Voz: Anabela Quelhas
file:///E:/radio/audio/24%20-%20Pastelaria%20-%20M%C3%A1rio%20Cezariny.mp3
Muitas cidades possuem
uma estátua, que personifica e dá imagem a um aglomerado urbano, já que este se
forma tal como os homens organizam as suas cidades, oscilando entre o desenho
orgânico das cidades medievais, ou planeado com desenho pensado relacionando
forma/função com racionalidade e exigências das cidades novas. Nos dois casos a
essência desse aglomerado é sempre algo abstracto e com dimensão gigante. Não
se pode abraçar, beijar, acariciar ou apunhalar as cidades, porque estas acções
implicam um interlocutor humanizado, e a disposição de ruas e edifícios, é algo
que existe numa grande escala e a sua história perde-se na espiral do tempo.
A
estatuária é algo imaginado pelo Homem como testemunha que pára o tempo e passa
a integrar a identidade de um grupo de pessoas, publicita eventos,
personalidades e preserva memórias, ou até emite sinais de engrandecimento por
forma a motivar o orgulho e a determinação do observador, para grandes feitos.
No século XVIII, Vila Real,
assim como noutras cidades, fez nascer o seu espaço público com alguma visibilidade,
refiro-me ao Campo do Tabulado - lugar público por excelência, passeio público,
de passagem obrigatória, com vida social activa, onde se realizavam os grandes
eventos da época, a feira de Santo António, corridas de cavalos e de touros e
os festejos nos dias das procissões – e o desejo de enriquecer esteticamente este
espaço, associou a arquitectura e a escultura, utilizando modelos clássicos
para esculpir na pedra e incluindo pormenores que ajudassem a contar uma
história.
Vila Real também possui
a sua estátua – tema a que me limito a partilhar informação, porque não
descobri nada de novo. (escarpasdocorgo.blogspot.com e revista TELLUS)
Seguindo a cronologia:
- “A Câmara de Vila Real deliberou
fazer esta estátua em 1749.”
- “A elaboração da escultura,
simbolizando Vila Real, foi arrematada em 3 de Setembro de 1755, por António de
Nogueira, mestre estatuário, do Minho.”
- “A 27 de Novembro de 1755, o mestre
Matias Lourenço de Matos arrematou a obra de decoração dos arcos da galeria, no
Campo do Tabulado, com a edificação de um soco e uma peanha sobre qual
colocaram uma estátua, com a imagem de uma mulher, vestida de guerreiro, com
elmo e empunhando uma lança e escudo.”
- “No pedestal da estátua havia uma
inscrição que dizia: "O nome de Vila Real que tenho conquistei-o com
grande esforço. Não queiras títulos reais obtidos de outra forma". Texto
original inscrito no pedestal da estátua: "QUOD REGALE NOMEN GERO MIHI
RUBORE PARTU EST REGIA NOM ALITER NOMINA PARTA GERAS"
- “Em Novembro de 1884, a estátua foi
apeada e demolidos os arcos para a construção do mercado fechado, inaugurado em
1885. As armas reais e a legenda, esculpidas no pedestal desapareceram, sendo
desfeitos para calcetamentos.” (cometem-se erros e destrói-se património em
todas as épocas)
- “No ano de 1894, transferiram-na
para a fonte, no Jardim da Carreira.”
- “Em 1916, foi retirada e levada
para os Paços do Concelho, sendo colocada sobre a fachada.”
Saber-se que foi
encomendada pela Câmara de Vila Real, e que se expôs em espaço urbano público,
de forma permanente ou efémera, com visibilidade para com os cidadãos,
confere-lhe um grau de representatividade dinâmica e interactiva com as pessoas
e um estatuto de escultura pública com significado. Esta escultura assume assim
um diálogo aberto entre o objecto artístico e o cidadão, e que esteve,
provavelmente, mais próximo das pessoas do que agora.
Hoje encima o edifício
da Câmara de Municipal, talvez não haja espaço mais nobre, mas quem olha para
ela? Sinto-a afastada dos vila-realenses, e a prova disso é a sua
secundarização relativamente ao Aleu ou ao Pelourinho. Seria motivo para um
investimento numa análise dessa peça, e a forma de a preservar, pois como
mencionei anteriormente, apenas nos chega a informação sobre o autor, como
característica “imagem de uma mulher, vestida de guerreiro, com elmo e
empunhando uma lança e escudo” e a ausência da inscrição do seu pedestal que
desapareceu “O nome de Vila Real que tenho conquistei-o com grande esforço. Não
queiras títulos reais obtidos de outra forma". Faltam elementos que a
liguem a esta cidade.
