PP que orientou a minha intervenção
30 julho, 2023
26 julho, 2023
COM VIDA
Com vida
Como devo escrever
isto?
Como vos devo dizer que
há um bom programa, aqui bem perto, no
dia 30 de julho?
Não é uma romaria, não
é espectáculo de teatro, um concerto de rock daqueles que gosto de estar lá na
frente a sacudir o esqueleto.
Não é ópera, não é
dança, não é um encontro literário…
Como vos vou explicar?
É algo invulgar. É uma
viagem no tempo, com vários tempos, e muitos momentos que constituem a vontade
colectiva de respirar, de reflectir, de se afirmar como terra com vida. É um
mergulho na ruralidade.
Já alguma vez
participou em algo assim? Escrevi participar, não escrevi assistir, porque este
evento tem esse matiz da participação do colectivo.
É fácil apelar para a
inversão da desertificação do interior, sustentabilidade, desenvolvimento,
agricultura biológica, mas o melhor, é participar, apoiar e colaborar com uma
comunidade que está a fazer um grande esforço para se valorizar e oferecer a
todos o seu melhor. Veja o programa e facilmente sairá do sofá:
· Caminhada interpretativa por Terras
de Maria Boa, do Neolítico aos dias de hoje;
· Mercado da aldeia;
· Almoço com gastronomia local;
· Fórum sobre problemáticas rurais, com
Mário Santos, Rui Lagoa, Anabela Quelhas, Manuela Pires, Rui Santos e moderação
Bernardino Lopes. (Retirei os títulos, porque ali seremos todos acolhidos da
mesma forma. Estava à espera do Abrunhosa, dos Xutos e do Quim Barreiros? A
nossa música é outra: H(à) Terra convida!)
· Animação de rua;
· Jogos tradicionais transmontanos;
· Pauliteiros e pauliteiras;
· Espectáculo de fogo.
Que lhe parece? Largue
o sofá e venha daí. Partilhar experiências e cultura irá enriquecer o seu dia e
a sua vida, e terá vontade de voltar, porque estaremos todos a fruir dum belo
espaço de lazer, num dia de Verão.
Conto convosco? Poderão
ir logo pela manhã, poderão ir almoçar, poderão ir de tarde ou à noite. Não
esqueçam o chapéu e o protector solar.
'ONDE FICA A CASA DO MEU AMIGO'
CINEMA AO AR LIVRE
'ONDE FICA A CASA DO MEU AMIGO'
Um filme de ABBAS KIAROSTAMI
Um rapaz tenta encontrar um colega de escola depois de acidentalmente lhe ter ficado com o caderno onde tem de fazer os trabalhos de casa. Determinado, tenta encontrar a casa do colega numa aventura que retrata a riqueza e a complexidade da sociedade rural iraniana. Uma parábola comovente sobre a responsabilidade e a amizade.
Com: Babek Ahmed Poor, Ahmed Ahmed Poor, Reza Nematzadeh
IRÃO | 1987
*****
24 julho, 2023
22 julho, 2023
CANTARES DO MARÃO
CANTARES DO MARÃO, ilustrado por mim. Publicação autónoma, esgotada e sem previsão de uma segunda edição.
21 julho, 2023
19 julho, 2023
ANITA e o pé-culato
Anita e o pé-culato
Ainda não percebi a que horas foi, dizem que foi de manhã cedo. Manhã cedo para mim pode ser 10h, hora em que as pestanas descolam, mas aqui para o meu vizinho, manhã cedo é às 6h30m, que se levanta sempre a essa hora, no silêncio da madrugada, clica nos interruptores abrindo caminho para o WC e sossega a bexiga. O interruptor clica, os chanatos arrastam-se, a porta bate, os líquidos ganham vida, o autoclismo descarrega e o senhor pigarreia.
Então agora chegou a vez de fazer rolar a cabeça do RR?
Começam com suposições que depois se reverterão em suspeitas, possíveis
crimes e em suspeita de pé-culato. Palavra forte que nem sei o que significa, se
alguém me acusasse de pé-culato, acho que iria imediatamente ao podologista
para ver se estaria tudo em ordem antes de me deitar a afogar. Entre joanetes,
esporão do calcâneo, micoses e verrugas, venha lá o pé-culato.
Aquela conversa que todos são inocentes até que se prove o contrário, é
uma grande treta, que nós, a partir de agora, fingiremos acreditar.
