Esta semana fui ao
teatro.
Esta
semana fui ao teatro.
Já há muito que
não assistia a uma peça de teatro tradicional, com diálogos audíveis de uma
história clara para partilhar, numa narrativa que chega ao público, e é
interpretada por este, de forma rigorosa, sem subterfúgios e sem lugares
“incomuns” completamente subjectivos e intergalácticos.
Até o cenário,
apesar de ter um toque contemporâneo, representa exactamente aquilo que vemos:
uma sala de estar de uma casa qualquer.
Já me saturam
peças que estão muito na moda, em que a criatividade, numa tentativa de
afirmação, se excede atingindo o ininteligível. Enigma, mistério,
interpretação, drama, comédia, ironia e beleza, devem atingir o público de
forma inteligente capaz de despertar emoções. Quando o público é incapaz de
entender o que se passa no palco, questionando-se se o problema será dele, isso
não é um bom espectáculo de teatro. Por vezes, os espectadores não entendem o
que veem, mas envergonham-se de o dizer, sentindo-se estúpidos e imbecis, e então
elogiam, não querendo parecer desenquadrados - um elogio curto… um falso
elogio, que se desmoronaria se fossem obrigados a justificar-se.
As novas
correntes da contemporaneidade são férteis em ocultar a incompetência de
actores, encenadores… e não só, outros agentes culturais, pintores, poetas,
arquitectos, cineastas, músicos, etc, etc.
A vida foi-me
dando oportunidade de assistir a peças (umas boas outras más) interpretadas por
grandes actores, alguns já desaparecidos — Eunice Munoz, Rui de Carvalho, Paulo
Renato, Rui Mendes, Laura Soveral, Maria do Céu Guerra, Vera Mónica, Camilo de
Oliveira, Laura Alves, Joaquim Rosa, Victor de Sousa, Delfina Cruz — que me
permite não me deslumbrar com um palco iluminado. Quando não gosto ou não
percebo, sou honesta e emito opinião.
Detesto que
passem para o espectador a sensação de imbecilidade, por manifesta
incompetência, de quem escolheu o texto, do encenador ou até do actor, em
transportar emocionalmente o público para o que se passa no palco. Aquilo
que se estranha, nem sempre se entranha. Por vezes aquilo que se estranha é
mesmo mau, e não temos que ter complexos em o reconhecer e afirmar. A falsa
intelectualidade aliada a um certo surrealismo abstracto, imbuído numa estética
futurista é muito competente em me provocar o vómito ou o abandono da sala a
meio da cena.
Já tinha
saudades de uma peça assim, de conteúdo real, num cenário real, com bons
actores e cuja encenação é contagiante e transposta o espectador para
interpretações reais e outras suposições, que cada um poderá construir a seu
gosto, e consoante a sua personalidade.
Grata, Diogo
Infante — encenador e actor em “O Deus da carnificina”.
— “Alô Maurício!” J
AQ
Publicado em NVR
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