Realizador : Michael Winterbottom
Que grande coincidência!
Notícias de Vila Real
Não sou jornalista,
sou artista plástica que se atreve a mandar uns bitaites utilizando a escrita.
Antes, o mundo de
testagem da minha escrita era a net, sou blogueira desde 2006; o exercício da
escrita era pontual, sempre com algum feedback positivo dos amigos e foi
crescendo de forma espontânea e livre. Um dia o Notícias de Vila Real
convidou-me para ser sua colaboradora, aceitei o desafio, e sempre escrevi
sobre o que quis, apenas com a limitação do tamanho do texto, que nem sempre
cumpro. Registo aqui o meu agradecimento pela oportunidade que me têm dado de
escrever semanalmente e isso obriga-me a impor uma disciplina pessoal, que me
agrada, me enriquece e me é muito útil. Ter
semanalmente um texto para publicar, nem sempre é fácil. Às vezes chego a
sábado à noite e ainda estou a zero.
Não sei quem me lê,
quantos me lêem… gostaria de saber, para perceber se o que escrevo tem impacto
nos leitores. Sugiro ao NVR criar um sistema de avaliação pontual, para todos
nós, percebermos quem está do outro lado e as suas preferências. Por vezes, em
local público, alguém me encontra e aborda simpáticamente, dizendo-me que lê os
meus artigos de opinião, ao qual manifesto a minha gratidão, porém, gostaria de
encontrar os que me leem com desagrado, para eu poder tomar consciência dos
pontos fracos e crescer no mundo da escrita. Raramente escrevo sobre política
de impacto diário e a arte é a minha praia, mas divago muito, o tema é decidido
em cada semana. Um dia, escrevi “O estranho caso de Sara”, um artigo polémico e
encontrei um senhor na Rua Direita, que me abordou e disse, ”Sra arquitecta
gostei do seu artigo, é preciso escrever mais sobre as pessoas, as suas vidas,
os seus medos e os seus sonhos” e eu respondi, “no jornal vários colaboradores
escrevem sobre política” e ele rematou “não, não, escrever sobre a vida das
pessoas, tentando compreendê-las de uma forma humanizada e de forma que todos
os leitores entendam”. Por vezes converto-me em Anita, personagem
irónico/cáustica e sei que me divirto e divirto os leitores, tendo por vezes
como cenário, assunto sério, combatido com o absurdo.
Há dois anos
convidaram-me para escrever em jornal de visibilidade nacional e recusei,
porque quero estar aqui, quero chegar ao coração das pessoas do meu território,
quero escrever para os leitores que vivem por aqui no nosso habitat, quero
criar textos por vezes com mensagens invisíveis de crítica social e política,
facilmente identificáveis e porque entendo a importância de um jornal regional.
“Primeiro estranha-se e depois entranha-se” (Fernando Pessoa / Coca Cola).
Sobre os grandes centros urbanos, e o que acontece no mundo, todos nós temos,
na net, e na TV, notícias actualizadas e repetidas ao minuto, porém, a mim
interessa-me a opinião de quem aqui vive, os eventos que se realizam e até a
fofoca rasteira desta região, que tem como cenário a Onda do Marão. Ser
regional, poderia secundarizar, para mim é de facto o mais interessante. Ter público
reduzido, vender pouco, por vezes até terão dificuldades financeiras, mas é uma
equipa que continua e não desiste. Essa é a resiliência que muito aprecio neste
jornal. Depois gosto que me telefonem e digam, “o texto é muito grande” ou
“dividimos o texto em dois?” ou “e se mudasse o título para atrair a atenção do
leitor?” ou “esta palavra é mesmo assim inventada por si, ou está errada?” ou
“bom texto, também penso assim” ou “alguém vai picar!”.
O meu contributo é
modesto, mas tenho orgulho em escrever num jornal regional com 25 anos. Felicito
os leitores e especialmente todos aqueles que fazem, ou já fizeram parte desta
equipa. PARABÉNS!
'UR BIZITAN'
('ÁGUA VIVA')
HAATIK DANTZA
ESPANHA
A desculpa da economia pode obrigar alguém a mudar de vida?
A sair de casa?
A expropriar a casa que é o seu segundo corpo?
A dança contemporânea, a música ao vivo e a palavra unem-se
nesta nova criação da companhia basca Haatik.
A cultura em alta.
Reflexão
arquitectónica
Quando me sinto
confusa, saturada de informação e desconfortável com o sentido do meu
pensamento, normalmente tento regressar às origens e fazer um refresh –
na política, na arquitectura, na música, nos valores…,
Neste caso fui até à Antiguidade,
perceber o que andaram a fazer na Grécia Antiga. A Grécia Antiga dá-nos lições
sobre a perfeição na arquitectura e a sua relação com o Homem.
