Os opostos atraem-se?
Homens e mulheres não
são iguais, são faces opostas da mesma moeda, a velha ideia de Yin e Yang é um
estereótipo que agradavelmente se aceita, justificando que os opostos se atraem.
Os indivíduos em causa ultrapassam obviamente a questão do género, porque cada
ser humano tem a sua personalidade.
Dentro da teoria que os
opostos se atraem, o introvertido iria apaixonar-se pelo extrovertido, o
bandalho pelo atinado e organizado, o pior aluno da escola pelo melhor aluno da
escola, o sábio pelo ignorante, o católico pelo ateu…. Os mais velhos pelos
mais novos.
Será? Os indivíduos
procuram coisas diferentes e daí nasce a harmonia – uma teoria completamente
errada. Se todas as pessoas procuram alguém que as complete, porque tantas
relações acabam em fracasso? Provavelmente porque a abordagem de “os opostos
atraem-se” está condenada desde o início. Temos que ser realistas. O melhor parceiro não é um ideal cultural ou
da sociedade, mas alguém que combine consigo.
Muitos de nós recorrem
a este princípio da física, para tentar justificar e eliminar tantas dúvidas
que habitam a nossa cabeça quando deparamos com alguma proximidade com alguém
tão diferente de nós, mas que aparentemente nos agrada; alimentam essa
esperança para justificar o injustificável, acreditando que irão ter futuro.
A psicologia resolveu
estudar melhor o impacto da relação entre duas pessoas muito diferentes e ao
fim de várias décadas de investigação, concluiu que... os opostos não só não se
atraem, como, passada a fase do deslumbramento inicial, se repelem, particularmente
no que se refere a pontos de vista e valores. Por vezes, toleram-se apenas para
não abalar as circunstâncias que os envolvem, aceitam-se para fugir ao
conflito, suportam-se, desagradando-se mutuamente, acontece odiarem-se eles
próprios, por não terem coragem de assumir a diferença e a divergência
crescente, vivendo um silêncio ensurdecedor e deprimente.
Ser parecido, ter
valores idênticos, experiências e conhecimentos concordantes, quanto maior o
nível de igualdade, maior a probabilidade de se desenvolverem os afectos
duradouros. As semelhanças de personalidade podem ser fundamentais para a união
entre duas pessoas.
A união, a empatia
convive bem com semelhança. O dicionário define empatia: Forma de identificação
intelectual ou afectiva de um sujeito com uma pessoa, uma ideia ou uma coisa; habilidade
de identificação emocional com outra pessoa.
As pessoas com quem não
partilhamos uma base semelhante em gostos, opiniões, valores, conhecimento, personalidades,
geram desconforto que vai evoluindo até à repulsa. A fase do desconforto inicia-se
quando se recorre à frase popularucha que diz, que os opostos se atraem,
preparando uma fuga à realidade.
Não são necessários
grandes confrontos, pormenores do quotidiano, repetidamente reprimidos podem
eclodir gerando afastamento e repulsa.
O verdadeiro enlace
precisa de amor, sintonia, admiração, respeito, equilíbrio e uma essência
comum, para criar raízes concordantes.
Os opostos formatam
relacionamentos muito tóxicos; a jornada da vida em comum precisa de valores e essência
semelhantes e harmónicos. Ver no outro semelhanças, valida as nossas certezas.
Pode parecer entediante, mas não é.
Da discussão nasce a
luz, dirão aqueles que não concordam com isto. A discussão pode desenvolver
sentido critico e conhecimento, quando é um exercício saudável, e pode gerar
aproximação, convergência e complementação, sinónimos desta luz comum, porém
divergência teimosa e autoritária, implicância militante e a dessensibilização
e desrespeito pelo outro, não gera luz, gera escuridão.
Publicado em NVR 07|06|2023
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