Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.
Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.
Mas fizemos de ti a prova da riqueza,
E também da pobreza, e da fome outra vez.
E pusemos em ti sei lá bem que desejo
De mais alto que nós, e melhor e mais puro.
No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.
Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,
Só a fome, astronauta, só a fome,
E são brinquedos as bombas de napalme.
(In OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição)
José Saramago
Mas porque isto tem que acontecer?
"Os brinquedos são as bombas de napalme"...A fome...A sede...A miséria...
ResponderEliminarDe quem é a culpa?
Convence-te, é da vida? Da vida, da miséria da vida que não merecem, da pureza de um poema por escrever, que não consigo escrever porque não nos nos merecem que se escreva nada.
O seu choro será sempre o meu choro.
Sei que não vai ajudá-las em nada, mas exprime o que não devia existir. O que não devia acontecer. Jamais!
Um bem-haja solidário a todos os injustiçados, sofredores por uma causa, qualquer que seja.
Que poema escrever? Que dizer?
Nada. Só um nada. Nada mais!