DIA DA MÃE
O primeiro contacto com esta minha melhor criação, não
é através da visão, pois eu recupero de uma anestesia geral, foi algo muito
mais profundo e inesquecível: o tacto. Ao tocar o meu rosto no seu rosto, pele
na pele, como eu tanto aprecio, a nova vida presenteia-me a melhor sensação do
mundo - a temperatura igual à minha e a textura macia da sua pele parece nuvem
de cetim, aconchegada junto ao meu peito e ao meu pescoço - 4 kg e 60
gramas.
Como
é bom o compromisso com uma nova vida e para sempre!
A
minha responsabilidade perante a vida, amplia-se descomunalmente. Ter um filho
renova-me, enriquece-me, responsabiliza-me e torna-me capaz do maior acto de
altruísmo que existe, que é conseguir dar vida e dar a vida por alguém: o meu
filho. A sensação do incondicional só adquire o verdadeiro significado quando
se é mãe, a suprema responsabilidade de proteger, de orientar, de educar, de
mimar, de transmitir valores, absorve toda a minha atenção e interesse, e para
sempre. Quero muito estar à altura deste desafio. Ele chega sem manual de
instruções, o que me torna insegura, nunca sabendo se faço o melhor. Cresço com
ele, admirando-o, respeitando-o, velando sempre por ele, nos bons e nos maus
momentos – uma parceria indestrutível, que nunca terminará.
Ao
amor associa-se o medo de o perder, o receio de não desempenhar bem o papel
mais importante da minha vida, a preocupação constante em não errar, a
insegurança e o gigante instinto de protecção. Noites mal dormidas, o
sobressalto constante, o fingir serenidade quando há um acidente ou quando está
doente, são uma constante. Compro livros sobre a saúde infantil, memorizo
sintomas e doenças para estar sempre alerta e saber quando recorrer ao médico.
Desenvolvo competências que desconhecia. Tomo consciência que vivo no fio da
navalha, que tudo pode ser determinante. Entre a vida e a morte a distância
pode ser curta, bastando a distração de um segundo.
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