Anónimos (3)
Utilizo táxis cada vez com mais
frequência, por vezes é impossível deslocar-me rapidamente de um lugar para
outro, onde não existe estacionamento ou então, o estacionamento que existe
está cheio. Contabilizo os gastos de andar com o carro às voltas, ter que pagar
ao arrumador, ou o parque, o meu precioso tempo e ainda a distância que terei
de percorrer a pé, e tomo essa opção. Aqui em VR utilizo o táxi sempre que me
desloco ao hospital publico ou para a estação rodoviária. No Porto, como não me
entendo com andantes, semi-andantes Z1, Z2, Z3, Z4…. e máquinas a substituir
postos de trabalho, opto com frequência por um táxi. Entre Uber e Táxi, prefiro
o táxi, porque esse tenho a certeza que existe um seguro de passageiros, se
tiver alguma reclamação a fazer, sei a quem a fazer e poderei chegar mais
rápido ao destino, porque o táxi pode utilizar a faixa BUS.
Os táxis circulam por toda a cidade,
sabem todas as novidades urbanas e suburbanas, funcionam em rede, têm
normalmente uma conversa que não acaba mais, que vai da informação,
conhecimento até à fofoca e à filosofia do achismo. Uns são honestos, outros
não, como em todas as profissões. Já dei 4 voltas à Expo Lisboa, para encontrar
uma rua que se localizava a 500 metros do ponto de onde parti. Já encontrei um
que desconhecia onde era S. Mamede de Infesta e dizia que o seu GPS estava
avariado, tentando desviar-me do percurso certo, para ganhar mais uns euros,
até eu me passar e dizer para seguir as minhas indicações. Já me aconteceu
iniciar viagem sozinha e depois o motorista ir parando e permitindo que outros
passageiros entrassem no veículo até encher. E já me aconteceu, o motorista
parar e sair do carro para ir discutir com alguém. Estes motoristas são a face
negra de uma classe profissional.
Tenho o meu taxista preferido, que me
transportou vários meses a tratamentos ao nosso hospital. O sr. Tomás
apanhava-me à hora certa, à porta de casa, eu sorridente e confiante, e depois
recolhia-me à porta do hospital, eu feita num oito, cheia de dores, que nem
conseguia abrir a porta do automóvel. Sempre se manifestou zeloso, simpático, preocupado
e amigo. Penso que eu poderia estar num canto qualquer do mundo, que ele iria
lá recolher-me.
Na semana passada estive no Porto,
utilizei dois táxis, e os motoristas já com alguma idade, eram conversadores
militantes, todo o caminho a falar, falar, falar. Um deles, em 10 minutos,
contou-me a história toda da sua vida e da empresa onde trabalhou muitos anos,
e o outro protestou contra o Terminal Intermodal de Campanhã, contou-me cada
coisa, que se eu já detestava esse equipamento, fiquei ainda mais preocupada
com o que se vive naquele edifício com automóveis, autocarros, metro, comboio e
pessoas, tudo misturado. Uma bagunça. Sempre estranhei o facto de haver
seguranças a cada sete metros – um indicador seguro de local de furto frequente
e outras coisitas mais do paraíso dos delinquentes. Prefiro andar de metro em
Roma, em hora de ponta, do que atravessar este Terminal. Este motorista fez a
sua “rapsódia” de crítica política, contra o presidente da Câmara do Porto, Rui
Moreira, atendendo a que, criou uma estrutura em Bonfim, que durou 4 anos
apenas, sendo mais humanizada e melhor do que Campanhã; passou para o Rui Rio
que segundo ele só gostava de corridas de carrinhos; e finalmente resvalou para
Cavaco Silva e os seus que tais, trupe de má fama de negócios pouco
transparentes, ... e eu cheguei ao destino, com ele ainda a falar também de
Sócrates e do outro do palco do Papa. Uffaa!
Fiquei a pensar sobre uma classe
profissional que é um potencial canal de informação. Quantas pessoas transportarão
por dia, que funcionam como depósito de toda a informação e contra-informação que
habitam nas suas cabeças? São verdadeiros “influencers” urbanos, mesmo sem
ninguém lhes pedir opinião. Transportam desconhecidos e arriscam a tecer
considerações pesadas/polémicas sobre a sociedade e a política, que podem ser
contrárias à opinião dos passageiros. Penso que eles consideram, que todos os
seus passageiros deverão pensar como eles. Não sei se o discurso será sempre o
mesmo, mas provavelmente, sim, adaptado às notícias do dia, interceptado por
uma voz feminina da central de táxis, que pede urgentemente uma viatura para a
rua x. A conversa, deste último, foi mais um monólogo do que um diálogo, porque
ele questionava e respondia, parecendo-me haver ali uma azia constante e
descontrolada, contra tudo, provocada provavelmente por excesso de horas de trabalho
a tentar safar-se do trânsito caótico e muito condicionado, no centro da
cidade, completamente lotada de automóveis e de turistas.
Nota: No meu último texto figura um
erro de palmatória, devido à escrita inteligente do telemóvel, que selecciona a
palavra que eu utilizo em geometria, com frequência. Em vez de “cotas”, deve
ler-se “quotas”.
Publicado em NVR 9/08/2023
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