31 agosto, 2021
28 agosto, 2021
25 agosto, 2021
O C-17
O C-17
As
imagens transmitidas pela televisão e web são aterradoras.
A
fuga desesperada aos talibans que ocuparam pela força, Cabul, tiradas no
aeroporto chegam a ser surreais.
A
terra é deles, mas o terror gera solidariedade que deve falar todas as línguas
e ser transversal ao universo.
Apesar
de se apresentarem agora 20 anos depois, como mais moderados e respeitadores,
não queria estar na pele daquela gente, especialmente sendo mulher.
O
aeroporto abarrotava de gente e o que mais me impressionou, foi a invasão da
pista e as pessoas subirem para o avião ou agarrarem-se na parte exterior do
mesmo, em atitude de desespero, mesmo sabendo que do lado de fora do avião
ninguém iria conseguir sair dali. Chama-se a isto a fuga para a sobrevivência. Uns
caíram, outros foram atropelados e outros morreram. Alguns conseguiram levantar
voo e ainda sobrevoar Cabul e caíram. Outros ficaram esmagados na
descolagem.
A
imagem do interior do avião parecer ser fake, mas o drama persiste. 640 pessoas
a bordo deste avião preparado para uma lotação de 100 pessoas, e mais uns
milhares, retiradas noutros aviões nos dias seguintes. O C-17 foi uma amostra
para o mundo.
Neste
conflito, nunca sei qual é o lado da razão, nunca conheço todos os
antecedentes, nem as estratégias da política internacional. Sinto-me pequenina
e frequentemente manipulada, apesar do meu esforço de clarificar questões,
mediante este gigantesco tabuleiro de xadrez. São os americanos, é a Rússia,
são os mujahidins, é o Osama Bin Laden, é a Al-Qaeda, é a revolução
afegã... desconheço quem é a dama, o
rei, os cavalos, os bispos e as torres, porque umas vezes são uns, outras vezes
são outros, oscilam entre as pretas e as brancas e o tabuleiro quadriculado é
um espaço ilusório e disforme, cheio de buracos negros, armadilhas e
diplomacias internacionais trilhadas em caminhos miméticos e violentos. Cada um
tem o seu valor e o seu movimento, ora em ataque, ora em defesa...só reconheço os
miseráveis peões, as mulheres e as crianças, seres considerados menores e sem
direitos, que sofrem abusos constantes, sem poderem ter uma vida digna e livre,
ou melhor, se podem, na verdade, resistir e sobreviver – um drama humanitário.
Por vezes tudo parece tranquilo e equilibrado até que um xeque-mate surpreende
a nossa inércia boçal, sempre com a tradução em sofrimento dos peões.
Cada
vez mais gosto de viver onde vivo, onde tudo se poderá resumir, se a avenida
tem árvores ou não, se temos um rego com vaporzinhos e qual a sua função, para
que servem passeios tão largos na minha rua, onde não passa ninguém, as
reclamações do condutor do carro dos bombeiros contra a rua larga, de acesso
estreito, o muro do tribunal, o banco corrido que parece a espera da
“carreira”, a calçada à portuguesa que foi à vida...
Ufa,
gosto mesmo disto, desta paz tão pouco problemática e destes confrontinhos de
cacaracá, que não matam, nem ofendem ninguém.
Não
quero outra vida!!! Como sou feliz!
Publicado em NVR, 25/08/2021
24 agosto, 2021
Carralcova
Quando o silêncio completa a nossa agitação, o bálsamo dos desencontros transforma-se em diversos sorrisos.
Vale a pena viver. Aqui o tempo pára e passa depressa - uma ampulheta incompreensível.
20 agosto, 2021
18 agosto, 2021
ETIMOLOGIA DOS PAÍSES
Etimologia dos países
Tive
curiosidade em consultar um atlas etimológico, descobrindo a origem dos nomes
dos países, para preencher tempo de ócio.
