Ser pai.
Conversando
entre amigos, há dias, um amigo de longa data, pai de 3 jovens, afirmava, que a
maioria dos homens não estão, nem nunca estarão preparados para ser verdadeiros
pais. Mesmo quando o projecto é concebido a dois, esses pais, vão de arrasto da
companheira, aparentemente alegres e felizes, mas não são eles a parte ativa e
determinantemente equilibrada na ação e no sentimento dos verdadeiros pais.
Fiquei surpreendida,
especialmente por ele ser homem, e por eu pensar exactamente assim, mas por ser
mulher nem ousar comentar. Quase me emocionou ouvi-lo explicar o que sentiu
quando os filhos nasceram. Repetia frases vulgares, mas com muito sentimento, e
significado espelhado no seu olhar: “Ser pai é a coisa mais importante do mundo;
é ser capaz de dar a vida por eles, abdicar de tudo, é considerá-los prioridade
em relação a tudo. A minha vida alterou-se completamente, eles passaram a estar
acima de tudo, dos meus pais, da minha parceira e até de mim. Para os meus
filhos não pode haver falta de tempo, tem de haver sempre tempo, nem que me
obrigue a parar o mundo.”
“Ser pai é estarmos
sempre incondicionalmente com eles. E quando estão doentes? Invade-nos um mal-estar
crescente, incapaz de nos afastar e de nos alhear da situação. Qual dormir? Não
há sono, não há cansaço, não há um botão para desligar. Não há limites, é
sofrer com eles e mais do que eles, certamente.”
Um pai obviamente que se
lança ao trabalho de forma incansável para dar a sua família o que ela precisa,
para conquistar estabilidade e qualidade de vida, mas ser um verdadeiro pai vai
muito além disto. É um estado de permanente ansiedade e de preocupação. É saber
estar, mesmo não estando. Um verdadeiro pai é presença constante, capaz de encarar
a mudança e o seu compromisso, independentemente da companheira. É despir-se
dele mesmo e em simultaneamente ser o modelo dos filhos.
Não se afirma que esses
pais que nunca estiveram preparados para ser pais, que não gostam dos filhos.
Gostam, mas a sua entrega é parcial, não é a mesma coisa.
Um verdadeiro pai, não
se atrasa a pagar mesadas, não faz contas de cabeça quando falha o dinheiro. Não
pode ser distraído e pôr em risco a vida dos filhos. Pode ir viver para debaixo
da ponte, mas primeiro estão os filhos. Pai tem que ser presente e ser
presença. Pais passivos pertencem ao outro grupo. Ser pai é renunciar a muita
coisa, sem dor ou sofrimento e nunca esperar nada em troca.
- Faço tudo, mato e
morro, dou o meu melhor e invento um novo mundo se for preciso.
… fácil falar, difícil
é sentir e agir… estar lá na hora certa, ser apoio, ser refúgio sem
contrapartidas, é dar colo e exemplo. Ser pai, não é agir como se os filhos
fossem eternos anjinhos. Ser pai é reconhecer defeitos e qualidades,
ensinar-lhes a perder e a respeitar os outros. Ensinar-lhes responsabilidade e
autonomia. É preciso ensiná-los a voar.
Quando nasce um bebé,
nasce também um pai…. É o momento de vários questionamentos, que o farão
repensar o seu papel de filho, companheiro e homem, e esse momento tornar-se-á
eterno.
Há uma frase
interessante que gosto de usar:
“Ser pai é oferecer o
coração ao seu filho e a sua mão jamais o largar.”
Quantas vezes largou a mão do seu filho?
Publicado em NVR 12/07/2023
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