À vista desarmada
parece uma estátua em degradação pelos agentes atmosféricos e pelo maus tratos
sofridos anteriormente, não sendo possível visualizar pormenores. Penso que ao
fazer 270 anos, e em ano em que se comemora o centenário de Vila Real, como
cidade, chegou a hora de realizar 3 procedimentos;
1 – Retirá-la para o interior da
Câmara Municipal, conservá-la como peça museológica, protegida dos agentes
atmosféricos, para que as próximas gerações a possam contemplar.
2 – Fazer uma cópia substituta para
colocar no seu lugar (assim se faz nas outras cidades).
3 – Promover o conhecimento deste
símbolo de identidade e ousar em criar uma nova “Vila Real” com a linguagem
escultórica do século XXI, a localizar em espaço próximo dos utentes. E não receiem
as novas linguagens artísticas e materiais, não tenham medo da polémica: O amor
ou o odio, são sempre preferíveis à indiferença, e é bom que os cidadãos se
ocupem a dialogar sobre os seus símbolos, pois assim se promove a Educação
Cultural.
Publicado em NVR 15|01|2025
“O Porto” escultura é da autoria do escultor João de Sousa Alão e do mestre pedreiro João da Silva, a quem foi encomendada em 1818, e é símbolo do poder municipal. Custou trezentos e quarenta três mil e duzentos reis (343$200).
“o Porto” não é mais do que um guerreiro que ostenta uma couraça que lhe cobre o peito e a parte das costas, à cintura tem um gládio (espada de dois gumes), segura na mão direita uma longa lança e a mão esquerda pousa num escudo, colocado ao alto, mostrando as armas do Porto e a inscrição de Portus Cale. Tem a cabeça coberta com um elmo (capacete militar), encimado por um dragão. O guerreiro está envolto numa capa traçada e usa um saiote, acima dos joelhos. É esta a representação da cidade: um guerreiro, um defensor da urbe!
Este símbolo da cidade do Porto
é, com certeza, o herdeiro de uma outra velha estátua, conhecida como “O Porto
primitivo”, uma pedra talhada de forma muito rude e tosca, talvez um
alto-relevo, referenciada documentalmente, desde 1293, que esteve na rua das
Eiras (próxima da Sé) e, mais tarde, em 1503, citada num documento publicado
por Magalhães Basto, em que se indica que essa pedra se encontrava nos Açougues
da rua Francisca, no velho e desaparecido quarteirão medieval, que existiu em
frente à Sé, onde a estátua foi colocada sobre o portal de entrada dos Açougues
(local de abastecimento de carne), demolidos para a abertura da então designada
Praça da Penaventosa, hoje Largo Dr. Pedro Vitorino.
https://etcetaljornal.pt/j/2019/06/o-porto-a-estatua-que-simboliza-a-cidade/
LOCALIZAÇÃO: Já esteve em vários sítios:
- Frontaria do antigo edifício dos Paços do Concelho, na Praça Nova
- Muralha Fernandina
- Palácio de Cristal
- Paço Episcopal
- O arquitecto Fernando Távora colocou “O Porto”, de costas
viradas para a cidade, no Terreiro da Sé, aquando da reconstrução do edifício
conhecido como Casa dos 24.
- Praça da Liberdade, em frente ao edifício do Banco de Portugal.
A reinstalação da estátua d’O Porto na Antiga Casa da Câmara, decorre esta quarta-feira, às 16h, no Terreiro da Sé.
“O regresso da mais antiga estátua do Porto à Antiga Casa da
Câmara marca a restituição deste símbolo maior à sua cidade, pondo termo a uma
errância, e devolve a integridade ao projeto do Arquiteto Fernando Távora. É
uma notícia duplamente feliz para o Museu do Porto e, sobretudo, para a
cidade”, sublinha Jorge Sobrado, Diretor do Museu e Bibliotecas do Porto. Janeiro 2024
O significado da cor salmão relaciona-se com o carinho ou
amor pelo visual natural. É uma cor amigável e acessível que chama a atenção e
é sutil ao mesmo tempo. Produz um efeito na percepção e no comportamento humano
e pode estimular o apetite.