IRMÃ SOL, IRMÃ LUA
Realizador Franco Zeffirelli
1972
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Vai ter de
superar ahahah | Vai ter de superar ahahah |Essa minina solta |Essa minina
solta… (Giulia Be)
Rei da bobage | O social básico | Princesa
do norte | A pérola do meu colar | O Quintino, o Toy, a Cinha Jardim…
Observam-se as relações de várias
pessoas, maioritáriamente jovens, encerradas numa casa luxuosamente bela, com
uma brutal piscina localizada junto ao mar da Ericeira. Rapidamente os humores
variam ao longo do dia e da noite, como consequência da personalidade de cada
um - é esse o desafio segundo os psicólogos. Através da televisão, temos uma
montra de emoções humanas, que podemos olhar em anonimato, a qualquer hora do
dia ou da noite. Ou então mudar de canal fazer zapping e estacionar numa
esquina qualquer.
Teresa Guilherme, madrinha dos
primeiros Big Brothers, apresenta-se de pele bem esticada, parece passada a
ferro. Envelheceu. Em vez de sorrir para cima, faz um esgar com os cantos da
boca virados para baixo, parecendo uma caricatura do que foi. A transferência
bancária deve ser muito motivadora para a senhora sair de casa ao final da
noite e mastigar a falta de privacidade de cada jogador.
Essa vida “difícil” que eles levam
dentro daquela casa é enriquecida por desafios e festas constantes, como se
vida fosse assim na vida real. Pareço eu a organizar o Natal na minha casa,
pensando e criando entretenimento para a minha família passar dois dias à
lareira, sempre divertida e ocupada com situações leves e divertidas.
Muita luz, muitos balões, muita
dança, muita sensualidade, tal qual a vida da maioria dos jovens portugueses,
com pais desempregados a viver em bairros sociais. (sou eu a ironizar)
Vai ter de superar ahahah |Vai ter
que superar ahahah | Essa minina solta
A todas as horas, transmite-se a
excessiva preocupação com maquilhagens, com toilettes, como se a vida
fosse apenas isto. Falam uma linguagem estranha, que abunda entre os jovens,
alternando todas as palavras com “tipo isto” e ” tipo aquilo”, pouco “tás a ver
mano”. O “pá” quase inexistente, cedeu lugar ao “tipo”, o que torna os diálogos um autentico massacre.
Cada um transporta os seus dramas,
com o objectivo de aproximar mais esta realidade virtual, ao mundo dos humanos
inscrito na sociedade. E o Dr. Quintino comenta - uma figura que me deixa enfastiada com tantos metros
quadrados de lábios, que parecem uma banheira. O Toy puxa da sua veia poética e
com frequência faz uns poemas pimba, onde amor rima com sedutor. Pipoca é fria,
seca e mal educada e Fanny parece um parque de diversões.
Reality show???será? será tudo
menos reality!
Os desafios colocados são pobres
de conteúdo e de finalidade. Fazer
piscinas para somar metros até fazer os quilómetros da distância, daqui ao Brasil,
receber bolinhas de recados que vão chegando inesperadamente através de um besidróglio,
passear com um balão pendurado na barriga,… isto serve para quê? É apenas
competição idiota que vão gerando atritos e cumplicidades, mais nada. Incomodam-me
tarefas e diversão sem objectivos válidos. Por vezes têm um desafio focado na
reciclagem e na sustentabilidade, com o objectivo de elevar o nível.
Vai ter de superar ahahah | Vai
ter de superar ahahah
O Big, uma das vozes masculinas mais
belas do mundo, Cândido Mota, com um sentido de humor depurado, inigualável e
com uma paciência infinita, depois de tantos anos na rádio e no Passageiro da Noite
(quem se lembra dos anos 80?), salva o show. A voz vai equilibrando
estes jovens que depois de algumas semanas colapsam, demonstrando como são
pouco resilientes, bastante ignorantes e facilmente desmontam a pose da roupa e
da maquilhagem… Por vezes penso: há 50 anos, estes jovens estariam num quartel
ou no mato com uma metralhadora na mão…
Nos diálogos com Cândido Mota,
este por vezes utiliza um vocabulário mais depurado que estes simpáticos jovens
“do tipo”, não entendem. Assim percebemos, como eles são “tipo”incultos, como
eles têm tanta coisa para aprender… sabem fazer maquilhagens prodigiosas, sabem
as letras da música da moda, dançam bem kizomba, despejam letras rap, mas
coitados, não leem, não conhecem a língua portuguesa, não sabem fazer contas e
não se envergonham da sua ignorância. Fumam, usam unhas de pantera, os rapazes
cuidam diariamente do visual, com o seu corte de cabelo tipo capachinho, as
meninas usam tanguinhas de praia, mesmo que esteja frio, colocam os pés em cima
dos sofás onde depois se deitam os rostos e os cabelos… Deitam-se às tantas, acordam tarde, raramente
limpam a loiça que sujam e assim passam o dia e a noite. Dançam e dançam, mas
desconhecem qual é a capital da Austrália, em que continente fica a Croácia e
como se faz uma conta de dividir… e o que isso interessa?
