PRIORIDADES
Na semana
passada Manuela Ferreira Leite, mulher que já teve grandes responsabilidades
políticas e uma opinion maker da TV, já que lhe dão canal, afirma que não
percebe porque se pretende vacinar professores e que estes estejam agora na
linha das prioridades.
Quando ouvi
isto, pensei que a mulher já estava demente, mas conclui, que é mesmo mau
feitio e aquela animosidade que nunca a abandonou, contra uma classe
profissional.
Será que é
preciso fazer um desenho?
Imagine que
lhe entram em casa/apartamento, 25 criancinhas todas sem máscara, a querer
beijocá-la, tocá-la, que se agarram a si, passam-lhe as mãos lambidas pelos móveis
da casa, e que, ao mesmo tempo, se vão tocando entre si, entre abraços e retirar
a ranheta do nariz. E ficam aí consigo de manhã e de tarde, na sua sala com
cerca de 25m2 o máximo, e obviamente, a doutora não vai negar os afectos
traduzidos em abraços, que muitos não têm em casa. E vá contando, elas pedem
para ir ao quarto de banho, têm mesmo de ir, e esquecem-se de lavar as mãos,
querem lanchar quando estão com fome e precisam de beber também.
Agora, imagine
que em vez de crianças, entram-lhe em casa, 25 adolescentes, todos com máscaras,
aquelas máscaras que o ministério deu, 3 para usar durante um período. Nunca
saberemos quando foram usadas pela primeira vez, se foram lavadas e
desinfectadas devidamente. No primeiro contacto desifectam as mãos, respeitam a
maioria das regras de segurança, mas depois quando ganham confiança, afinal
também se abraçam entre si, trocam materiais, desde as borrachas ratadas até às
esferográficas em 2ª ou 3ª mão, folhas de papel e tocam-lhe nos móveis, no computador
e vão-se sentando na sua mobília Xis Vi… pousando as mochilas em cima da mesa e
dos sofás e… finalmente a setora descobriu que a sua sala, não possui dimensões
para que se respeite as distâncias de segurança… e depois de 90 minutos,
retiram-se com grande alarido e na sua porta, já estão mais 25, prontinhos para
entrar, cada vez mais impacientes, porque andar de máscara complica com os
nervos e alguns deixam-na cair para o queixo, tal como fazem muitos adultos, e
voltam a ocupar a sua sala, espalhando a sua pegada juvenil por toda a casa.
A doutora nem tempo
tem para passar a esfregona com lixívia, nem o desinfectante onde os anteriores
tocaram… Mais 90 minutos e outros repetirão a dose até perfazer mais de 5
horas, depois saem todos e deixam-na em sossego durante a hora do almoço.
Vai respirar
de alívio, colocará o lenço sobre o penteado estruturado em ripanço e laca, abrirá
as janelas, rapidamente irá à despensa organizar o material de limpeza, passar
a esfregona pela casa toda, borrifar o sofá, passar toalhetes nas cadeiras e
vai perceber que alguns puseram as mãos nas cortinas e não as pode lavar, outros
deixaram a ranheta e a chiclete plasmadas por baixo da sua mesa ou nas costas
das cadeiras.
Tocam à
campainha, que chatice recomeça este pesadelo, entra mais um grupo de 25, com a
euforia de pós-almoço, querem falar consigo, querem trocar papeis, a doutora
não ouve bem, pede para eles falarem mais alto, e eles vão aliviando a máscara
do nariz para o som sair…ufff alguns cheiram a transpiração e a chulé, uhhhh
não estava a contar, pois não? mas ainda há aquele que disfarçadamente solta
uma bufa, outro espirra e tira a máscara em simultâneo, e o outro, tosse.
Percebe que afinal dois ou três estão com sintomas gripais, e estão ali,
desconfia também que a família de outros estão doentes, porque os viu na fila
Covid do centro de saúde, mas mandaram os filhos para a sua casa. A maioria usa
transporte escolar, tudo a monte e fé em Deus e lá chegam eles todos felizes à sua
casa, onde a setora e os seus colegas, que se encontram também com estes e
outros jovens, os recebem e que não precisam de ser vacinados.
O problema,
sabe qual é ? é que a sua casa vai ser “invadida”, na segunda-feira, na terça,
na quarta, na quinta e na sexta e na semana seguinte, repete-se.
Afinal porque
é que os professores deverão ter prioridade na vacinação?
Já percebeu?
Não percebeu, então imagine que todos os seus vizinhos, espalhados por cerca de
30 apartamentos, recebem também visitas e em número semelhante, e que eles
sobem e descem as escadas a cada 90 minutos, passando as mãos nos corrimãos,
encostando-se… Será que assim está a ver o desenho tridimensional do contágio.
Ainda bem!
Os brasileiros
costumam dizer a propósito, aguarrás no cú dos outros é refresco para mim.
Publicado em NVR - 31/03/2021