A AZIA DE RONALDO
Não percebo nada de futebol e sou voz
crítica, porque o futebol não é um desporto, mas um grande negócio mundial. É o
evento que mais massas movimenta e mais “massa”. A maioria dos seres humanos
entusiasma-se a ver 22 jogadores a correr atrás da bola e consideram ser sempre
um desafio diferente. Não possuo essa sensibilidade, não troco ciclismo, por
futebol, muito menos atletismo.
O mundo todo, quer lá saber do Qatar,
dos direitos humanos, da política, dos problemas sociais, das alterações
climáticas, da Lisboa inundada, da prestação da casa que vai aumentar, das
preocupações da ONU, as dívidas que se vão acumulando, os sem-abrigo, os
esfomeados do mundo, a escravidão portuguesa, a guerra da Ucrânia, … o futebol
papa tudo. Escolho a hora do futebol para ir ao supermercado, isto diz tudo
sobre o que penso sobre esta matéria.
Hoje escrevo sobre o Cristiano
Ronaldo, o terramoto desta semana, e a carita aziada com que tem aparecido na
televisão, alimentando toda a jornaleiragem. Parecem abutres sobre a presa.
Valorizo o Cristiano, assim como o
Fernando Gomes, Eusébio, Pelé, Jardel, Zinédine Zidane… porque os grandes
atletas, são feitos de muita determinação, esforço, privações, trabalho diário,
sacrifício, mantendo sempre o foco em ser melhor em cada dia; mesmo assim,
admiro muito mais os atletas que mexem pouco na “massa”.
Cristiano é o atleta por excelência,
e ainda mais o admiro, considerando a sua origem humilde e as suas ações
altruístas e beneméritas do presente.
Registo que nos últimos dias, ele não
tem sabido gerir a sua imagem. Ainda não percebo, o que o Ronaldo não percebe.
Quer jogar até aos 66 anos?
Estou brutalmente desapontada. Admiro
e aplaudo aqueles que se retiram no auge da carreira. Não precisando de
dinheiro, o caso do Cristiano, não percebo o que ele não percebe. Estando no
mundo do futebol ainda não percebeu, que mesmo estando em boa forma e sendo um
extraordinário atleta, o seu prazo de validade esgotou-se. Não percebeu que no
mundo futebolreiro do dinheiro, há estratégias para valorizar cada jogador, que
passa por deixá-los jogar em jogos importantes. Naquelas cabeças só tilintam
euros. O Cristiano, por muito que gostemos dele, é já um jogador sem futuro, é
preciso deixar jogar os mais novos, que irão produzir dinheiro a médio prazo. O
Cristiano parece que se esqueceu, que no seu percurso, para ele brilhar, alguém
ficou no banco. O arzinho de menino contrariado que não sabe digerir um não do
selecionador e não sabe gerir a sua frustração, decepcionou-me. O miúdo é
transparente e pensei que fosse mais inteligente. É inútil disfarçar, deitar
areia para olhos dos que viram o Ronaldo altivo a sair sozinho do campo,
deixando os companheiros a festejar, apenas porque ele quer ser sempre a
estrela da festa. Ainda não percebeu que tem o seu lugar no futebol, mas o
mundo não para, também se ganham jogos sem ele. É ingratidão? Não. Ele tem o
seu lugar, mas a vida não para.
É muito digno e inteligente saber
quando se deve parar. Less is more!
Havendo oportunidade todos se deviam
retirar no topo da curva ascendente do sucesso, é que depois é sempre a descer.
Afinal, tanto dinheiro e ninguém lhe ensinou isso? Ninguém o aconselhou a gerir
a sua imagem e a escolher o momento da saída, ou ele é teimoso e acha que é
imortal? E a família? Ui!
Fernando Santos diz, que a equipa
está unida, e deixem o Cristiano em paz, que ele não merece. Claro que não
merece, ninguém lhe retira o mérito, mas poderia evitar as imagens `no banco de
suplentes e as duas saídas, a altivez da primeira e o choro perante a derrota
com Marrocos.
Está na hora de retirar-se e como se
viu já passou da hora. Já não consegue controlar as emoções e agora é sempre a
piorar. Ele está em boa forma, mas os outros também estão.
Há profissões que podem trabalhar e
ter destaque até aos oitenta, até morrer – Eduardo Lourenço, Siza Vieira,
Manuel de Oliveira… Há outras de grande
desgaste, que se fazem em grupo, que não se compadecem com a idade. Gostei da
Simone de Oliveira, desgostei da Eunice Munóz, poderia ter-se resguardado na
fase final da vida…
Pelé, um dos jogadores mais elogiados
da história, frequentemente classificado como o melhor jogador de sempre, jogou
pela última vez na selecção brasileira, com 31 anos e recusou em 1974. O
Cristiano que siga o modelo. Não se esqueceu da sua origem humilde, muito bem,
mas esqueceu-se como se fazem jogadores de futebol, como é o mundo do futebol que
o tornou bilhardário. Uma palavra errada, uma entrevista infeliz, um plano de
pormenor da sua azia, podem desconstruir a imagem que demorou tanto tempo a
construir. É cruel? É. É o mundo que o converteu num campeão, numa estrela
internacional e que ele deveria conhecer melhor.
NVR, 14| 12| 2022
3 comentários:
Kompensan
Eu escolho o futebol e nao o Ronaldo. Porquê o futebol? E dos poucos programas em que o meu polegar nao está a dedilhar o comando ( uma invenção brilhante) da tv, para nao ver as aberrações políticas que por lá passam, pelas greves e grevinhas, pelas guerras e guerrinhas, pelos ladroes e vigaristas julgados e a serem julgados, para não ver o palavreado da maioria dos programas que expremidos não dão sumo nenhum.
Prefiro ver arte. arte dos jogadores que fintam, que marcam, qur defendem.
Bendito opio do povo que nos livra dos malabaristas dos midia.
Has-ta la vista.
Se o mundo do futebol se resumisse ao rectângulo...
Has-ta
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