06 fevereiro, 2019

Esta semana fui ao teatro


Esta semana fui ao teatro.


         Esta semana fui ao teatro.
         Já há muito que não assistia a uma peça de teatro tradicional, com diálogos audíveis de uma história clara para partilhar, numa narrativa que chega ao público, e é interpretada por este, de forma rigorosa, sem subterfúgios e sem lugares “incomuns” completamente subjectivos e intergalácticos.       
         Até o cenário, apesar de ter um toque contemporâneo, representa exactamente aquilo que vemos: uma sala de estar de uma casa qualquer.
         Já me saturam peças que estão muito na moda, em que a criatividade, numa tentativa de afirmação, se excede atingindo o ininteligível. Enigma, mistério, interpretação, drama, comédia, ironia e beleza, devem atingir o público de forma inteligente capaz de despertar emoções. Quando o público é incapaz de entender o que se passa no palco, questionando-se se o problema será dele, isso não é um bom espectáculo de teatro. Por vezes, os espectadores não entendem o que veem, mas envergonham-se de o dizer, sentindo-se estúpidos e imbecis, e então elogiam, não querendo parecer desenquadrados - um elogio curto… um falso elogio, que se desmoronaria se fossem obrigados a justificar-se.
         As novas correntes da contemporaneidade são férteis em ocultar a incompetência de actores, encenadores… e não só, outros agentes culturais, pintores, poetas, arquitectos, cineastas, músicos, etc, etc.
         A vida foi-me dando oportunidade de assistir a peças (umas boas outras más) interpretadas por grandes actores, alguns já desaparecidos — Eunice Munoz, Rui de Carvalho, Paulo Renato, Rui Mendes, Laura Soveral, Maria do Céu Guerra, Vera Mónica, Camilo de Oliveira, Laura Alves, Joaquim Rosa, Victor de Sousa, Delfina Cruz — que me permite não me deslumbrar com um palco iluminado. Quando não gosto ou não percebo, sou honesta e emito opinião.
         Detesto que passem para o espectador a sensação de imbecilidade, por manifesta incompetência, de quem escolheu o texto, do encenador ou até do actor, em transportar emocionalmente o público para o que se passa no palco.      Aquilo que se estranha, nem sempre se entranha. Por vezes aquilo que se estranha é mesmo mau, e não temos que ter complexos em o reconhecer e afirmar. A falsa intelectualidade aliada a um certo surrealismo abstracto, imbuído numa estética futurista é muito competente em me provocar o vómito ou o abandono da sala a meio da cena.
         Já tinha saudades de uma peça assim, de conteúdo real, num cenário real, com bons actores e cuja encenação é contagiante e transposta o espectador para interpretações reais e outras suposições, que cada um poderá construir a seu gosto, e consoante a sua personalidade.
         Grata, Diogo Infante — encenador e actor em “O Deus da carnificina”.
— “Alô Maurício!” J


AQ
Publicado em NVR

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