Nas buscas ao apartamento… terão ido pelas escadas ou pelo elevador? por
onde terão começado? Claro que não pediram para entrar e apanharam o senhor de
bóxeres ou cueca samba-canção e de havaianas (com o calor que está!!!), com o
cabelo desgrenhado, ainda sem tomar um cimbalino matinal e com hálito indisfarçável
de cama. Imagino que rapidamente acederam ao vestíbulo de entrada, que os
portugueses gostam de chamar de “Ól” e pela lógica de distribuição dos espaços
habitacionais, metade dos investigadores viraram à direita e colocaram-se
estrategicamente na cozinha, despensa e na lavandaria e os restantes avançaram
pelo corredor, distribuindo-se por tudo o que tinha porta. Isto sou eu a
imaginar. Seria cena cinematográfica de pistola à frente e virar esquinas a 90
graus? “My name is Bond, James Bond”! Não se sabe. Pormenor desvalorizado pelos
jornalistas e segredo bem guardado pela investigação. Cheirava a cebola, devido
ao estrugido confeccionado ao jantar, disse o vizinho do andar de cima, que
partilha a conduta de evacuação de gases.
O que se passa com Portugal? Penso que andam aqui águas profundas
revoltas em conluio não sei com quem, tendo como objectivo denegrir algumas
personalidades públicas e agora vale tudo até o homem das contas certas. Isto é
desespero! Parece que existe aqui uma negra conspiração contra a democracia
para fazer crer que o coiso do mundo político está um caos, e o melhor é vir
uma ditadura para por tudo no lugar; as pessoas sérias da democracia e com
posses é melhor fazerem as malas e partir para um destino onde ninguém os chateie,
e os restantes que se calem e também não desenhem, porque vivemos tempos de
liberdade condicionada, que me fazem questionar: Onde já vivi isto? Na Disney? Os
investigadores vestem de preto e usam chapéu? Também ninguém informou.
Eu, Anita, que não sei ler nas linhas, nem nas entre-linhas das linhas
vermelhas do Direito, e muito menos nas linhas invisíveis e tortas da Política,
parece-me muito estranho. Isto tem um calendário estratégico. Parece ser um
escândalo que cai como sopa no mel para desviar atenções dos alvos certos. Eu
quando quero que alguém entre aqui em casa, tenho que distrair o meu Bobyrotivailer,
com um bife na marquise e depois de repente, fecho a porta e ele fica lá
agradecido pelo petisco. Como é possível baterem à porta do homem às 7 da manhã,
agora dizem que foi às 7, com toda a estrutura mediática pré-avisada e a postos?
Que estranho! Ainda tiveram que pagar 1 ou 2 horas extraordinárias a muita
gente. Ou já não se pagam horas extraordinárias, fica tudo incluído no pacote
dos setecentos?
Voltando ao apartamento, enquanto o homem alvo veio até a varanda falar
com os jornalistas que o interrogavam da rua, os investigadores deveriam estar
a escarafunchar tudo, com lupas gigantescas, começando pelos objectos mais
estranhos, que os mais novos nem sabem o que são. Certamente recolheram uma
enceradora de chão, uma cafeteira expresso, um descascador de alho, mais a antiga
máquina de picar carne. Os outros, que andavam na parte restante do apartamento
certamente tentavam identificar uma velha máquina de escrever e o seu
funcionamento, uma cassete de fita onde haveria uma gravação dum baterista dos
anos setenta, um tinteiro da escola primária, e certamente alguns carimbos com
lacre, desconfiando que ali estaria o segredo das senhas e passwords, para
depois se virarem para a parte digital.
O Zé Albino certamente miou e arranhou o investigador que o obrigou a
sair do meio dos cobertores, tão cedo, desconfiado com tamanha barafunda àquela
hora da manhã, e saltou rapidamente para um sítio mais seguro, aquele sítio, “Cuidado,
aqui não mexes”, a cristaleira lá de casa, arqueando o corpo, pronto para o
ataque. Não seria mais fácil avisar e marcar hora?
Quem será a próxima vítima? Sim, porque é preciso showroom, para
ganhar audiências e outras coisas mais que andam a esganar a política e o país,
ou o país e a política, a ordem não é indiferente.
- Já chegou o carro celular? - perguntava RR da varanda para montes de
jornalistas à espera de sangue, localizados no exterior do edifício. Gostariam
mesmo de chicote e algemas, que afinal não constaram da representação. Que
banhada deu RR a todos! (aplauso)
Aguardem, baralham-se os dados e voltam-se a lançar daqui a uns dias. Muitos,
já de tão baralhados que estão, não reconhecem o trigo e o joio. E é isso que
se pretende. Baralhanço dos valores democráticos.
Qual será o próximo aparato? Ainda bem que guardo todas as facturas
desde 1981!
- Posso deitar fora os meus dossiês de contabilidade? já vou na 44ª
pasta! - pergunto ao meu contabilista.
- É melhor guardar, é melhor guardar, nunca se sabe.
