O RÚSTICO AVEC
Nas duas últimas
décadas, as cidades e as aldeias portuguesas foram inundadas por exemplares da
arquitectura “catalogada” como “arquitectura rústica”. Ressalvo, não é um
estilo, é uma técnica de construção.
O que é o
rústico? O rústico aplicado à construção e mais especificamente às paredes,
traduz-se numa ausência de acabamento e de “arte”, aparentando aspecto
grosseiro, rude, sem grandes detalhes construtivos e apuramento no acabamento.
O senso
comum associa este aspecto visual à ruralidade, ao romantismo do sentimento
campestre, influenciado por vezes na importação de modelos de outros países e
na linha do “country” da decoração de
interiores, retirando-lhe as componentes, histórica e científica, da situação
portuguesa.
Cada época
tem uma forma de construir, articulada com o conhecimento científico, os
materiais da região, as ferramentas disponíveis, a capacidade económica do
proprietário, articulando-se com as regras de bem construir, aplicadas sabiamente
pelos mestres pedreiros que existiam antes destes dias baralhados que vivemos
nas últimas décadas, de uma globalização nem sempre inteligente.
A arte de
bem construir de um pedreiro, orienta-se por regras bem definidas e consta de
um saber acumulado ao longo de muitos anos, com conhecimento passado de geração
em geração, de mestre para aprendiz, com muitos dias e anos de prática e de muitos
calos nas mãos.
Pelas
atrocidades que vejo no meio envolvente, eu diria que, actualmente, pedreiros, já há poucos. Trolhas sim, pedreiros não!
Não vou mais derivar por aí. Registo
apenas que ao observar certas obras de recuperação e restauro nesta fase da
regeneração urbana de algumas cidades, vejo maus exemplos, que muita gente
aplaude sem sentido, manifestando apenas uma ignorância arquitectónica
exuberante.
O rústico avec!!!!
Enuncio uma regra simples que
desconstrói o aplauso de muitos, nesta região granítica e telúrica, carente de
bons pedreiros. O rústico que é para manter rústico, ocorre sempre que as
molduras de vãos do edifício não são peças especialmente talhadas, aparelhadas
e tratadas, assumindo rudeza similar ao resto da construção e localizam-se no
mesmo plano. Num edifício em que existem panos de parede rudes, mas existem
também molduras de vãos, talhadas e trabalhadas, quer dizer que o aparelho
rusticado é para cobrir com outro material (reboco e pintura, azulejo, aqui no
Norte) e as peças bem desenhadas e bem talhadas, são apenas essas que devem
ficar à vista (molduras, cunhais, rodapés, cornijas, platibandas e elementos
decorativos) e normalmente destacam-se, porque se situam num plano ligeiramente
exterior (são salientes). Como toda as regras, esta também tem excepções.
Fácil e simples! Os edifícios
barrocos são autênticas “bíblias” da construção, e nós temos muitos onde aprender.
Olhem as paredes da nossa cidade e
constatem os disparates que por aí se têm cometido. Mas nada está perdido, logo
que a razoabilidade inunde as consciências, estas situações são possíveis de
reverter. Abstenho-me de mencionar aqui os casos mais escandalosos, para evitar
constrangimentos. Vejam com olhos de ver e descubram.
Publicado em NVR - 8/09/2015
2 comentários:
O Rústico AVEC!!!! sempre acutilante. como gosto que sejas assim!
Beijinho
Zé T.
tanto erro que vemos por aí
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