Projecto Mose
Veneza
é Veneza e eu pretendo lá voltar, para conhecer com mais detalhe os pequenos
canais e observar melhor, um pouco fora dos principais percursos turísticos, a
vida dos venezianos.
Ontem
passou um programa na TV sobre o eterno problema de Veneza, denominado, subida
das marés provocando inundações e obrigando os turistas a passear de galochas. Percebi
que há um projecto de engenharia que tentar salvar Veneza da submersão, já que,
desde 1987 afundou 30 cm, ou seja, mais de 1cm por ano.
Curiosamente
o projecto de engenharia denomina-se “Mose”, associando-o a um protagonista religioso
do Velho Testamento, chamado Moisés. Dizem que o profeta dividiu a água do Mar
Vermelho permitindo a fuga do povo hebreu da perseguição do governo egípcio.
Anteriormente
os projetos para salvar Veneza baseavam-se em soluções aplicadas aos edifícios
- solidificar as fundações das construções com betão armado ou tentar elevá-las
do subsolo. Actualmente o projecto Mose inverte o problema com outra
perspectiva sobre a solução. O projecto já esta feito e a fase da execução está
concluída - um sistema de barragens e comportas metálicas, já tão utilizadas em
outras situações menos complexas. Uma enorme barragem, formada por várias
comportas são o sistema “simplificado” a aplicar permite não mexer na cidade e sim,
mexer na água, daí o nome bíblico. A resolução de problemas encontra-se por
vezes na desconstrução do mesmo e da sua envolvente, porque nem sempre as melhores
soluções são as mais óbvias.
São
dezenas de barreiras móveis com trinta metros de comprimento e trezentas
toneladas cada, estrategicamente posicionadas nas três aberturas que ligam a
Lagoa de Veneza ao Mar Adriático. Este projecto de engenharia civil é tão fantástico,
que o seu conceito e estratégia têm inspirado outras equipas de engenheiros,
preocupados em resolver problemas relacionados com a água, tanto em Londres
como em Amesterdão.
Segundo
o livro do Êxodo o profeta levantou os braços e conseguiu dividir as águas do Mar
Vermelho para o seu povo atravessar. Hoje dizem que não foi o Mar Vermelho e
sim o delta do Rio Nilo, explicando o investigador do Centro Nacional para a
Pesquisa Atmosférica norte-americano, Carl Drews que, "... a descrição da
separação das águas tem por base leis da física", atribuídas à acção do
vento. “...um vento de leste a soprar a uma velocidade de um pouco mais de cem
quilómetros por hora, durante oito horas, teria permitido afastar as águas (com
1,8 metros de profundidade). Uma faixa de terra lamacenta entre 3,2 e 4
quilómetros de comprimento e 4,8 quilómetros de largura teria ficado a
descoberto durante quatro horas, com duas paredes de água de ambos os lados.
Assim que o vento parasse, o caminho teria ficado alagado.”
Em
Veneza não existe o tal vento, portanto foi necessário o recurso da engenharia
civil, certamente mais eficaz e duradouro.
Para
conter as marés de tempestades, a instalação de 78 comportas metálicas
submersas deverá impedir as três entradas da laguna de Veneza. Elas são retrácteis
e, quando necessário, sobem até à superfície para evitar que a água do Mar
Adriático inunde a cidade. Este é o maior projecto de infraestruturas da
Itália, para dividir o mar e salvar Veneza.
A
barreira referida foi testada pela primeira vez em 2020, já com efeitos
positivos – Mose impediu as inundações da tempestade Alex.
Como
estamos em Viana do Castelo, Espinho, Figueira da Foz, Lisboa e Vila Franca de
Xira? Esperamos tranquilamente até 2050?
Publicado em NVR 26/05/2021
Sem comentários:
Enviar um comentário