- O quê? não poderei guardar apenas a papelada de há 10 anos a esta
parte?
- É sempre uma segurança…. Os IVAs, o IRS, a Segurança Social…
- E 15 anos? Insisto eu para ver se desocupo dois armários cheios de
dossiês e traças, que se escondem numa união de facto reprodutiva, entre
despesas e receitas, recibos, facturas, comprovativos disto e daquilo ainda
escritos à mão, cópias de cópias de segurança, onde vejo por vezes as margens
de alguns papéis azuis, chamados, “papel selado”, com requerimentos e selos
fiscais lambidos e colados, traçados com a minha assinatura analógica
escarranchada de há muitos anos.
- Se puder é melhor não.
- E as disquetes? Tenho um computador enorme, que não utilizo, que lê
disquetes, não posso despachá-los?
- E depois como lê as disquetes, se for necessário?
- Então agora as Finanças não têm tudo digitalizado, com programas
informáticos que articulam tudo?
- Sim, mas se o servidor falhar e a nuvem se transformar num ligeiro
chuvisco, a sra será obrigada a mostrar comprovativos.
Nem sei porque estou a escrever isto, vou mazé escrever sobre os 3
pastorinhos... ou melhor, Nossa Senhora de Fátima, talvez seja menos perigoso.
- O rei vai nu! O rei vai nu! O rei vai nu!
E parece que vai mesmo, e nós andamos nesta cegueira colectiva, talvez
RR accione a racionalidade e a clarividência nacionais!
Por aqui, apareçam só depois das 10h, porque as pestanas não descolam
antes dessa hora, e em vez dos jornalistas, avisem alguém da minha família,
para me dar tempo de trancar o Bobyrotivailer na marquise e então irei à varanda,
que não tenho, de chanatos de pé-culato, gritando:
- Quero deitar-me a afogar!
Ass: Anita
(quando já não há pachorra, faço de tarefeira).
Publicado em NVR 19/07/2023
13 julho, 2023
SER PAI
Ser pai.
Conversando
entre amigos, há dias, um amigo de longa data, pai de 3 jovens, afirmava, que a
maioria dos homens não estão, nem nunca estarão preparados para ser verdadeiros
pais. Mesmo quando o projecto é concebido a dois, esses pais, vão de arrasto da
companheira, aparentemente alegres e felizes, mas não são eles a parte ativa e
determinantemente equilibrada na ação e no sentimento dos verdadeiros pais.
Fiquei surpreendida,
especialmente por ele ser homem, e por eu pensar exactamente assim, mas por ser
mulher nem ousar comentar. Quase me emocionou ouvi-lo explicar o que sentiu
quando os filhos nasceram. Repetia frases vulgares, mas com muito sentimento, e
significado espelhado no seu olhar: “Ser pai é a coisa mais importante do mundo;
é ser capaz de dar a vida por eles, abdicar de tudo, é considerá-los prioridade
em relação a tudo. A minha vida alterou-se completamente, eles passaram a estar
acima de tudo, dos meus pais, da minha parceira e até de mim. Para os meus
filhos não pode haver falta de tempo, tem de haver sempre tempo, nem que me
obrigue a parar o mundo.”
“Ser pai é estarmos
sempre incondicionalmente com eles. E quando estão doentes? Invade-nos um mal-estar
crescente, incapaz de nos afastar e de nos alhear da situação. Qual dormir? Não
há sono, não há cansaço, não há um botão para desligar. Não há limites, é
sofrer com eles e mais do que eles, certamente.”
Um pai obviamente que se
lança ao trabalho de forma incansável para dar a sua família o que ela precisa,
para conquistar estabilidade e qualidade de vida, mas ser um verdadeiro pai vai
muito além disto. É um estado de permanente ansiedade e de preocupação. É saber
estar, mesmo não estando. Um verdadeiro pai é presença constante, capaz de encarar
a mudança e o seu compromisso, independentemente da companheira. É despir-se
dele mesmo e em simultaneamente ser o modelo dos filhos.
Não se afirma que esses
pais que nunca estiveram preparados para ser pais, que não gostam dos filhos.
Gostam, mas a sua entrega é parcial, não é a mesma coisa.
Um verdadeiro pai, não
se atrasa a pagar mesadas, não faz contas de cabeça quando falha o dinheiro. Não
pode ser distraído e pôr em risco a vida dos filhos. Pode ir viver para debaixo
da ponte, mas primeiro estão os filhos. Pai tem que ser presente e ser
presença. Pais passivos pertencem ao outro grupo. Ser pai é renunciar a muita
coisa, sem dor ou sofrimento e nunca esperar nada em troca.
