As 5 aprendizagens
Hoje pela manhã, falava
com alguém, que nem conheço presencialmente, sobre os problemas dos jovens de
hoje, com dificuldade em entender o seu papel na sociedade, as expectativas
elevadas que geram frustrações equivalentes e a desresponsabilização sobre a
vida social e política do país.
Cada geração tem as
suas problemáticas, e para entenderem a sua circunstância, deverão fazer muito
mais além do questionar, culpabilizar os outros, ir a festivais, ter os
melhores telemóveis e procurar prazer, fácil, rápido e depressa, recorrendo a
substâncias químicas.
Há 5 aprendizagens que
estão invisíveis na minha resiliência e sentido critico, perante o que me
rodeia, tendo como consequência uma certa frieza no trato de algumas situações,
porque as desdramatizo.
1 – Quando eu tinha
sete anos, o meu pai ensinou-me a construir uma parede, carregando tijolos,
ajudando a misturar o cimento, a areia e a água e ainda experienciando a linha
de prumo, a colocação de tijolos para travar a parede e acamar a argamassa com
a colher, para que a parede fosse bem feita e aprumada. Estava frio e sem luvas
– nesta lição aprendi a valorizar o que tenho e aquilo que ele me deixou, interiorizando
que o esforço, o empenho e o conhecimento são essenciais para atingir o
sucesso.
2 – Com dez anos
mostrou-me com detalhe, o que era um musseque por dentro, sem “mimimis”, sem “não
podes ver porque é demasiado mau” e explicou-me que os emigrantes em Paris,
viviam em “Bidonvilles”, algo semelhante a este habitar sem condições, agravado
por 9 meses de frio; senti o cheiro a pobreza, e a visão de “embriões” de
habitação precária, que a sociedade teimava em esconder – nesta lição de
sobrevivência aprendi a respeitar o outro, tomei consciência de como era
privilegiada, que teria de ser sempre solidária com os mais pobres e os menos
capazes e mais tarde, que o território se articula sempre com a política.
3 – Com a minha avó Felisbela,
pensei que ela nada me poderia ensinar, já que tinha mais 60 anos do que eu, e
nem imaginava quem eram os Rolling Stones; afinal ela soube sobreviver a uma viuvez
precoce, educar cinco filhos e ainda ajudar os outros – aprendi a respeitar quem
ensina e percebi que os mais velhos têm um banco de informação invejável sobre
o “saber fazer”; eles já testaram muito daquilo, que os mais novos pensam, que
inventaram.
4 - A minha mãe
habituada a partidas e a chegadas tinha a capacidade de converter qualquer
espaço, em espaço confortável – aprendi com ela que é sempre possível fazer melhor,
com poucos recursos, desde que haja criatividade e amor.
5 – Tive um explicador
de matemática que conseguiu abrir muitas janelinhas da minha mente, encarando a
matemática como um desafio e não como um problema – este meu mestre ensinou-me
a organizar a vida, a nunca perder o Norte e saber sempre aquilo que não quero.
Cada um terá as suas 5
aprendizagens, 5, 6, 7… tudo aquilo que forma os nossos valores e a nossa personalidade;
e quando tudo se apresenta confuso, quando a sociedade se apresenta corrupta, e
desnorteada, há que desconstruir a nossa geografia e encontrar a nossa matriz
para podermos reencontrar o nosso caminho. Nunca ceda à desilusão, nunca se
abandone à desistência, não se habitue à crítica fácil e frequente, sem
analisar o seu contributo para a sociedade ser melhor; aprenda a relativizar e
deixe o passado lá no sítio dele, preocupe-se com o presente e pense sempre que
este dia pode ser o último.
Conclusão, não esperem
pelos 3 Reis Magos, não esperem por D. Sebastião, não se iludam com um regime
político melhor do que a democracia. Não esperem que os outros façam aquilo que
vocês não fazem. A cama que fazemos é aquela que teremos para nos deitar. Nunca
fuja aos problemas, e às suas responsabilidades, porque este ou aquele não agiu
de forma correcta. Interrogue-se: Qual foi a minha contribuição para resolver o
problema?
Nada acontece na sua
vida? Faça acontecer!
Publicado em NVR 17/01/2024
5 comentários:
Muito bem , Anita !
Mais uma vez revejo - me no que pensas e escreves.
Parabéns e um grande abraço
Quanta verdade nestes 5 ensinamentos. Nós (Eugénia e eu), aprendemos tanto consigo, como professora, coordenadora, mulher e amiga. Tornamo-nos pessoas melhores e melhores funcionárias. Eu, mudei, aprendi a ter mais paciência, a falar mais baixo ( a Gena também ajuda…😃). A idade também é um ponto importante, embora estejamos desiludidos com os baixos vencimentos, a falta de funcionários, as electrónicas que não funcionam… enfim. Sei que somos pessoas melhores graças a SI. Sentimos a sua falta. Beijinhos 😘
A professora é uma excelente pessoa e profissional.
Obrigada pela atenção, dedicação, esforço, responsabilidade e carinho que tem connosco 💕
Para a Eugénia e Adília - meninas exageradas, e eu sinto-me agradecida de ter trabalhado convosco num ambiente descontraído e saudável, sem nunca descuidarmos o profissionalismo das três e sem evitarmos gargalhadas boas de dar. O trabalho de excelência desenvolvido na MJA, só foi possível, porque as duas sempre me assessoraram em tudo e não posso esquecer também a D. Alice. As saudades vamos tentar mante-las (porque é bom sinal) e matá-las com uns encontros à volta da mesa logo que tenha estes ultimos problemas resolvidos.
Gosto-vos. <3
Beijinho Fátima
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