Sempre
achei piada ao nome de Irão, e todos que terminam em ão, dando-me ideia que seriam
países muito grandes associando ao sufixo aumentativo, mas após estudar o
assunto, descobri muita coisa interessante. A maioria dos nomes relaciona-se
com as características do território, algo que ocorreu com a colonização ou ligada
ao seu colonizador. Percebi que Cristóvão Colombo e Fernão de Magalhães
apadrinharam muitos lugares e os países orientais apelam mais à essência da
natureza, aos fenómenos solares e aos valores.
Começando
por Portugal, cuja origem Portus Cale remonta à sua fundação– Porto vem do
latim e Cale é nome de território que curiosamente também significa porto,
assim teremos um porto em duplicado, com a certeza que tem origem nas cidades
do Porto e de Gaia.
Cada
investigador cria a sua teoria, com analogias e conclusões muito próprias e
assim se faz a História.
Ora
vejam:
Espanha – terra dos coelhos, segundo
os cartagineses encontraram este território infestado de coelhos, quem diria...
França – terra dos ferozes;
Inglaterra – canal estreito:
Irlanda – terra da fartura:
Itália - terra dos bezerros:
Noruega – caminho do Norte;
Rússia -. remadores;
México - umbigo da Lua:
Bahamas – baixa-mar;
Bermudas-sempre associei aos calções
compridos, afinal o navegador espanhol que as descobriu chamava-se Juan
Bermundêz;
Cayman – crocodilo;
Honduras - água profundas (funduras);
Argentina – terra da prata (argentum);
Brasil -- vermelho cor de brasa,
proveniente do brésil extraído das árvores e serve para tingir. Curiosamente a
bandeira nada tem a ver com o simbolismo do nome.
Bolívia – República de Simón Bolivar;
Venezuela - pequena Veneza. Quando Alonso de Ojeda
passou pela Venezuela em 1499, lembrou-se da cidade italiana por causa das
casas onde vivam os indígenas, que ficavam à beira da água – ou, em alguns
casos, no meio do rio, erguidas em palafitas – formando uma espécie de cidade
alagada similar à europeia.
Angola – N’gola, rei;
Benin - terra do aborrecimento e da
Irritação;
Camarões – para quem gosta, aqui há
em abundância;
Egipto - derivada de hūt-kā-ptah,
“Templo (hut) da Alma (ka) do Deus Ptá”, marido da deusa Sekhmet na mitologia.
Em grego, foi simplificado para Gea Ptah, “Terra de Ptah”, e daí virou
Aegyptos.
Etiópia – terra dos bronzeados;
Gabão – sobretudo;
Libéria- livrelândia – o país foi
fundado como assentamento de escravos libertados nos EUA que aceitaram retornar
ao continente africano.
Irão – terra de nobres;
Bangladesh – país do sol;
Japão – terra do sol nascente;
China – império do meio;
Tailândia – terra dos homens livres;
Papua Nova Guiné - Nova África de
Cabelo Cacheado
Um
dos nomes mais curiosos encontrados foi Nauru, sendo um país da Oceânia. O nome
verdadeiro deste minúsculo país é “A-nao-ero” que significa “vou à praia para
deixar os meus ossos”. Essa era a frase utilizada pelos primeiros povoadores,
para indicar que os seus ancestrais, após vários dias de navegação, estavam a
morrer quando chegaram a esta ilha, salvando a vida.
Publicado em NVR, 18/08/2021
16 agosto, 2021
CURADORIA DIGITAL DOS ARTISTAS PLÁSTICOS DE ANGOLA
É um espaço em permanente construção, obviamente, e para o aumentar basta contactar a autora e sugerir-lhe os nomes que possam estar em falta.
Mais de duzentos artistas plásticos listados por ordem alfabética.
13 agosto, 2021
SEXTA-FEIRA 13 - DESENKELHANDO
11 agosto, 2021
GUIÃO
GUIÃO
É tempo de passear e fazer visitas
a exposições e museus.
Como devemos agir perante estas
visitas em que seremos invadidos por muita informação que não dominamos?
Entramos ou fugimos?
É sempre melhor entrar e aceitar
todos os estímulos a que vamos ser sujeitos.
Quem não tem formação artística,
fica inseguro não sabendo distinguir o que é mais importante e receia sair dali
com a sensação de não ter aproveitado na totalidade esta experiência tão
particular.
