A visita à exposição “ A cidade
global” que decorre no Museu Soares dos Reis no Porto, despertou a minha
curiosidade para a pintura que deu origem a toda a ideia da exposição.
Trata-se da pintura adquirida por
Dante Gabriel Rossetti, dividida em 2 partes, representando uma rua
renascentista, supostamente a Rua Nova dos Mercadores, localizada na Lisboa
manuelina dos séculos XV e XVI e que já levantou dúvidas sobre a sua autenticidade
alimentando uma polémica que parece não ter fim.
A história oficial é que esta(s)
pintura(s) terá sido descoberta pelas
historiadoras inglesas, Kate Lowe e Anne Marie Jordan Gschwend numa
mansão do século XIX, em Oxford cujo proprietário
era o conhecido William Morris, com quem trabalhou Rossetti.
Quanto à “Rua Nova dos Mercadores”,
está dividida em dois painéis, é propriedade da Society of Antiquaries of
London e deu origem a esta exposição, "A Cidade Global", que exibe
cerca de 250 obras da época, entre mobiliário, pintura, tapeçaria, livros,
esculturas em marfim, manuscritos, animais embalsamados e outros objectos em
uso na época. É interessante a ideia de nos transportarem a cinco séculos
atrás, através das obras expostas, porém descodifica pouco a pintura referida
sobre a Rua Nova dos Mercadores – o vídeo exibido, sabe a pouco.
A representação expressa imensos
pormenores sobre aquela Lisboa que era um grande centro europeu e falta uma
análise detalhada da pintura de uma rua onde passava o mundo através dos
produtos vendidos, a mais rica da europa naquela época. Falta a história da
construção da rua, a explicação sobre a grade que divide a área dos cambista, a
característica dos edifícios com 3 ou 4 pisos, as colunas duplas, a
concentração de comerciantes de todas as partes do mundo, os produtos exóticos
vendidos e os modelos de negócio, a sua organização, a ocupação dos espaços que
se adivinha no desenho dos edifícios (apesar da referência à Casa de Guiné e da
Índia), o elevado número de escravos, o que transportavam, o traje dos
portugueses e de outras pessoas com diferentes origens, as pedras de bezoar,
etc..
Unir a informação contida nesta(s)
pintura(s) à informação escrita existente sobre essa época, daria uma exposição
para o mundo, uma exposição também global, a partir novamente de Portugal, tal
como aquela rua, justificando o nome da exposição. Infelizmente temos apenas um
“cheirinho”- uma exposição com informação
insuficiente, gerando pelo menos aos visitantes, a curiosidade que levará a
investigar posteriormente. As pinturas originais não as vi e a mega ampliação
que fizeram das mesmas, está colocada ao longo de uma comunicação horizontal da
exposição e não possui espaço suficiente para se realizar uma leitura global da
mesma.
Gostei de ver o rinoceronte
embalsamado que pertencia a D. Sebastião. Percebi à posteriori que não era o
mesmo que foi oferecido a D. Manuel e que talvez tenha sido a fonte de
informação para o desenho de Albrecht Dürer –primeiro rinoceronte vivo que
esteve na Europa desde o Império Romano.
Esqueci de
relatar que o único elemento informativo existente na entrada e na loja do
museu, é um calhamaço escrito pelas historiadoras, de custo avultado, que pesa
cerca de 3 kg, o que desmotiva qualquer um - Irão sobrar no final.
Publicado em NVR - 7/06/2017
2 comentários:
Gostei de ler o que escreveste. Fiquei curiosa, mas dificilmente irei ver essa exposição. Grata pelas informações.
Esreve patente no MNAA até há poucos dias. Muito interessante e significativa.
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