10 março, 2021

DIA DA MULHER



DIA DA MULHER


           Hoje vou escrever sobre uma aldeia que existe no Norte do  Quénia desde 1990, que foi criada só para mulheres.  Rebeca, a líder da aldeia, depois de um casamento onde era brutalmente espancada, decidiu juntar-se a outras mulheres, vítimas de violência e criou uma aldeia sem homens.

            Essa aldeia chama-se UMOJA.

            A cultura de Samburo (Quénia) permite que as mulheres sejam espancadas, estupradas, que casem ainda crianças e sejam submetidas à prática odiosa da mutilação genital. A mulher é propriedade do homem podendo violentá-la, martirizá-la e ate tirar-lhe a vida

            Algumas meninas de 12 anos são obrigadas a casar com homens que tem a idade para serem seus avôs, passando a ser sua propriedade.

            Tudo isto é demasiado mau.

            Apesar dos pedidos de protecção dirigidos às autoridades, nada mudou, porque faz parte da cultura dessas pessoas. As tradições são respeitadas mesmo que sejam desumanas e violentas para as mulheres, consideradas seres menores.

            Então, 14 mulheres sobreviventes de violência, uniram-se e criaram uma aldeia sem homens, para que pudessem viver em paz, de forma digna e podendo proteger outras mulheres e as meninas suas filhas.

            Essa acção não foi bem recebida pelos homens, que inicialmente julgavam que elas eram fracas, não conseguiriam construir as casas das aldeias e criaram vários obstáculos; mas elas conseguiram.

            Escolheram um terreno, chamaram-lhe UMOJA, e construíram tudo sozinhas, casas com estrutura feita de ramos de árvores e com barro e ainda decidiram comercializar as suas joias artesanais, exuberantes, feitas de missangas coloridas, vendendo aos turistas. Com esse dinheiro construiram uma escola, porque entenderam que a educação é muito importante no crescimento das crianças, ensinando-as a respeitar as mulheres.

            UMOJA é uma aldeia matriarcal, onde as mulheres são autónomas, cantam, dançam, criam os filhos em paz, sem a presença dos homens. Nenhum homem pode morar ali, nem mesmo os seus namorados. As mulheres têm os seus namorados e estes só podem permanecer ocasionalmente na aldeia se respeitarem as regras das mulheres líderes. As crianças do sexo masculino crescem e podem ficar na aldeia até aos 18 anos.

            Esta comunidade tem cerca de 100 mulheres, 100 mulheres sofridas que lutam pela sua dignidade e cada uma tem também uma história de sucesso. As mulheres quando têm oportunidade, tal como os homens têm capacidades para liderar, para administrar negócios, infelizmente na maioria das situações as mulheres nem sequer têm oportunidade para provar o seu valor ao mundo.

            UMOJA é considerada um exemplo reconhecido em todo o mundo como matriarcado bem-sucedido

            O Mundo talvez fosse muito melhor, se fosse orientado por mulheres, visto que faz parte da sua natureza, gerar vida, ser resiliente e proteger.

            Enquanto houver UMOJAs assinalarei esta barbárie da discriminação.

            Segundo a ONU, as mulheres continuam a ganhar menos 23% do que os homens. Mais grave ainda, são os números relativos à violência sexual contra as mulheres: 1 em cada 3 mulheres já sofreu algum tipo de violência física ou sexual; e mais de 200 milhões de mulheres e de raparigas foram vítimas da mutilação genital.

              Em Portugal, no primeiro confinamento a APAV recebeu 683 denúncias de violência. Em 2020 foram assassinadas 30 mulheres.

Publicado em NVR 10/03/2021


 

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