Se a visita foi programada,
aconselho a que leia antes, algo sobre o que irá ver, porque assim já possuirá
antecipadamente, um complemento de informação, permitindo-lhe aproveitar melhor
a visita.
Não gosto de áudio-guias, porque
sei selecionar o que me interessa, mas o áudio-guia dar-lhe-á informação
organizada e no tempo certo.
Certamente será surpreendido por
alguma coisa, porque normalmente, estes são espaços onde a criatividade abunda.
Deixe-se surpreender, ou até emocionar, mesmo que não entenda as razões, abra o
seu coração e a sua mente, para que a emoção se instale dentro de si. Depois
tente perceber o que sente e como a mensagem o afectou, primeiro a emoção e
depois a razão.
Nunca tente memorizar tudo, porque
somos humanos e a nossa capacidade de concentração e memorização é limitada.
Quando visitar um grande museu, tente vê-lo por partes. Alguns dos maiores
museus do mundo, já têm vários percursos seleccionados para o ajudar nesse
sentido. É mais fácil rentabilizar pequenas exposições do que exposições
gigantescas, quanto menos obras, mais seleccionadas elas estão pelo seu curador.
Quando se tem a percepção que não
irá voltar a esse lugar, fotografe, ou adquira um catálogo ou guia, com boa
fotografia, que o ajudará, a arrumar a informação quando voltar a casa,
favorecendo a sua aprendizagem e enriquecendo o seu mundo interior.
Deve ir só ou em grupo? As duas
possibilidades podem ser boas. Só, tem mais autonomia, pode demorar o tempo que
lhe agradar, mas em grupo poderá trocar opiniões e conversar sobre o que viu.
Leia pequenas placas informativas
e outros materiais.
Aproveite também para apreciar a
envolvente, os espaços, o edifício. Faça alguns intervalos e paragens.
Experimente sentar-se em algum lugar e deixar o tempo correr, fruindo a
situação, apreciando também os visitantes e as suas expressões perante o que veem.
Não se sinta frustrado se no fim
já não se lembra do que viu no início, certifique-se que conseguirá partilhar
parte da experiência com alguém. Isso já é bom.
Passados uns dias, veja as
fotografias e passeie pelo catálogo e verá que tudo se harmonizará na sua memória
e no seu conhecimento.
Não resultou? Não tem problema, vá
até à esplanada e tome uma bebida bem fresquinha, porém, nunca pense:
- Aquela pintura até eu
pintaria...
Mas, não pintou! Dahhh
Boas férias.
Publicado em NVR, 11/08/2021
10 agosto, 2021
Antecipando
09 agosto, 2021
07 agosto, 2021
Segóvia
Diário de Viagem - mais uma vez em Segóvia em boa companhia, cidade linda de Castela. Não me canso de fotografar o aqueduto romano - 160 arcos. Aqui nesta foto, vê-se lá ao longe. Desta vez é para dedicar mais tempo ao Bairro Judeu e à Sinagoga. Não perdoarei uns huevos com jámon à hora do pôr-de-sol que aqui é quase sempre esplendoroso.
05 agosto, 2021
04 agosto, 2021
O GLÚTEN DA LIBERDADE
O GLÚTEN DA LIBERDADE
A
opinião pública divide-se quanto ao luto nacional pelo desaparecimento de Otelo
Saraiva de Carvalho. Nunca alguém foi tão visivelmente questionado, como este
caso que, reacendeu ódiozinhos amarfanhados, recordou Abril e ainda as
conturbadas acções terroristas que têm abalado a nossa jovem democracia.
Esta
agitação levou-me a investigar sobre o significado do luto nacional e o seu
critério de selecção. Verifiquei que o luto nacional pode ser decretado pelo
falecimento de personalidade, ou ocorrência de evento, de excepcional
relevância... e segue-se uma lista enorme dos lutos já decretados. Confirmei
alguns casos, surpreendi-me com outros que assinalam a nossa História. Ora
vejam:
-
D. Luísa de Gusmão mereceu 2 anos de luto nacional;
-
A rainha D. Maria I. um ano de luto nacional;
-
A Rainha D. Maria II teve menos consideração, 6 meses;
-
D. Carlos apenas 4 meses ultrapassado e muito por Eduardo VII do Reino Unido,
que teve direito por parte de nós, portugueses, a 6 meses de luto carregado e 6
meses de luto não carregado, sabe-se lá porquê!
