09 abril, 2025

Vale a pena discutir?


 Vale a pena discutir?

Da discussão nasce a luz!

Da discussão nasce a luz é um conceito utilizado para dizer que ao debater um determinado assunto ele fica mais bem compreendido para os que estão envolvidos na discussão. A palavra luz é uma metáfora que expressa clareza, entendimento ou ideias que surgem.

Será que da discussão nasce, realmente, a luz? Nem sempre.

Vivemos num mundo onde as discussões frequentemente se transformam em disputas. A ideia de que a verdadeira discussão deve ser um espaço de troca de conhecimento e de aprendizagem, em vez de uma competição, é fundamental para o crescimento pessoal e colectivo.

Na verdade, muitos envolvem-se em debates com o objectivo de vencer ou de reafirmar as suas próprias crenças e alimentar o seu ego, em vez de buscar uma compreensão mais ampla, sobre o assunto, dispondo-se a “vestir-se” com uma lógica distinta da sua. É necessário ter humildade e conhecimento para adoptar esta postura. O desafio está em cultivar a habilidade de ouvir de forma activa e empática, permitindo que novas perspectivas sejam integradas à nossa própria visão de mundo.

Cada um de nós possui um fragmento da verdade, e só quando conseguimos unir as várias peças ou fragmentos, utilizando um discurso dialéctico e uma argumentação engenhosa e lógica, é que podemos alcançar uma compreensão mais completa e enriquecedora, sem vencedores e sem vencidos.

É importante reconhecer que a escuta activa e a abertura ao diálogo não significam que devemos abdicar das nossas convicções. Em vez disso, trata-se de enriquecer o nosso entendimento, potenciar e redefinir o que consideramos verdade. Essa abordagem pode, de fato, iluminar caminhos que antes não eram visíveis e promover um ambiente de respeito mútuo, onde a diversidade de ideias é valorizada.

A luz que nasce da discussão é um resultado da colaboração e da empatia, e não da competição. Ao praticar a arte de discutir com a intenção de compreender e crescer, contribuímos para uma sociedade mais harmoniosa e esclarecida. Isso exige de nós, humildade e disposição para investigar a validade das nossas convicções, porém, exige também um interlocutor com a mesma postura, com sensibilidade e entendimento para aceitar que o não ter razão é um acto de dinamização e de mudança enriquecedora. Se do outro lado houver apenas teimosia, demagogia, e obstrução à mudança, o que se verifica é uma altercação em que a opinião se quer impor pelo volume de voz, pela violência verbal e por vezes agressão física. Há pessoas que, mediante as melhores provas e argumentos que lhes apresentamos, não têm a capacidade para entender o que lhes é dito. E outras há que, cegas pelo ego, pelo ódio e pelo ressentimento, não desejam senão uma coisa: ter razão, mesmo sem a ter.

Partilho convosco a conhecida história do burro e do tigre:

Um burro diz a um tigre que a erva é azul! "Não" responde o tigre, "é verde"! A troca de ideias fica azeda e resolvem recorrer ao Rei Leão para arbitrar a disputa. Ao chegarem à clareira onde o leão descansava, o burro já gritava ”Vossa Majestade, a erva é azul, não é azul, a erva, Majestade?” O leão responde-lhe, “Sim, a erva é azul!”

Diz o burro: "Majestade, o tigre não está de acordo comigo e isso aborrece-me, que castigo lhe dará?"

“O tigre será punido com cinco anos de silêncio” determina o Rei da Selva.

O burro regozija e, saltitando de contentamento, continua o seu caminho repetindo incansavelmente: "a erva é azul, a erva é azul..."

O tigre aceita a punição, mas pergunta ao leão: "Vossa Alteza porque me pune? Sabe bem que a erva é verde".

O leão responde: “Efectivamente é verde. A tua punição deve-se ao facto de uma criatura corajosa e inteligente como tu tenhas perdido o teu tempo a discutir com um louco fanático, que não se ajusta à realidade ou à verdade, mas somente à vitória das suas crenças e ilusões. Nunca percas tempo com argumentos que não fazem sentido nenhum. Quando a ignorância grita, a inteligência cala-se.”

Perder tempo é pior do que perder razão.

Nem toda a discussão vale o nosso tempo. Às vezes, o maior erro não é estar certo ou errado, mas insistir em convencer quem não quer ver a verdade. Abandonar discussões estéreis pode ser um sinal de superioridade.

Publicado NVR 09|04|2025

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