nhac,. Nhac, Nhac, isto é o som da senhora Quelhas a
subir a avenida, nhac, nhac, já imaginando que irei entrar no carro e as
sapatilhas se colarão aos pedais, nhac, nhac. Sinto-me capaz de converter-me
numa super-heroína e saltar para a parede, tipo Mulher-Mosca, a prima do Homem-Aranha.
Nhac,
nhac, sim, voltando ao livro das freguesias, grande trabalho de atualização,
feito com rigor e critério, explicados logo no início. É o livro que obrigatoriamente
estará sempre por perto, para consulta, para confirmação de dados e para
fundamentar e referenciar em muitos outros livros. Gostei do Pare! é impossível não
referir Miguel Torga, e como é impossível, o melhor é abraçar com toda a força
esta ideia de Reino Maravilhoso.
Passo
a citar uma expressão a propósito, inserida num relato da vida de Cícero:
À
mulher de César não basta ser honesta, deve parecê-lo (Vidas Paralelas de Plutarco). Não
nos basta ser Reino Maravilhoso, é urgente parecê-lo. Chegou a hora, de
aproveitar esta onda cultural que caracteriza o século XXI, a euforia da saída
do confinamento, associando todas as potencialidades do mundo digital, e de
facto parecê-lo. Tanta coisa que há a fazer, porém, está tudo neste livro!
Publicado em NVR 28/077/2021
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