“À tua procura” , Maria da Graça Rios Vilela
Em “À tua procura” há sempre
o eu e o outro.
“Acaso tu vês o que vejo?”
São palavras maduras, inquietas e
sábias numa constante procura do outro lado, de uma outra linguagem e de uma
outra realidade.
“As palavras constroem-se.
...juntam-se.
... trabalham-se.
....
adoçam.
...”
A autora sabe e emite prazer na
escolha de cada palavra suscitando o seu interior, os afectos, as paixões e o
contraponto sempre presente, o outro, porém, sempre discreto e oculto. Entendo
esta poesia, gosto dela, porque a poesia é arte de dizer os afectos, sempre num
enquadramento discreto e nunca totalmente perceptível, pois é daí que se gera a
sedução e o encantamento que se poderão transformar em arte. Há formas de dizer
e formas de escrever. A estética da grafia, também aqui está presente, as
pausas transformadas em espaço vazio, valoriza cada poema e converte-se em fio
condutor para o onírico e facilita a empatia com o leitor, obrigando-o a parar
e reflectir sobre a sua própria intimidade..
Ser poeta ou poetisa é encontrar
sentido onde ele provavelmente não é visível, ou não existe. É desconstruir a
realidade para que se perceba o que se sente e emociona, é o caminho que vai
dar ao seu mundo interior e poderá sugerir os caminhos dos outros, por vezes cheios
de barreiras e preconceitos.
“Tu és como o tempo... sem
vento... com vento...”
“À tua procura” é também o
espaço do desencontro, de resiliência em continuar a procurar, que se pode
resumir num olhar, num entardecer, num renascer.
Anabela Quelhas
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