LIÇÃO CORONA VIRUS
O Homem é um
ser frágil, mas a sua auto-estima elevada, leva-o a convencer-se de que a sua
determinação e tecnologia, o converte em ser superior e invencível.
A evolução do Homem
é crescente; começou lá longe em África, há quase dois milhões de anos, quando
se levantou e se despediu da sua grande família de macacos, para ir descobrir o
mundo, deslocando-se para a Ásia e Europa. Até hoje, nesta grande caminhada, o
Homem criou sociedades com divisão de trabalho, inventou a vida sedentária, foi
dominando a agricultura e depois a indústria, através de guerras e revoluções,
até que mergulhou no mundo digital, abolindo fronteiras, potencializando a
circulação rápida de pessoas e informação, viagens interplanetárias e favorecendo
a inteligência artificial.
Hoje, nós
humanos, estamos inseridos no mundo global e maioritariamente neoliberal,
coroado com o sucesso profissional, onde competimos desenfreadamente uns com os
outros e eliminamos quem não interessa. Os escravos foram substituídos por pessoas
reduzidas a produtos, consumíveis e descartáveis, convencendo-se que são livres.
O furor do capitalismo está ao rubro disfarçado de democracia com ausência de
limites ao exercício do poder, esquecendo-se da teoria do equilíbrio geral que
motivou o liberalismo inicial. Vivemos num mundo abstracto e global, com uma
bolsa mundial a comandar a economia, mas que nem sabemos o que é, não sabemos
quem manda, não sabemos da veracidade da informação que circula rápida, temos
dificuldade em aceitar a diferença e excluímos constantemente os verdadeiros
valores da cidadania, porque não têm valor de uso ou comercial. Muitos desenvolveram patologias alérgicas
a tudo que cheire a socialismo, respeito pelo outro, solidariedade, assinando
em baixo desta constante e progressiva desumanização do planeta. Para esses,
tudo se resolve com a iniciativa privada, desvalorizando o Estado Social, porque
este só dá despesas e impostos.
Até que chega
um tsunami — e parecemos umas formiguinhas arrastadas pela água, com edifícios
à mistura que parecem palafitas naifes.
Até que há uma
vaga de incêndios incontrolável — e morremos queimados ou sufocados num piscar
de olhos.
Até que um
bichinho do mundo, incomensuravelmente pequeno, resolve desabrochar na China e
desafia a soberba do poder dos países — não se vê e é incontrolável num duelo
desigual.
E agora? A quem
vamos recorrer na situação de catástrofe? À bem-sucedida empresa do mobiliário
de Famalicão? Aos proprietários dos maiores navios do mundo? Ao hospital
privado que tem umas óptimas instalações?
Catarina
Martins diz que o novo vírus é uma prova de que Portugal precisa de um Serviço
Nacional de Saúde público e forte. E ela tem razão. Isto é um alerta. Nos
momentos de crise, todos se viram para o Estado procurando por socorro. Chega o
momento para reflectir sobre a sociedade e todas estas questões, que se prendem
não só com a sobrevivência deste Homem egoísta e obcecado, mas também com o bem-estar
social, a qualidade e a dignidade da vida das pessoas.
Revoltando os dias - publicado no NVR em 11/03/2020
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