-
Hitler, 3 dias, valeu-lhe as câmaras de gás e outras atrocidades;
-
Salazar, 4 dias, apenas um dia a mais do que o anterior;
-
Samora Machel e o Imperador Hirohito do Japão – 3 dias cada, desconheço se
Agostinho Neto e Amílcar Cabral tiveram o mesmo tratamento;
-
General Spínola, 2 dias, não bastava 1? Mas como dirigente do MDLP teve direito
a 2 dias.
Que
raio de coerência é esta?!
-
Eusébio, Amália Rodrigues, Nelson Mandela e Papa João Paulo II, levaram pela
mesma medida, 3 dias.
-
António Arnaut, grande responsável pela criação do Sistema Nacional de Saúde
teve 1 dia, superado pelo Manuel de Oliveira com 2 dias.
-
Carlos do Carmo, fadista, foi considerado equivalente a Álvaro Cunhal, figura histórica
e carismática da resistência ao fascismo.
As
pessoas questionam-se, opinam e todos parecem ter razão. Todos lembram Otelo
como o herói e o estratega do 25 de Abril, que libertou este país da guerra colonial
e do antigo regime ditatorial. E todos lembram também a sua ligação às FP25,
apesar de ter sido julgado e amnistiado. Dizem que uma ação não pode invalidar
a outra. Mas parece que sim, que pode. A sua ação no 25 de abril não invalida o
seu envolvimento nas FP, porém, a sua ligação às FP25 invalida que se considere
e se atribua o ritual do luto nacional, à figura que devolveu a liberdade a
este país. É uma matemática estranha.
Pouco
me interessa o luto, o que constato é a azia que tudo isto provoca a certas e
muitas pessoas. Nos mais jovens, existe uma ausência de significado e
simbolismo sobre a revolução. Pensam que a revolução se fez de telemóvel na mão
ou no sofá, como se faz nos jogos digitais. Nos mais velhos parece não haver o
entendimento, que numa revolução se pode viver ou morrer, sair-se victorioso ou
derrotado e portanto, quem a faz, não são os anjinhos do céu, são homens de
armas na mão capazes de as usar, matando ou morrendo. Não se pode comparar um
revolucionário com a irmã Lúcia. Não se pode minimizar uma revolução, nem
compará-la com uma peregrinação a Fátima. São contextos, épocas, objectivos,
estratégias e agentes distintos.
Se
reflectirmos bem sobre a maioria dos nossos heróis, verificamos como são
sanguinários, possuindo uma contabilidade gigantesca de mortos e feridos. O
nosso rei Fundador, quantos matou e quanto roubou?
Samora
Machel teria sido presidente sem Otelo?
Sem
Otelo, estaríamos nós aqui hoje, a falar e a escrever livremente?
O
reconhecimento e o percurso da História são inalteráveis, a memória não se
apaga. Não queiram converter uma revolução militar em algo “light sem açúcar,
sem glúten e sem aumentar o colesterol” desta vida, que tenta viver no fio da
navalha entre o Bem e o Mal.
Penso
haver um esquecimento propositado sobre os capitães de Abril. Salgueiro Maia
tinha o currículo limpo, Melo Antunes também e não tiveram luto nacional.
Desvalorizar a sua acção, é desvalorizar a revolução, desprovendo-a de actos simbólicos
para relativizar o que foi antes.
Faltam
3 anos para as comemorações do 25 de Abril. Muita “tinta” irá correr através
dos canais de comunicação, cavar-se-á um fosso cada vez mais significativo,
entre os que festejam e valorizam e os que sentem verdadeiras comichões devido ao
glúten da liberdade. E afinal o que
interessa o luto nacional? NADA e se o critério for duvidoso, ainda interessa
menos.
Retiro
desta amálgama política, logicamente, todos os familiares das vítimas, sejam
elas quais forem, e em que época, porque a sua dor merece todo o respeito do
mundo.
Publicado em NVR 4/08/2021