Diário de viagem
Roma, Abril 2001
Saída do metro no Coliseu.
Deparei-me com os centuriões, um pouco ridículos, que se passeiam em volta desta maravilha romana e fazem-se para a fotografia dos turistas, para cobrarem no fim.
Passei o arco de Constantino, arco de Tito e embrenhei-me pelos vestígios da Roma antiga, Fórum. Sinto que tenho pouco tempo para me perder por aqui. Há imensa coisa para ver numa área bem extensa. Respira-se uma atmosfera diferente desta cidade antiga, que coexiste com Roma moderna, dentro dela. Olhando toda aquela extensão em ruínas, senti-me a regressar ao passado, e isso perturbou-me um pouco.
Estabeleci um percurso de travessia, mas sempre a olhar para o relógio. Preciso de três dias à vontade, para fazer os diversos percursos possíveis. Registo o essencial, com o objectivo de voltar mais tarde. Pavimentos, bases de colunas, arquitraves, e… colunas altas, elegantes, lindíssimas… templo de Antonino e Faustina, Casa das Vestais, templo de Saturno, pouco sobrou do templo de Castor e Pólux, Tribuna dos Oradores, arco do Septímio Severo… o Palatino fica para o lado direito, e não há tempo para ir até lá.
Fui andando pois o meu sentido de orientação estabeleceu como prioridade primeiríssima uma praça renascentista, localizada mais à frente.
É interessante aceder pelas traseiras dos edifícios que formam a praça. Começar a observar os edifícios pelo lado que ninguém vê. Escolhi uma ruela, na esperança de não me ter perdido no meio de tanto calhau e tanta ruína. Consultei diversas vezes as minhas plantas.
Nunca ninguém entende os caminhos que escolho, mas já desistiram de teimar comigo. Um dia se me engano!!!!::::
Romano, romano, não encontrei ninguém. Só gente em calções e sandálias, com ar de congestionamento cultural, overdose arquitectónica e câmara fotográfica na mão.
Chegamos.
- É isto mesmo! Aqui estão os traços urbanos de Miguel Ângelo, bem perto do monumento a Vittorio Emanuel II, erguido para assinalar a Italiana unificada. O monumento parece o bolo da noiva, muito grandioso, muito neoclássico, muita coluna, muita escada, muito baixo relevo: o neoclássico mais esplendoroso que poderá haver, até chega a enjoar.
Voltemos ao Miguel Ângelo. Desenhou o pavimento e as fachadas da Piazza del Campidoglio(Palazzo Nuovo+ Pallazzio Senatorio + Museu Capitolino), uma das sete colinas de Roma- antiga acrópole, e a cordonata, encimada pelas estatuas de Castor e Luxor, em 1534. Conheço a praça de vista superior, é uma construção geométrica – exploração da estrela de 12 pontas, de grande efeito visual, que possui no centro uma das poucas estátuas equestres que sobreviveu à antiguidade, de Marco Aurélio – esta será um cópia talvez.
Ao contrario do monumento ao Vitorio Emanuel, esta praceta tem uma escala muito humanizada, e a sua grandiosidade resulta do bem estar que provoca, da subtileza das volumetrias das fachadas, dos tons ocres reforçados pelos mármores e que se interligam com o rendilhado da roseta do pavimento da praça.
Ufffa, valeu a pena vir até aqui. Uma verdadeira jóia do renascimento.
A cordonata é uma rampa de um só troço, com peças transversais por forma a impedir o escorreganço dos cavalos, e que esse pormenor acaba por dar originalidade ao acesso. Desci por ela.