Escolhia-se uma encosta
para servir de base à arquibancada, que acompanhava o declive, integrando-se
harmoniosamente na paisagem, favorecia a acústica, facilitava a construção e
proporcionava uma panorâmica de fundo aos espectadores, apenas com o plano
inferior preenchido com o palco. Estes eram os mais importantes princípios que
asseguravam uma obra com sucesso, duradoura, bela e eficaz de um verdadeiro
anfiteatro ao ar livre. Eles existem até hoje para testemunhar todas as
retóricas possíveis e imaginárias.
A Cavea, ou platéia, a
Skéne, ou palco-camarim e a Orkhestra são os 3 elementos básicos tradicionalmente
implantados em encostas, os teatros áticos geralmente não possuíam paredes de
sustentação posterior da cávea, porque o relevo o evitava.
Esta concepção evitava
o efeito de caixa, se por acaso invertessem estas características. Virar os
espectadores para as cotas mais elevadas é perfeitamente claustrofóbico,
contrariando aquilo a que se chama a integração por semelhança, e que converte
os espaços confortáveis, humanizados e “respiráveis”.
A forma circular
completava o efeito acústico, assim como outros pormenores básicos de design,
hoje reconhecidos como importantes nas peças acústicas destes teatros.
Até ao século IV a. C.,
o teatro era apenas um auditório, implantado numa encosta, preferencialmente
côncava, servida por bancos de pedra. planeados de uma forma racional, adotando
uma estrutura regular - Epidauro e
Dionisio fase III.
Epidauro tem um
diâmetro de 112 metros e capacidade para 12.000 espectadores, não agride a
envolvente e só se torna visível, quando já estamos quase na entrada. É
perfeito!
Quando houve
necessidade de aumentar a plateia, o conceito de ligação ao declive morfológico
manteve-se, elevando-se apenas a parede exterior, que ultrapassava a curva de
nível da parte mais elevada da vertente - teatro Eretria
Os Romanos já um pouco “trapalhões”,
ousados e dominadores faziam-nos em qualquer lugar, abandonando o vínculo com a
topografia, nem que para isso tivessem que criar edifícios gigantescos
(coliseus) que até eram do seu agrado e consonantes com a monumentalidade tão
ao gosto dos Césares.
A partir daí esta peça
arquitectónica foi utilizada, reutilizada, recriada, reinventada por muitos
arquitectos e engenheiros, mas a essência do sucesso é sempre a mesma, a beleza,
a relação do homem com o espaço, a fruição, a ligação pacífica à envolvente e a
lógica/ conforto gerados ou resultantes destes binómios: espectador – actor,
arquibancada ou plateia-palco.
A acústica é algo que a
tecnologia resolve, o fundo de palco, até poderá não existir, o público, sim,
deve ter um lugar agradável de vista larga.
Em toda esta divagação nunca esquecer
o impacto na envolvente, o que se vê por fora. Se queremos barreiras arquitectónicas
ou não, se queremos muros ou precipícios, se queremos integração por semelhança
ou por ruptura. Se queremos estar separados ou juntos.
Publicado em NVR 20|09|2023
(olhar em volta e reflectir sobre o que acontece na nossa urbanidade)
Conheço Emerenciano há
muitos anos, lembro-me dele, assim de passagem, da Escola Superior de Belas
Artes do Porto, e tive que interagir com ele, mais de perto, posteriormente, devido
a um painel de azulejos, com desenho da sua autoria, que existe na biblioteca
de uma escola de Vila Real, há mais de vinte anos, desconhecido da maioria dos
cidadãos com idade superior a 30 anos.
A presidente do Conselho
Directivo, dessa época, Dra Glória Souto, deu-me completa liberdade para eu
escolher um artista plástico, capaz de elaborar um projecto pictórico para a
nossa biblioteca. Era uma grande responsabilidade, primeiro porque era um
investimento… e como todos sabem, o que menos há numa escola é dinheiro,
segundo porque seria o compromisso com uma imagem para durar décadas, teria de
ser consensual, contemporânea, intemporal, bela e inspiradora.
Escolhi Emerenciano.
Sentia-me seduzida por
algumas obras que conhecia, porém, o desafio era complexo.
Emerenciano ultrapassou
as minhas expectativas criando uma frase de suporte ao seu projecto, para essa
biblioteca, muito forte, profunda, que tem servido de reflexão a centenas e
centenas de alunos utilizadores desse espaço.
