Ser ou estar só
Os adolescentes quando
descobrem a solidão sentem-se infelizes. Talvez seja a hora de eles agirem,
aproveitarem a criatividade que têm para ocupar a solidão e ultrapassar esse
“desconforto”.
Mas todos nós somos
sozinhos. Mesmo os mais acompanhados são sozinhos, ser sozinho é uma condição
da nossa pele e da nossa cabeça e não é mau, nem há que o contrariar. Nascemos
sozinhos e iremos morrer sozinhos.
Ser só exige estar em
paz consigo mesmo, e em ligação constante com o seu interior, porém não significa
que quem aprecia, seja anti-social. Pode-se ter amigos, criar uma vida social
intensa e ser-se solitário.
Ser solitário é um degrau acima da escada da
vida. É necessário aprender como é bom um tempo só para si, e realizar tarefas
sem estar na companhia de ninguém, onde cada um é a sua melhor companhia. Desta
forma não há desconforto, nem medo, pois abre-se uma janela para o mundo das
nossas emoções, para aquilo que conquistamos e nos dá prazer.
Com ou sem silêncio,
esta forma de viver não resulta da perda de um familiar, ou é sinonimo de
frustração porque acabou uma relação, nem sequer um ato de coragem, mas sim,
cria um intervalo para que ocorra um crescimento pessoal e seja visível a
criatividade que o habita e o qual desconhece, mas que pode começar a ter consciência
onde tudo se inicia e renova. Pintores, bailarinos, compositores, arquitectos,
escritores… quem é criativo conhece bem o valor de ser e estar só.
Esta opção de se ser
solitário e introspectivo não deve ser associada à depressão e à tristeza, à
loucura e a maus princípios. Não tem nada a ver. Requer um isolamento voluntário, saudável,
enriquecedor, um grande equilíbrio psicológico, maturidade, autonomia e gostar
de si mesmo. Não é
egoísmo. É mesmo uma questão essencial para conseguir equilíbrio e conseguir
analisar o nosso interior e o que nos rodeia. Ninguém pense que mergulhará num
mundo vazio, de nadas, de ausências, de carências, porque é completamente o
contrário.
Sobreviver no caos
destes momentos que atualmente vivemos pode ser a saída de emergência, mesmo
assim, pode ser angustiante, quando alguém tem dificuldade em se confrontar com
o que é, com o que vive ou viveu…. Quando se é mal-humorado, neurótico,
conflituoso e azedo é complicado viajar dentro de si e ter a certeza que afinal
a culpa não é dos outros, mas sim do próprio. É mais fácil continuar azedo pela
vida fora.
O dilema do porco-espinho
trata da diferença entre o ser e o estar sozinho. É preciso aprender a ser
sozinho, não é para todos, porque ser, é libertador, enquanto estar é algo que
pode ser contrariado, basta querer. Ninguém precisa de ter alguém que o
complete, isso chama-se insegurança e falta de autonomia; é preciso que o
próprio seja a sua melhor companhia, é buscar aquilo que lhe faz bem.
“É o medo da liberdade
que nos torna infelizes” Jean Paul Sartre
Publicado em NVR 05|07|2023
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