Ainda existem amores de Verão?
Ainda existem amores de Verão? Amores
que aconteciam durante o Verão, nas férias junto ao mar e com prazo de validade
curto, eram bálsamos para a alma. Romances leves, frescos e descompromissados,
que tinham efeito galopante e avassalador, por terem mais coração e hormonas,
do que racionalidade e pensamento.
Viver o momento, dançar em tons de
pele bronzeada, aquelas músicas românticas que só se dançavam com o amor de Verão…
isso ainda existe? Mergulhar de mão dada, furar as ondas, jogar ao king com os
amigos e partilhar a sanduíche do lanche, eram a estrutura destes amores. Na
areia desenhavam-se corações gigantes entrelaçados, tão efémeros como o tempo
das vagas e das marés. Ia-se ao cinema, se o local o permitisse, e os únicos
que viam o filme eram os mais novos, ou aqueles que tinham escapado ao Cupido.
A luz apagava-se e os dedos entrelaçavam-se no desespero da pressa que só existia
nesses amores.
O conteúdo das conversas era a espuma
de dias de sol, mar e areia - conteúdo de encantamento e sedução pura, sem
continuidade e sem responsabilidade, no intervalo de tempo de um poema.
Ainda existem amores de Verão?
Parece coisa de filme, o que se passava
naquele intervalo de tempo, o Verão. A liberdade do corpo e da mente,
condicionada o resto do ano, devido ao stress e fadiga, revelava-se nos dias
quentes, que expunha muita pele bronzeada e viçosa, com as hormonas aos pulos,
a saltar à corda e onde o coração acelerava e a respiração nos tramava. As
escolhas e as emoções criadas, certamente teriam pouca probabilidade de ocorrer
noutra situação, apesar de romântico, intenso e muitas vezes amor recíproco,
porém, efémero por natureza.
Suspender a monotonia do quotidiano,
interromper rotinas e autorizar-se a fazer nada, tudo no Verão parecia
contribuir para reencontrar o gosto e a disponibilidade para estar com os
outros, deixar fluir emoções, culminando com o sentimento por alguém especial.
Amores que terminavam na última noite
de praia, à volta de uma pequena fogueira, com o bardo de serviço a dedilhar
uma viola, onde se trocavam os derradeiros beijos fogosos e húmidos, e os
últimos amassos, para ao amanhecer, uns irem para Norte e outros para Sul, com
a promessa de enviar uma carta ou um postal, que ninguém acreditava acontecer.
Amores inesquecíveis, mas como diz o ditado, “longe da vista, longe do coração”.
A distância geográfica complicava a continuidade, com a incerteza, a
impaciência da espera de um sinal do outro que tardava em chegar, porque depois
do Verão chegava o trabalho, a responsabilidade e a maturidade.
Mesmo que a maioria dos romances de
Verão não dure, a verdade é que me emocionam e não nos devemos privar deles,
até porque nos permitem aprender a conhecer e a experimentar outras
características que desconhecíamos em nós: a doçura, a espontaneidade, a
impulsividade e a ingenuidade.
Ainda
existem amores de Verão?
2 comentários:
Um sufoco bom este texto .Mas esta kota escreve bué. Não, nao creio que já hajam tempos e amores assim, como no tempo do kaparanda .Agora as coisas acontecem ao ritmo do dedilhar pela net, " é bom? Não foi!'
EHEHEH rapidez cibernética, mesmo assim estes amores eram bons.
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