Vai ter de superar ahahah | Vai
ter de superar ahahah
Alguns
defendem causas… causas de meninos e meninas da mamã e vão ganhando uns euros, em cada dia que passa e a esperança
de contratos milionários no futuro. Entre estes betinhos afortunados, destaca-se
um personagem com comportamento inaceitável e que durante algum tempo massacra
o bom senso e a saúde mental dos companheiros, até ser expulso. Um menino que
parece ser mentalmente instável, mas que os especialistas afirmam que não será,
mas cria conflitos, e torna perigosa a sua permanência dentro daquela casa,
para ele e para os outros. Mostra-se vândalo e mau, escudando na sua infância
vivida com problemas entre o pais, como se isso justificasse a sua acção
maléfica.
Vai ter de superar ahahah | Vai
ter de superar ahahaha | Essa minina solta
Histórias de superação são expostas
ao público… a que preço? Pessoas feitas de histórias, querem um futuro melhor e
veem aqui uma janela de oportunidade, os três meses de fama que as poderá
catapultar para o sucesso e talvez ganhar os 50 mil euros do prémio final.
Suponho que dentro daquela casa
fechada, o tempo fica incomensurável, refletindo-se em stress, conflitos e
paixões rápidas. Incomodam-me os pés em cima dos sofás, os pés em cima das
cadeiras mexendo nos pés, enquanto comem, a permanência constante entre
almofadas no sofá ou nas cadeiras da piscina, à espera de aviões que arrastam
uma faixa com algumas palavras dirigidas aos concorrentes, ao bocejo, à parvoeira
e ao ócio continuado.. Apesar de
tudo eles são simpáticos, amorosos e as audiências sobem. Que lodo!
Vai ter de superar ahahah | Vai
ter de superar ahahah | Essa minina solta.
Saber perder, dignifica
Aqui está um péssimo exemplo para a humanidade, oferecido por Trump.
Ninguém gosta de perder, podemos ficar indispostas, aborrecidos para o resto da vida, traumatizados, mas virar tudo ao contrário acusando os outros, revela má formação, e neste caso, põe em causa as instituições que organizam o processo eleitoral, sob a sua responsabilidade.
Este caso não merece da minha parte, mais nenhuma referência, mas pretendo reflectir sobre, “saber perder dignifica”.
Quem luta, quem vai a jogo, quem tem coragem em se expor, arrisca a ganhar ou a perder. Mais importante do que essa coragem, é saber aceitar uma derrota, transformando-a em aprendizagem. Quem aceita derrotas, quem reflecte sobre elas, analisando o que falhou, está a preparar-se para uma próxima vitória.
O sentimento de frustração que acompanha a derrota, o reconhecimento que, as nossas expectativas falharam, o tempo gasto num certo enquadramento, desapareceu, não são fáceis de digerir, e especialmente se foi utilizado esforço, empenho, resiliência, porém, são esses os eixos do desenvolvimento da aprendizagem que é necessária concretizar. A auto-avaliação, realista e pacífica, dão-nos a perspectiva do caminho a seguir no futuro. Sei que há caminhos já feitos, a fazer, regulares e labirínticos, mas são caminhos, abrem informação e permitem planeamento e acção.
A derrota é a melhor lição que poderemos ter sobre nós e sobre o que queremos. Reagir agressivamente, sem lógica e teimosamente atirando as culpas para os outros e o desejo de vingança, não dignifica ninguém. É assim na política, no futebol, na vida profissional, na educação dos filhos, na relação com a família e amigos.
