Amor é para amar,
cuidar e proteger
Nunca é
demais falar, repetir uma vez, dezenas de vezes sobre as mulheres que são vítimas
de violência doméstica. Está tudo dito, mas continuamos a envergonhar o ser
humano.
A minha geração tinha a ilusão que a emancipação
da mulher, mais década menos década, a violência entre casais se extinguiria,
que os nossos parceiros masculinos da geração make love not war teriam dado um passo em frente na evolução da
espécie e seriam nossos aliados contra
esta faceta deplorável da sociedade e das relações humanas. Imaginámos que na geração
dos nossos filhos já todo o mundo teria esquecido os olhos roxos, os dentes
partidos e as nódoas negras no leito conjugal.
Nada disto
bateu certo.
Estamos em
2019 e tudo continua semelhante, a única diferença é que tudo já começa no
namoro e estando ou não casado, a violência persiste, os hematomas afloram no
corpo feminino e em qualquer classe social.
A nossa
sociedade ainda não arranjou uma estratégia para proteger mulheres e filhos,
mas o lado masculino já aprendeu até a bater sem deixar marcas para não haver
evidências perante a polícia.
Imagino o
terror que a mulher sente ao denunciar e ainda o gozo a que é sujeita nas
esquadras de polícia, submersa em questionários intermináveis, tendo que expor
o que quer, e o que não quer, numa situação de grande fragilidade, para depois
voltar para casa correndo o risco do companheiro estar à sua espera na saída da
esquadra com dois bofetões dentro das mãos e vários outros de reserva.
Considero que
tudo isto deveria funcionar ao contrário, em vez da vítima disfarçar, se
controlar, se proteger e até se esconder, deveria ser o agressor, o alvo da alteração da sua rotina:
ser detido ou vigiado!
Na dúvida
prefiro apostar no antes preventivo do que a certeza de um depois dramático e
fatalmente irreversível.
Há
mentalidades obtusas que teimam em não mudar — de homens e de mulheres. Há uma
culpa em duplicado. As mulheres toleram e os homens abusam recorrendo à sua
superioridade em tamanho e força física e à sua brutalidade boçal. Há mulheres
idiotas que associam a violência e o ciúme, ao amor que os companheiros sentem
por elas, como se houvesse qualquer possibilidade de haver uma ligação saudável
entre estas palavras.
— Meninas
acordem, por amor não se faz tudo. Por amor nunca se faz aquilo que vos magoa. Quem
vos trata a berrar, quem controla muito, quem proíbe, quem vos tira aos poucos
os vossos direitos e a vossa liberdade, quem vos agride e pede desculpa a
seguir, será o vosso futuro carrasco. Ninguém é dono de ninguém. Nada justifica
a violência.
Amor é para
amar, cuidar e proteger.
Publicado em NVR 20/02/2019
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