- Faço tudo, mato e
morro, dou o meu melhor e invento um novo mundo se for preciso.
… fácil falar, difícil
é sentir e agir… estar lá na hora certa, ser apoio, ser refúgio sem
contrapartidas, é dar colo e exemplo. Ser pai, não é agir como se os filhos
fossem eternos anjinhos. Ser pai é reconhecer defeitos e qualidades,
ensinar-lhes a perder e a respeitar os outros. Ensinar-lhes responsabilidade e
autonomia. É preciso ensiná-los a voar.
Quando nasce um bebé,
nasce também um pai…. É o momento de vários questionamentos, que o farão
repensar o seu papel de filho, companheiro e homem, e esse momento tornar-se-á
eterno.
Há uma frase
interessante que gosto de usar:
“Ser pai é oferecer o
coração ao seu filho e a sua mão jamais o largar.”
Quantas vezes largou a mão do seu filho?
Publicado em NVR 12/07/2023
10 julho, 2023
08 julho, 2023
07 julho, 2023
Tormes
Fundação Eça de Queirós
Oportunidade para rever Eça, o sítio, o cheiro e o sabor de favas com chouriço, em boa companhia.
05 julho, 2023
Ser ou estar só
Ser ou estar só
Os adolescentes quando
descobrem a solidão sentem-se infelizes. Talvez seja a hora de eles agirem,
aproveitarem a criatividade que têm para ocupar a solidão e ultrapassar esse
“desconforto”.
Mas todos nós somos
sozinhos. Mesmo os mais acompanhados são sozinhos, ser sozinho é uma condição
da nossa pele e da nossa cabeça e não é mau, nem há que o contrariar. Nascemos
sozinhos e iremos morrer sozinhos.
Ser só exige estar em
paz consigo mesmo, e em ligação constante com o seu interior, porém não significa
que quem aprecia, seja anti-social. Pode-se ter amigos, criar uma vida social
intensa e ser-se solitário.
Ser solitário é um degrau acima da escada da
vida. É necessário aprender como é bom um tempo só para si, e realizar tarefas
sem estar na companhia de ninguém, onde cada um é a sua melhor companhia. Desta
forma não há desconforto, nem medo, pois abre-se uma janela para o mundo das
nossas emoções, para aquilo que conquistamos e nos dá prazer.
Com ou sem silêncio,
esta forma de viver não resulta da perda de um familiar, ou é sinonimo de
frustração porque acabou uma relação, nem sequer um ato de coragem, mas sim,
cria um intervalo para que ocorra um crescimento pessoal e seja visível a
criatividade que o habita e o qual desconhece, mas que pode começar a ter consciência
onde tudo se inicia e renova. Pintores, bailarinos, compositores, arquitectos,
escritores… quem é criativo conhece bem o valor de ser e estar só.
Esta opção de se ser
solitário e introspectivo não deve ser associada à depressão e à tristeza, à
loucura e a maus princípios. Não tem nada a ver. Requer um isolamento voluntário, saudável,
enriquecedor, um grande equilíbrio psicológico, maturidade, autonomia e gostar
de si mesmo. Não é
egoísmo. É mesmo uma questão essencial para conseguir equilíbrio e conseguir
analisar o nosso interior e o que nos rodeia. Ninguém pense que mergulhará num
mundo vazio, de nadas, de ausências, de carências, porque é completamente o
contrário.
Sobreviver no caos
destes momentos que atualmente vivemos pode ser a saída de emergência, mesmo
assim, pode ser angustiante, quando alguém tem dificuldade em se confrontar com
o que é, com o que vive ou viveu…. Quando se é mal-humorado, neurótico,
conflituoso e azedo é complicado viajar dentro de si e ter a certeza que afinal
a culpa não é dos outros, mas sim do próprio. É mais fácil continuar azedo pela
vida fora.
O dilema do porco-espinho
trata da diferença entre o ser e o estar sozinho. É preciso aprender a ser
sozinho, não é para todos, porque ser, é libertador, enquanto estar é algo que
pode ser contrariado, basta querer. Ninguém precisa de ter alguém que o
complete, isso chama-se insegurança e falta de autonomia; é preciso que o
próprio seja a sua melhor companhia, é buscar aquilo que lhe faz bem.
“É o medo da liberdade
que nos torna infelizes” Jean Paul Sartre
Publicado em NVR 05|07|2023
04 julho, 2023
Carlo Scarpa
Claraboia adaptada ao edifício da fundação Quirino. Veneza
De repente encontro algo familiar, formas, volumetrias pelas quais me apaixonei através de uma revista. Inconfundivel. Delicadeza, modernidade, sofisticação-
Arquitecto Carlo Scarpa
Diário de viagem, 23/04/2023