Aceitar uma derrota, faz parte do nosso processo de crescimento interior. Foi assim desde que nascemos. O processo é genético. Quando um bebé cai, chora e tenta levantar-se para continuar a sua aprendizagem da marcha.
A nossa mente bloqueia com mentiras, desculpas, medos não permitindo sair do patamar da derrota e engordando a vitimização, que não chega nunca a algo vitorioso e digno.
A derrota é um sinal de fraqueza, mas aceitar a fraqueza é um sinal de inteligência, racionalidade, que levará a futuras vitórias e a um novo grau de civilidade.
Há um provérbio japonês que diz:
“Pouco se aprende com a vitória, mas muito com a derrota.”
Publicado em NVR - 10/11/2020
á Há um proveHá
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Ainda parece um assunto distante de nós, mas, não é, e há várias actividades da nossa vida que envolvem o desempenho da Inteligência Artificial — a utilização dos telemóveis, o robot de cozinha, o corretor ortográfico, as plataformas streaming, o gps, os tradutores automáticos, a banca digital, os transportes, as luzes automaticas, os alarmes, e muito mais; os jovens utilizam-na diariamente, nos milhares de jogos electrónicos.A ciência e a tecnologia unem-se para dar continuidade a algo iniciado há 80 anos, que vai invadindo a nossa vida e alterando a estrutura da vida atual, na saúde, educação, desporto, robótica, economia, trabalho, agricultura e diversão.
Se a Inteligência Artificial está cada vez mais presente na nossa vida, deveremos reflectir sobre ela, tentando encontrar, os benefícios e os constrangimentos, daí resultantes.
A ideia de que as máquinas seriam utilizadas para poupar o esforço humano, idealizando a sociedade perfeita para todos os seres humanos, mais justa, menos violenta, com o andar dos tempos, sabemos que nada disto acontece. Acontece e não acontece. De facto a máquina alterou completamente o mundo laboral, mas para benefício só de alguns. A ilusão de que os trabalhadores iriam trabalhar menos e ganhar mais, não passa de uma verdadeira utopia.
Actualmente as grandes preocupações com a Inteligência Artificial, ligam-se com a instabilidade laboral, com a diminuição dos pontos de trabalho, a diminuição do poder de compra das famílias e o aumento da pobreza a nível mundial. Certamente irão surgir novas profissões e novas oportunidades de trabalho para quem estiver preparado para este tipo de desafios, o que cria logo à partida uma desigualdade de oportunidades, porque uns estão preparados e outros não. Lembro que vivemos na charneira entre o mundo analógico e o digital e nem todos estarão enquadrados para estes novos desafios.
O desenvolvimento tecnológico e o progresso socio- económico estão cada vez mais interligados e ditam os caminhos do futuro, quer agrade ou não. E como vai ser o futuro?
Sabemos que no futuro e até já no presente, a formação será constante e ao longo da vida… Ninguém pense que em algum momento da vida, não necessita aprender mais. Os pessimistas pensam que a Inteligência Artificial acabará com várias profissões, gerando desemprego e pobreza, os optimistas pensam que a sociedade terá capacidade em reagir, renovando-se com outras profissões. O grande problema é como se gere esta “revolução” e quem a gere. Será uma entidade ou várias entidades inatingíveis, incontroláveis, distantes e impessoais? Uma coisa é certa, a ignorância sempre afectará as pessoas, pela negativa e as deixará para trás. Preparem-se para os novos paradigmas!
Resta o temor de alguns humanos:
— O que acontecerá quando um dia uma máquina replicar ou ultrapassar a inteligência humana?
Faz-me lembrar os criadores do Pinóquio, do Frankenstein e ainda a lenda de Golém…
Talvez eu seja limitada, mas parece-me esta situação impossível, por considerar o pensamento humano insuperável, já que este é bem mais do que uma sucessão de algoritmos. A nossa mente não é um computador, mas considerando essa hipótese, teremos que repensar a nossa posição no universo ou reduzir-nos à nossa insignificância.
Os teóricos da Inteligência Artificial continuam a pesquisar sobre a possibilidade de o pensamento humano poder ser integralmente mecanizado, unindo diversas áreas do conhecimento: filosofia, matemática, antropologia, linguística, psicologia, informática. Prepara-se o duelo entre titãs, os filósofos e os cientistas.
Publicado em NVR 3/11/2020
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