Hoje vou
escrever sobre uma aldeia que existe no Norte do Quénia desde 1990, que foi criada só para
mulheres. Rebeca, a líder da aldeia, depois
de um casamento onde era brutalmente espancada, decidiu juntar-se a outras
mulheres, vítimas de violência e criou uma aldeia sem homens.
Essa aldeia
chama-se UMOJA.
A cultura de
Samburo (Quénia) permite que as mulheres sejam espancadas, estupradas, que
casem ainda crianças e sejam submetidas à prática odiosa da mutilação genital. A
mulher é propriedade do homem podendo violentá-la, martirizá-la e ate tirar-lhe
a vida
Algumas
meninas de 12 anos são obrigadas a casar com homens que tem a idade para serem
seus avôs, passando a ser sua propriedade.
Tudo isto é
demasiado mau.
Apesar dos
pedidos de protecção dirigidos às autoridades, nada mudou, porque faz parte da
cultura dessas pessoas. As tradições são respeitadas mesmo que sejam desumanas
e violentas para as mulheres, consideradas seres menores.
Então, 14
mulheres sobreviventes de violência, uniram-se e criaram uma aldeia sem homens,
para que pudessem viver em paz, de forma digna e podendo proteger outras
mulheres e as meninas suas filhas.
Essa acção
não foi bem recebida pelos homens, que inicialmente julgavam que elas eram
fracas, não conseguiriam construir as casas das aldeias e criaram vários obstáculos;
mas elas conseguiram.
Escolheram
um terreno, chamaram-lhe UMOJA, e construíram tudo sozinhas, casas com
estrutura feita de ramos de árvores e com barro e ainda decidiram comercializar
as suas joias artesanais, exuberantes, feitas de missangas coloridas, vendendo aos
turistas. Com esse dinheiro construiram uma escola, porque entenderam que a
educação é muito importante no crescimento das crianças, ensinando-as a
respeitar as mulheres.
UMOJA é uma
aldeia matriarcal, onde as mulheres são autónomas, cantam, dançam, criam os
filhos em paz, sem a presença dos homens. Nenhum homem pode morar ali, nem mesmo
os seus namorados. As mulheres têm os seus namorados e estes só podem
permanecer ocasionalmente na aldeia se respeitarem as regras das mulheres
líderes. As crianças do sexo masculino crescem e podem ficar na aldeia até aos
18 anos.
Esta comunidade
tem cerca de 100 mulheres, 100 mulheres sofridas que lutam pela sua dignidade e
cada uma tem também uma história de sucesso. As mulheres quando têm
oportunidade, tal como os homens têm capacidades para liderar, para administrar
negócios, infelizmente na maioria das situações as mulheres nem sequer têm
oportunidade para provar o seu valor ao mundo.
UMOJA é
considerada um exemplo reconhecido em todo o mundo como matriarcado bem-sucedido
O Mundo talvez
fosse muito melhor, se fosse orientado por mulheres, visto que faz parte da sua
natureza, gerar vida, ser resiliente e proteger.
Enquanto
houver UMOJAs assinalarei esta barbárie da discriminação.
Segundo
a ONU, as mulheres continuam a ganhar menos 23% do que os homens. Mais grave
ainda, são os números relativos à violência sexual contra as mulheres: 1 em
cada 3 mulheres já sofreu algum tipo de violência física ou sexual; e mais de
200 milhões de mulheres e de raparigas foram vítimas da mutilação genital.
Em
Portugal, no primeiro confinamento a APAV recebeu 683 denúncias de violência. Em
2020 foram assassinadas 30 mulheres.
Publicado em NVR 10/03/2021
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