A RAINHA MORREU
Eu que sou contra a
monarquia, porque considero que competência, honestidade, altruísmo,
inteligência, criatividade, não constam do pacote genético, nem se mantêm
imutáveis ao logo da vida, decidi escrever sobre a Rainha. Mesmo conhecendo
alguns dados que referem, os regimes presidencialistas serem mais dispendiosos
do que a monarquia, pelos motivos referidos, adicionados à monotonia de ter que
olhar sempre para a mesma pessoa, opto claramente por ser do contra. E agora com Carlos III não me resta nenhuma
dúvida.
Para início de reflexão
não entendo porque insistimos em chamar-lhe Isabel, quando existe o nome de Elisabete.
Ela é a expressão da realeza no feminino, tendo contrariado muito preconceito
machista, isso fez-me simpatizar com ela. Se lhe tivesse nascido um irmão
homem, nunca teria sido rainha.
Independentemente da política,
e graças à comunicação social, todos nos habituámos a ler e a escutar a palavra
“Rainha” e a identificá-la sempre com Elizabeth, como se não houvesse mais
nenhuma rainha no mundo. Desconheço se James Bond estaria ao seu serviço ou
não, mas admito que sempre gostei dos seus filmes, e terá sido a maior campanha
publicitária do mundo, a favor de Sua Majestade.
A figura da Rainha, a
senhora multicolorida, atravessou várias décadas, assumindo sempre uma postura
de grande carisma e dignidade e soube enfrentar alguns constrangimentos
apresentados pela sua família, denominada por real. Com 70 anos de trono, teve
que conviver de perto com a maioria dos políticos de todo o mundo. Revendo
fotos, há duas fotografias que me agradam, não só pela qualidade, mas também
pelo simbolismo. A primeira com Churchill e a segunda uma das últimas, a Rainha
sozinha nas cerimónias fúnebres do marido.
Durante a guerra, ainda
muito jovem, com menos de 20 anos, juntou-se ao grupo de mulheres voluntárias, que
exerciam funções variadas no exército britânico, mas habitando o Castelo de
Windsor. Elizabeth foi treinada como motorista e mecânica. Sempre imagino a Rainha
a fazer rectificação de motores, deitada debaixo de um carro de combate… Mas
pronto. Eu conheci-a mais pelas moedas, pelas colecções de selos, pelos chapéus
e pelo que escreviam nas revistas femininas, contando que a Rainha usava areia
na bainha dos vestidos para nunca viver uma situação tipo Marilyn Monroe. Conta-se
um amuo em 1961, incomodada com a presença de Jacqueline Kennedy, talvez ciúmes, não sei de quem, nem
por quem. Conhecia-a pelas recordações que se compram em Londres… a primeira
vez que visitei Londres, não trouxe um íman para o frigorífico, nem um avental,
apenas por preconceito idiota, porque havia muito por onde escolher; mas, no
programa da minha viagem continha a visita a Saint James’s Park e ao palácio de
Buckingham e com sorte veríamos a Rainha na varanda, tudo aquilo que, eu
plebeia de terra vermelha, nem entendo. O que será feito deste merchandising,
terminado o luto dos súbditos? Alguém quererá comprar um porta-chaves com
Carlos e Camila, ambos feios, acabados e sem uma pontinha de styling?
Ler “A Rainha e eu”
obra intemporal de Sue Townsend proporcionou-me horas hilariantes imaginando a Rainha
a viver num bairro social; e mesmo na ficção, da família toda, Elizabeth era a
pessoa, mais funcional, mais despojada, mais razoável e humanamente mais
aceitável.
Sabemos que escreveu
uma carta em 1986 para ser lida passados 100 anos aos habitantes de Sidney…
espero que não seja nada sobre Diana, ou sobre o concerto dos Dire Straits, ou a
sua receita de scones, porque nessa data já não haverá memória significativa
sobre nenhum deles... Kkkk deverá ser sobre o edifício Rainha Vitória em Sidney e certamente
conterá a pergunta “quem foi o canalizador que deixou a torneira do wc das
senhoras a pingar?”
Pubicado em NVR 21/09/2022
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