HIKIKOMORI
O
termo hikikomori é japonês e significa pessoas isoladas do mundo, os
eremitas do século XXI.
Nunca
a Terra esteve tão conectada como agora. Juntar velhos amigos espalhados pelo
mundo, nunca foi tão fácil como agora, basta acertar a hora para todos estarem
acordados e on line. Mesmo assim
há pessoas isoladas no seu quarto que preferem não arriscar a passear no parque
num dia cheio de sol; preferem afundar-se nessa conectividade que o mundo
digital oferece, e enganando-se, afloram no mundo do isolamento.
São
os emails, as redes sociais, os twitters, os blogues, os canais que ligam as
pessoas de todo o mundo, que redesenham o mundo contemporâneo. Já não existem
momentos da família, horas de refeições, nem tempos de lazer... em qualquer momento o nosso telemóvel dá sinal
que alguém se conectou connosco em tempo real. Este exagero ou facilidade em invadir
o nosso mundo privado e o nosso tempo, tem o reverso da medalha. Ele pode ser
tão absorvente, que nos agarra e não nos larga mais. Em vez de conversar com
pessoas de carne e osso, conversa-se através da web, com milhares de pixéis
coloridos. Um cabo, onde circulam as conversas, dá ligação a todo o mundo em
segundos e tem capacidade para gerar uma verdadeira obsessão no utilizador, para
estar sempre conectado, desligando-o do mundo real e do contacto social.
Os
hikikomori mergulharam no digital e passaram a ser realmente sozinhos,
permanecendo em casa, de preferência no quarto, por tempo indeterminado. Esta é
uma vida que pode ser camuflada, porque efectivamente vivemos na era do
conhecimento que circula na net, e os equipamentos digitais já fazem parte da
nossa vida... passar 5 ou 6 horas por dia a trabalhar no computador por exigências
de algumas profissões, parece normal, e agora, em tempo de pandemia, as pessoas
aceitam trabalhar a qualquer hora, esticando essas 5/6 horas para 8, 10, 12
horas e depois, em atitude nada saudável, ainda somar o lazer que recorre
também ao mundo digital, já se desvia do aceitável.
Numa
fase inicial, a maioria dos hikikomori não têm consciência que o são. Acontece
com frequência na faixa etária juvenil e quando os pais se mostram preocupados,
acabam por ser acusados de pais analógicos, cotas ultrapassados, incapazes de
entender os nativos digitais.
O
alarme está dado.
No
Japão, meio milhão de pessoas vivem isoladas. Não vivem sós, mas vivem
isoladas, sem ter essa percepção de viver uma espécie de fobia solitária, sem
pedir ajuda.
Há
poucos estudos sobre esta doença. Do que se conhece, parece ser uma doença
urbana, porém, mais localizada nas zonas urbanas, com poucas atividades
culturais e sociais, situações que favorecem a vida enquadrada entre quatro
paredes. Normalmente são pessoas que já passaram pela consulta psiquiátrica,
abandonaram os estudos e tendem para a auto-mutilação, apresentando transtorno
obsessivo-compulsivo. Depressão, esquizofrenia e ideias suicidas são muito mais
predominantes nesse grupo.
Os
hikikomori, numa fase já tardia, estão agudamente cientes da sua própria dor. O
sentimento de culpa por submeter a família aos seus caprichos, atormenta-os,
mas não lhes dá impulso para assumir o problema e contrariá-lo. São reclusos
das suas próprias casas.
A condição de hikikomori requer intervenção activa e rápida, invés de se considerar como um estilo de vida, que não é.
Publicado em NVR, 10/11/2021
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