“pensar é entrar num
labirinto” a frase, desenhada e pintada no painel de azulejos, vejo-a todos os
dias e todos os dias me motiva para trabalhar e para não recear labirintos. A
frase revela que o pintor também é um pensador e provoca o labirinto dentro de
cada um de nós, que se completa com o desenho, a forma, a composição, a luz, o
movimento e a cor.
Creio que os jovens
alunos do 5.º ano, quando lhes apresentam o painel, na primeira visita à
biblioteca, iniciam o seu primeiro contacto formal com a filosofia. A ideia é
figurativamente composta pelo desenho de duas mãos, um olho e toda a
formalização do labirinto suportado pela linha de terra verde – a esperança de
que se chega sempre mais longe através do pensamento.
O seu painel
rapidamente atingiu outra dimensão; considero-o como uma peça que integra a
identidade nos nossos jovens e testemunho da origem de imensos labirintos, que
passam obrigatoriamente pelo conhecimento, pelo desenho de novos horizontes e
outras dimensões.
Na inauguração desta
obra, Emerenciano premiou a cidade de Vila Real com uma grande exposição
realizada no Arquivo Distrital – eu ainda não tinha máquina fotográfica digital
e as fotografias já não sei onde param.
Agora é o Douro que o
traz cá, através dos retratos de escritores e da sua escrita fictícia e
enigmática.
Gostei do nosso
reencontro. A obra de Emerenciano continua vasta e inconfundível.
Publicado em NVR, 13/09/2023
Não sei desistir e aprendi a relativizar os problemas, porque pensando bem, que problemas tenho eu? nenhuns.
Sinto-me confusa e
desassossegada.
Há muito que não
entendo porque o público da nossa cidade não consegue aceder a mais
espectáculos da Companhia Peripécia. Sinto falta deles, mesmo repetindo-os.
Para mim é um dos melhores grupos de teatro do mundo, que temos a sorte de
serem daqui.
Finalmente decidi-me
a ir A LUA CHEIA em Benagouro e assistir ao espectáculo de canções de amor,
antigas, de origem sefardita, que a Companhia tinha em agenda.
Resisti a Benagouro
até à semana passada, porque gosto de estar confortável em momentos de lazer, e
sempre percebi que as alternativas de Coêdo e Benagouro, são estruturas
rudimentares para espectáculos.
Tive o privilégio de
assistir ao grupo NOA NOA em “Palavricas d’amor”. Vivi momentos musicais de
excelência. Nunca ouvi aquelas canções antigas, sonoridades com mais de 400
anos… viajei no tempo, criei novas ligações com os meus antepassados e os meus
olhos humedeceram. Emocionei-me.
Depois comecei a
pensar e a analisar o sítio e os espectadores.
Fiz contas de cabeça,
percebi que o auditório tem apenas 50 lugares, mais pequeno que o auditório da
minha escola. Estavam 47 espectadores, em que alguns eram elementos da
Companhia e outros eram familiares que acompanharam os Noa Noa. Imaginei por excesso,
40 pessoas que pagaram 5€ pelo bilhete, ou seja, um concerto com 200 € em caixa
de bilheteira. Depois de 40 minutos de música, assim refere o programa, para
mim foi bastante mais, ainda tivemos direito a conversar com os músicos
apoiados pela coordenação do actor Sérgio Agostinho. Perguntei a uma amiga como
sobreviviam, e ela referiu apoios e subsídios.
Fiquei confusa e
incomodada. Confusa pelas frágeis condições de trabalho, o desconforto dos
espectadores, a grande qualidade de trabalho que adquiri apenas por 5€, confusa
por todos os que nem souberam que tal espectáculo aconteceu… e sobretudo como
se sobrevive com 200€ a produzir trabalho de investigação, execução e trabalho
criativo de qualidade.
Aprendi imenso neste
espectáculo, falou-se de:
- Arte das musas.com,
dedicação, sensibilidade, música antiga, cancioneiro sefardita, expulsão dos
judeus, Lisboa, Idanha, guitarra barroca, século XVII, instrumentos musicais
antigos, construção de réplicas, madeiras, cola animal, fragilidade, guitarra
barroca, tanger um alaúde, atabaques, recriação musical, música maneirista, Bélgica,
Japão, Praga, África, D. João V, Domenico Scarlatti, Coimbra, Mosteiro de Sta Cruz,
temperos e temperamentos, o terramoto…
Voltarei, aprendi o
caminho e sacrificarei todo o meu conforto pela qualidade. Continuo confusa e
desassossegada, existe certamente, uma ou várias areias nesta engrenagem, que
ao longo dos anos, nunca ninguém me quis explicar. Ou a Companhia Peripécia ama
a natureza, seduzidos pelo romantismo da Lua Cheia numa aldeola ao cima, à
direita do Portugal profundo, apostando no intimismo, um pouco misericordioso (não
sei se é bem esta palavra), gerado no teatro da aldeia, sendo uma opção artística
deles e de outros espectáculos alternativos, performances fora da caixa, ou
então, existe alguma problemática invisível com a cultura da nossa cidade, que
não os divulga, não os promove convenientemente e não os converte em estrelas
que são, facilitando, promovendo a partilha e oferecendo verdadeira cultura ao
público vila-realense. Já sei que me dirão, que ainda este ano a Companhia Peripécia
esteve no Teatro Municipal… e isso o que é, para quem faz um trabalho
extraordinário? Sinto que isto tem algo que não bate bem, há aqui um mistério de
bastidores que me ultrapassa.
