Vale a pena discutir?
Da
discussão nasce a luz!
Da
discussão nasce a luz é um conceito utilizado para dizer que ao debater um
determinado assunto ele fica mais bem compreendido para os que estão envolvidos
na discussão. A palavra luz é uma metáfora que expressa clareza, entendimento
ou ideias que surgem.
Será
que da discussão nasce, realmente, a luz? Nem sempre.
Vivemos
num mundo onde as discussões frequentemente se transformam em disputas. A ideia
de que a verdadeira discussão deve ser um espaço de troca de conhecimento e de
aprendizagem, em vez de uma competição, é fundamental para o crescimento
pessoal e colectivo.
Na
verdade, muitos envolvem-se em debates com o objectivo de vencer ou de
reafirmar as suas próprias crenças e alimentar o seu ego, em vez de buscar uma
compreensão mais ampla, sobre o assunto, dispondo-se a “vestir-se” com uma
lógica distinta da sua. É necessário ter humildade e conhecimento para adoptar
esta postura. O desafio está em cultivar a habilidade de ouvir de forma activa
e empática, permitindo que novas perspectivas sejam integradas à nossa própria
visão de mundo.
Cada
um de nós possui um fragmento da verdade, e só quando conseguimos unir as
várias peças ou fragmentos, utilizando um discurso dialéctico e uma
argumentação engenhosa e lógica, é que podemos alcançar uma compreensão mais
completa e enriquecedora, sem vencedores e sem vencidos.
É
importante reconhecer que a escuta activa e a abertura ao diálogo não
significam que devemos abdicar das nossas convicções. Em vez disso, trata-se de
enriquecer o nosso entendimento, potenciar e redefinir o que consideramos
verdade. Essa abordagem pode, de fato, iluminar caminhos que antes não eram
visíveis e promover um ambiente de respeito mútuo, onde a diversidade de ideias
é valorizada.
A luz
que nasce da discussão é um resultado da colaboração e da empatia, e não da
competição. Ao praticar a arte de discutir com a intenção de compreender e
crescer, contribuímos para uma sociedade mais harmoniosa e esclarecida. Isso
exige de nós, humildade e disposição para investigar a validade das nossas
convicções, porém, exige também um interlocutor com a mesma postura, com
sensibilidade e entendimento para aceitar que o não ter razão é um acto de
dinamização e de mudança enriquecedora. Se do outro lado houver apenas
teimosia, demagogia, e obstrução à mudança, o que se verifica é uma altercação
em que a opinião se quer impor pelo volume de voz, pela violência verbal e por
vezes agressão física. Há
pessoas que, mediante as melhores provas e argumentos que lhes apresentamos,
não têm a capacidade para entender o que lhes é dito. E outras há que, cegas
pelo ego, pelo ódio e pelo ressentimento, não desejam senão uma coisa: ter
razão, mesmo sem a ter.
Partilho
convosco a conhecida história do burro e do tigre:
Um burro diz a um tigre
que a erva é azul! "Não" responde o tigre, "é verde"! A
troca de ideias fica azeda e resolvem recorrer ao Rei Leão para arbitrar a
disputa. Ao chegarem à clareira onde o leão descansava, o burro já gritava ”Vossa
Majestade, a erva é azul, não é azul, a erva, Majestade?” O leão responde-lhe,
“Sim, a erva é azul!”
Diz o burro:
"Majestade, o tigre não está de acordo comigo e isso aborrece-me, que
castigo lhe dará?"
“O tigre será punido com
cinco anos de silêncio” determina o Rei da Selva.
O burro regozija e, saltitando
de contentamento, continua o seu caminho repetindo incansavelmente: "a
erva é azul, a erva é azul..."
O tigre aceita a punição,
mas pergunta ao leão: "Vossa Alteza porque me pune? Sabe bem que a erva é
verde".
O leão responde: “Efectivamente
é verde. A tua punição deve-se ao facto de uma criatura corajosa e inteligente
como tu tenhas perdido o teu tempo a discutir com um louco fanático, que não se
ajusta à realidade ou à verdade, mas somente à vitória das suas crenças e
ilusões. Nunca percas tempo com argumentos que não fazem sentido nenhum. Quando
a ignorância grita, a inteligência cala-se.”
Perder
tempo é pior do que perder razão.
Nem
toda a discussão vale o nosso tempo. Às vezes, o maior erro não é estar certo
ou errado, mas insistir em convencer quem não quer ver a verdade. Abandonar
discussões estéreis pode ser um sinal de superioridade.
Publicado NVR 09|04|2025
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