IVA ACIMA, IVA ABAIXO
Proprietários dos principais
supermercados e outras catedrais de consumo têm atitudes de vorazes predadores
e nós de consumidores cordeirinhos e deslumbrados.
Anuncia-se o fim do IVA zero a partir
de Janeiro e a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) afirma,
sossegando-nos, que estão todos em condições, de forma tranquila e
transparente, de cumprir novamente a lei e repor o IVA destes produtos (…),
lembrou que se vai verificar, desde logo, um acréscimo de 6% no preço dos
produtos em causa (básicos). “Essa reposição não vai ser gradual, vai ser
imediata”, reiterou.
TOMA LÁ QUE JÁ ALMOÇASTE! A
competência revelada ao mais alto nível!
A Associação Portuguesa de Empresas
de Distribuição (APED) defendeu que a isenção de IVA para 46 categorias de
produtos foi uma medida “muitíssimo bem-sucedida, que permitiu uma poupança
significativa às famílias” e agora, acrescento eu, é preciso repor o IVA,
porque está na hora de ter ainda mais lucro do que aquele que tiveram, e que se
lixem as famílias com menores recursos.
Em 46 produtos básicos alimentares, o
IVA volta à taxa que tinha até abril do ano passado e os consumidores têm de o
voltar a pagar - coitadinhas das cadeias de retalho! Espanha prolonga IVA zero
na alimentação em 2024 - como ganham menos do que nós, compreende-se (LOL).
Entendo pouco de economia, este sobe
e desce de impostos, esta engenharia financeira do consumo, sempre contra o
consumidor, porém, entendo do marketing aguerrido e feroz de algumas empresas,
especialmente as alimentares. Se eu mandasse acabava com as campanhas publicitárias,
os saldos, promoções, compensações, cartões de compras, que acumulam pontos
convertidos em dinheiro, que depois descontam na bomba de gasolina X, no
restaurante Y, nas parafarmácias Z e ainda em certas lojas de
electrodomésticos. Nas nossas carteiras há um mundo de talões, cada um com a sua
data, que me deprimem e me menorizam como cidadã livre. De certa forma faz-me
lembrar as relações de dependência esclavagista, que tiveram muito sucesso,
antigamente.
Agora um dos grandes supermercados,
até nos premeia com um vídeo no telemóvel denominado O SEU ANO DE POUPANÇA, utilizando
o nosso primeiro nome, como se houvesse grande cumplicidade entre nós, que
informa e nos parabeniza pelo consumo: quantas vezes usamos o cartão,
lembra-nos quanto poupamos ao longo do ano 2023, marcas associadas, quais são
as lojas amigas, qual o produto que mais consumimos, lembra-nos quanto poupamos
na bomba de gasolina (e eu associo à minha triste figura sempre a procura dos talões
dentro da minha carteira, durante o abastecimento) e afirma que a nossa receita
do ano foi deliciosa, acompanhada de elementos simbólicos de uma cozinha.
Acrescenta informando que + de 4,3 milhões de famílias usaram o cartão, + 2,7
milhões de utilizadores, registados, + de 11 milhões de prémios oferecidos.
Parece que nos deveríamos orgulhar do sucesso desta empresa. O vídeo só tem 2
falhas: não comunicar o seu lucro anual, para nós consumidores carpirmos em
conjunto, e partilhar a quantia de pessoas que recorrem a bancos alimentares e
refoods, para percebermos e aclamarmos os pecadilhos desta engenharia do marketing
consumista.
Esta relação de consumo irrita-me,
porque ela é (nem sei como a classificar)… aterradora talvez; além de nos
pressionar com preços e campanhas, gera nos consumidores a frustração e a
fidelização inconsciente, obrigando-os a consumir segundo os seus padrões:
- Até 21/1 use no (supermercado X) o
seu cupão de 15% de desconto.
- Até 14/1 utilize no (supermercado
X) os restantes 20,02€ que acumulou no seu cartão.
Ou seja, além de consumidores, temos
que ser atentos, porque temos prazos-limite para consumir, para não deitar tudo
a perder nos euros acumulados.