Neste fim de semana a
agenda cultural da Bila era pobre e vi-me à rasca para descobrir este evento. O
espectáculo de Sexta, dia 1 de Setembro, a que me refiro, era digno de uma
Gulbenkiam ou de uma Casa da Música e fui vê-lo a um edifício rudimentarmente adaptado,
perdido em Benagouro, acedi por um caminho escuro, felizmente havia lugar para
estacionar, com bar aberto para o exterior, um descampado, em que o “Foyer”
tinha no máximo 12 m2, espaço de passagem e onde se situava também a bilheteira; as
instalações sanitárias, quem as utilizou saiu desconcertado devido a uma
cortina, o auditório tinha apenas 3 filas com 50 lugares, onde as cadeiras
uniformizadas pelo preço económico, eram muito incómodas e suportadas por uma
estrutura metálica.
Há aqui um enorme
contraste entre a pobreza das infra-estruturas e a qualidade artística. Será
isto uma opção de vida? Será o espelho da autonomia artística? Mas as contas
têm que se pagar no final do mês! Na verdade, parece-me mais, artistas
excepcionais com as penas cortadas, sabe-se lá por quê.
Não acredito neste
pitoresco, nesta opção de vida profissional, nesta carência visível. Não
entendo, incomoda-me, desassossega-me e só sei uma coisa, quem perde, somos
todos nós. Eu voltarei, porque já não tenho tempo a perder e não estou disposta
a perder mais nada do que esta Companhia apresenta.
Publicado em NVR 06/09/2023
Adamanto (do grego αδαμας, adamas, "indomável") é
um material, presumivelmente metálico, descrito na mitologia grega como
duríssimo e indestrutível, que só Hefesto conseguia trabalhar.
Tive oportunidade de ver num museu de mineralogia e apreciei
a sua beleza e clivagem.
E quem foi HEFESTO?
Filho de Hera e Zeus, conhecido como Vulcano na mitologia
romana. A paternidade de Zeus não era uma certeza.
Divindade do fogo, dos metais e da metalurgia, conhecido como
o ferreiro divino. Deus da tecnologia, dos ferreiros, artesãos, escultores,
metais, metalurgia, fogo, dos vulcões e do lume. Hefesto era manco e feio, o
que lhe dava uma aparência grotesca aos olhos dos antigos gregos. Servia como
ferreiro dos deuses, e era adorado nos centros de manufatura e industriais da
Grécia, especialmente em Atenas.
O centro de seu culto localizava-se em Lemnos.
Os símbolos de Hefesto são um martelo de ferreiro, uma
bigorna e uma tenaz, embora por vezes tenha sido retratado empunhando um
machado.
A sua obra:
Égide, escudo usado por Zeus na batalha contra os titãs.
Construiu para si um magnífico e brilhante palácio de bronze,
equipado com muitos servos mecânicos. Das suas forjas saiu Pandora, primeira
mulher morta.
O elmo alado e as sandálias de Hermes.
A cinta de Afrodite.
O cetro de Agamenon a armadura de Aquiles.
Os crótalos de bronze de Héracles.
A carruagem de Hélio (bem como a sua própria).
O ombro de Pélops.
O arco e flecha de Eros.
Todos os tronos do Palácio do Olimpo.
Hefesto, sendo o mais decidido dos deuses, recebeu de Zeus a
mão de Afrodite para evitar que os outros deuses travassem disputas por ela.
Afrodite, no entanto, não aceitou a ideia do casamento arranjado com o feio
Hefesto, iniciou um relacionamento amoroso com Ares, deus da guerra.
Um dia, enquanto Afrodite e Ares estavam juntos na cama,
Hefesto (mauzinho) envolveu-os com uma rede de cota de malha inquebrável, tão
fina que era praticamente invisível, e levou-os ao monte Olimpo para
humilhá-los diante dos outros deuses. Penso que a coisa não correu tão bem como
ele esperava, fez apenas a figura do que era: feio, manco, corno e vingativo.
AQ (adaptação)
Escultura - Museu Louvre