20 outubro, 2020

Não tenho opinião

 

Prémio Nobel da Literatura - não tenho opinião

                Quando chega a Outubro, os leitores aferem as suas escolhas, com o conhecimento do galardoado com o Prémio Nobel da Literatura. Há muitos anos alguns começaram a ver Saramago com outros olhos, de repente todos conhecem Pamuck, abriram a boca de espanto com Bob Dylan, silenciaram-se com Olga TorkarczuK, nome difícil de escrever e ler…

            Este ano o prémio Nobel da Literatura foi para Louise Gluck, uma poetisa norte- americana de 77 anos. Louise já ganhou muitos prémios literários importantes nos Estados Unidos, incluindo a Medalha Nacional de Humanidades, o Prémio Pulitzer, o Prémio Nacional do Livro, o Prémio National Book Critics Circle Award e o Prémio Bollingen, entre outros. Mesmo assim, a própria não estava a contar com este reconhecimento por parte da Academia Sueca, segundo ela, porque os Estado Unidos não se encontram atualmente em boas graças a nível mundial.

            Os intelectuais cá do sítio, correram ansiosos e em pânico, para as livrarias para comprarem um livro da autora, já que nunca tinham ouvido falar e muito menos conheciam a sua obra. Não pretendendo assumir a sua ignorância, tentariam ler rapidamente alguma obra para que rapidamente pudessem assumir a sua serena e actualizada postura intelectual. A Fnack publicitou rapidamente 4 ou 5 obras em edição epub. A autora não tem nenhuma obra traduzida para português. E agora?

            Assumo a minha ignorância, tive que ir ao Mister Google para me informar acerca de Louise e do grande vazio de informação sobre esta senhora. A maioria das publicações dos cibernautas são copiadas e repetidas. Ninguém avança com nada para além de uma biografia minimalista.

            Percebi que os seus temas de escrita são, a infância, a família, a solidão, a morte... que se inspira com frequência na mitologia grega e que é considerada “uma das mais talentosas poetas da contemporaneidade”.

            Na investigação que faço, ora lhe chamam poetisa, ora lhe chamam poeta, abrindo novamente o questionamento sociológico sobre feminino da palavra poeta, mas isso é outra história.

            Encontrei vários poemas traduzidos para português do Brasil, que decido não partilhar devido à fraca qualidade da tradução. Encontrei um, traduzido por Rui Pires Cabral, sobre o qual não opino. Não tenho opinião atendendo ao respeito que tenho pela poesia, pelo tradutor e agora, pela poetisa Nobel.

            Confesso que quando soube do prémio, mexi-me na cadeira e reconheci mais uma vez a minha ignorância, mas sem dramas. Não tenho que conhecer tudo, nem ter opinião acerca de tudo. Calmamente fui constatando a ignorância dos outros e a minha falta de entusiasmo para conhecer a sua obra, já que não aprecio poesia traduzida. 

            A poesia é uma das artes que exprime o que nos habita na alma, utilizando as palavras como meio de expressão estética, para mim só possível na minha língua, o português. Tenho de ler com o coração. É uma visão muito limitada acerca da poesia…. Será certamente, mas é assim que me entendo, entendendo (a).

Publicado em NVR 20/10/2020

1 comentário:

jorge T. disse...

Nem eu