25 novembro, 2020

B.B.


 

Vai ter de superar ahahah | Vai ter de superar ahahah |Essa minina solta |Essa minina solta… (Giulia Be)

              Rei da bobage | O social básico | Princesa do norte | A pérola do meu colar | O Quintino, o Toy, a Cinha Jardim…

              Observam-se as relações de várias pessoas, maioritáriamente jovens, encerradas numa casa luxuosamente bela, com uma brutal piscina localizada junto ao mar da Ericeira. Rapidamente os humores variam ao longo do dia e da noite, como consequência da personalidade de cada um - é esse o desafio segundo os psicólogos. Através da televisão, temos uma montra de emoções humanas, que podemos olhar em anonimato, a qualquer hora do dia ou da noite. Ou então mudar de canal fazer zapping e estacionar numa esquina qualquer.

              Teresa Guilherme, madrinha dos primeiros Big Brothers, apresenta-se de pele bem esticada, parece passada a ferro. Envelheceu. Em vez de sorrir para cima, faz um esgar com os cantos da boca virados para baixo, parecendo uma caricatura do que foi. A transferência bancária deve ser muito motivadora para a senhora sair de casa ao final da noite e mastigar a falta de privacidade de cada jogador.

              Essa vida “difícil” que eles levam dentro daquela casa é enriquecida por desafios e festas constantes, como se vida fosse assim na vida real. Pareço eu a organizar o Natal na minha casa, pensando e criando entretenimento para a minha família passar dois dias à lareira, sempre divertida e ocupada com situações leves e divertidas.

              Muita luz, muitos balões, muita dança, muita sensualidade, tal qual a vida da maioria dos jovens portugueses, com pais desempregados a viver em bairros sociais. (sou eu a ironizar)

              Vai ter de superar ahahah |Vai ter que superar ahahah | Essa minina solta

              A todas as horas, transmite-se a excessiva preocupação com maquilhagens, com toilettes, como se a vida fosse apenas isto. Falam uma linguagem estranha, que abunda entre os jovens, alternando todas as palavras com “tipo isto” e ” tipo aquilo”, pouco “tás a ver mano”. O “pá” quase inexistente, cedeu lugar ao “tipo”,  o que torna os diálogos um autentico massacre.

              Cada um transporta os seus dramas, com o objectivo de aproximar mais esta realidade virtual, ao mundo dos humanos inscrito na sociedade. E o Dr. Quintino comenta - uma figura  que me deixa enfastiada com tantos metros quadrados de lábios, que parecem uma banheira. O Toy puxa da sua veia poética e com frequência faz uns poemas pimba, onde amor rima com sedutor. Pipoca é fria, seca e mal educada e Fanny parece um parque de diversões.   

              Reality show???será? será tudo menos reality!

              Os desafios colocados são pobres de conteúdo e de finalidade.  Fazer piscinas para somar metros até fazer os quilómetros da distância, daqui ao Brasil, receber bolinhas de recados que vão chegando inesperadamente através de um besidróglio, passear com um balão pendurado na barriga,… isto serve para quê? É apenas competição idiota que vão gerando atritos e cumplicidades, mais nada. Incomodam-me tarefas e diversão sem objectivos válidos. Por vezes têm um desafio focado na reciclagem e na sustentabilidade, com o objectivo de elevar o nível.

              Vai ter de superar ahahah | Vai ter de superar ahahah

              O Big, uma das vozes masculinas mais belas do mundo, Cândido Mota, com um sentido de humor depurado, inigualável e com uma paciência infinita, depois de tantos anos na rádio e no Passageiro da Noite (quem se lembra dos anos 80?), salva o show. A voz vai equilibrando estes jovens que depois de algumas semanas colapsam, demonstrando como são pouco resilientes, bastante ignorantes e facilmente desmontam a pose da roupa e da maquilhagem… Por vezes penso: há 50 anos, estes jovens estariam num quartel ou no mato com uma metralhadora na mão…

              Nos diálogos com Cândido Mota, este por vezes utiliza um vocabulário mais depurado que estes simpáticos jovens “do tipo”, não entendem. Assim percebemos, como eles são “tipo”incultos, como eles têm tanta coisa para aprender… sabem fazer maquilhagens prodigiosas, sabem as letras da música da moda, dançam bem kizomba, despejam letras rap, mas coitados, não leem, não conhecem a língua portuguesa, não sabem fazer contas e não se envergonham da sua ignorância. Fumam, usam unhas de pantera, os rapazes cuidam diariamente do visual, com o seu corte de cabelo tipo capachinho, as meninas usam tanguinhas de praia, mesmo que esteja frio, colocam os pés em cima dos sofás onde depois se deitam os rostos e os cabelos…  Deitam-se às tantas, acordam tarde, raramente limpam a loiça que sujam e assim passam o dia e a noite. Dançam e dançam, mas desconhecem qual é a capital da Austrália, em que continente fica a Croácia e como se faz uma conta de dividir… e o que isso interessa?

              Vai ter de superar ahahah | Vai ter de superar ahahah

              Alguns defendem causas… causas de meninos e meninas da mamã e vão ganhando  uns euros, em cada dia que passa e a esperança de contratos milionários no futuro. Entre estes betinhos afortunados, destaca-se um personagem com comportamento inaceitável e que durante algum tempo massacra o bom senso e a saúde mental dos companheiros, até ser expulso. Um menino que parece ser mentalmente instável, mas que os especialistas afirmam que não será, mas cria conflitos, e torna perigosa a sua permanência dentro daquela casa, para ele e para os outros. Mostra-se vândalo e mau, escudando na sua infância vivida com problemas entre o pais, como se isso justificasse a sua acção maléfica.

              Vai ter de superar ahahah | Vai ter de superar ahahaha | Essa minina solta

              Histórias de superação são expostas ao público… a que preço? Pessoas feitas de histórias, querem um futuro melhor e veem aqui uma janela de oportunidade, os três meses de fama que as poderá catapultar para o sucesso e talvez ganhar os 50 mil euros do prémio final.

              Suponho que dentro daquela casa fechada, o tempo fica incomensurável, refletindo-se em stress, conflitos e paixões rápidas. Incomodam-me os pés em cima dos sofás, os pés em cima das cadeiras mexendo nos pés, enquanto comem, a permanência constante entre almofadas no sofá ou nas cadeiras da piscina, à espera de aviões que arrastam uma faixa com algumas palavras dirigidas aos concorrentes, ao bocejo, à parvoeira e ao ócio continuado..          Apesar de tudo eles são simpáticos, amorosos e as audiências sobem. Que lodo!

              Vai ter de superar ahahah | Vai ter de superar ahahah | Essa minina solta.

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